A Mulher da Fila (2025) - crítica do filme argentino na Netflix A Mulher da Fila (2025) - crítica do filme argentino na Netflix

A Mulher da Fila (2025) | Crítica do Filme | Netflix

O novo filme argentino A Mulher da Fila (La Mujer de la Fila), dirigido por Benjamín Ávila, chega à Netflix nesta sexta-feira, 31 de outubro de 2025, com Natalia Oreiro à frente de uma história inspirada em fatos reais. O longa acompanha a trajetória de Andrea Casamento, uma mãe que transforma a prisão do filho em uma jornada de autodescoberta e ativismo. A produção une o drama íntimo à denúncia social, explorando a forma como o sistema penal reverbera para além dos muros da prisão.

A história real por trás do filme A Mulher da Fila

Baseado na vida de Andrea Casamento — fundadora da Associação Civil de Famílias de Detidos (ACIFAD) —, o filme mostra como uma tragédia pessoal pode se tornar o ponto de partida para uma luta coletiva. A personagem de Oreiro, uma viúva de classe média com três filhos, vê sua rotina ruir após a prisão do primogênito, Matías (Federico Heinrich), acusado de participar de um assalto à mão armada.

O roteiro de Ávila e Marcelo Muller reconstrói esse colapso emocional com olhar humano e direto. Sem recorrer a distanciamento narrativo, a câmera acompanha Andrea em cada etapa de seu percurso — do tribunal à fila da penitenciária —, enfatizando a solidão e o peso da espera. A fila, que dá nome ao filme, simboliza mais do que o ritual semanal de visitas: representa a extensão da pena imposta a todos que convivem com a dor do encarceramento.

O retrato de uma mulher comum em circunstâncias extremas

A força de A Mulher da Fila está no foco ininterrupto sobre a protagonista. Andrea não é uma heroína clássica nem uma militante por vocação. O filme a apresenta como uma mulher em choque, que aos poucos aprende a enfrentar um sistema burocrático e impiedoso. O vínculo que ela desenvolve com outras mulheres na mesma situação — especialmente La Veintidós (Amparo Noguera), personagem inspirada em histórias reais — transforma o desespero em solidariedade.

Há também espaço para o conflito interno e para a ambiguidade: Andrea se aproxima de Alejo (Alberto Ammann), um preso ligado ao caso de seu filho, num gesto que desafia o julgamento social. Essa subtrama, embora pontual, expõe como o contato com o universo carcerário muda a percepção da protagonista sobre culpa, perdão e humanidade.

Natalia Oreiro e o poder da contenção

Natalia Oreiro sustenta o filme com uma atuação contida e precisa. Sem recorrer a discursos ou explosões emocionais, ela expressa a devastação e a resiliência de Andrea por meio de gestos e silêncios. A interpretação adquire ainda mais força por estar ancorada em rostos e vozes de mulheres reais que aparecem em cena, reforçando o caráter documental da narrativa.

O elenco de apoio amplia o escopo emocional da obra. Amparo Noguera oferece um contraponto de energia e vitalidade à dor da protagonista, enquanto Alberto Ammann traz complexidade ao preso que se torna um inesperado elo de empatia. A fotografia de Sérgio Armstrong aposta em tons sóbrios e planos próximos, reforçando o realismo da proposta.

O olhar de Benjamín Ávila sobre o sistema penal

Benjamín Ávila, conhecido por Infância Clandestina (2012), utiliza uma linguagem que mescla ficção e realidade. Ele incorpora ao roteiro depoimentos de mães e familiares de presos que participam das cenas da fila, rompendo o artifício cinematográfico e aproximando o público da experiência coletiva. A decisão cria uma ponte entre o drama de Andrea e a realidade de centenas de mulheres que continuam vivendo o mesmo ritual.

A Mulher da Fila (2025) - crítica do filme argentino na Netflix

Ao final, o filme se afasta de qualquer moralismo. Em vez de oferecer respostas, mostra o quanto a punição se espalha socialmente, atingindo inocentes e perpetuando um ciclo de exclusão. A prisão não se limita ao espaço físico — ela contamina o cotidiano, os vínculos e a autoestima de quem espera do lado de fora.

Crítica: vale à pena assistir A Mulher da Fila na Netflix?

Um retrato social através da experiência íntima

A Mulher da Fila se destaca por transformar uma história pessoal em reflexão coletiva sobre o sistema carcerário e suas ramificações sociais. A direção de Ávila equilibra sensibilidade e rigor político, enquanto Oreiro entrega um dos papéis mais densos de sua carreira.

Ao som de “Canción de simples cosas”, interpretada pela própria atriz nos créditos finais, o filme encerra com imagens reais das mulheres que inspiraram a obra — uma escolha que reafirma seu compromisso com a memória e a denúncia.

Disponível na Netflix, A Mulher da Fila é um dos títulos mais significativos do cinema argentino recente, oferecendo um olhar contundente sobre as marcas invisíveis deixadas pela prisão e sobre a capacidade humana de resistir em meio à perda.