A Hora do Mal (Weapons, 2025) - Crítica do filme dirigido por Zach Cregger A Hora do Mal (Weapons, 2025) - Crítica do filme dirigido por Zach Cregger

A Hora do Mal (Weapons, 2025) | Crítica do filme

Após o sucesso de Noites Brutais (2022), o roteirista e diretor Zach Cregger retorna ao gênero com A Hora do Mal (Weapons), um filme que mistura terror psicológico, drama e elementos de mistério para construir um mosaico de personagens e situações interligadas. Ambientado na fictícia cidade de Maybrook, o longa aposta em uma narrativa fragmentada, composta por vinhetas que se cruzam, mantendo o público em constante tensão. Leia a nossa crítica.

Com atuações de Josh Brolin, Julia Garner, Alden Ehrenreich, Austin Abrams e Benedict Wong, o filme constrói um suspense crescente a partir de um acontecimento perturbador: o desaparecimento misterioso de quase todas as crianças de uma turma da terceira série.

A premissa central: um mistério que envolve toda a cidade

A história começa um mês após um evento inexplicável que abalou Maybrook. Em uma madrugada qualquer, 17 crianças de uma mesma sala de aula saíram de suas casas e desapareceram sem deixar rastros. O único aluno que permaneceu foi Alex Lilly (Cary Christopher), cuja sobrevivência levanta ainda mais questionamentos.

As autoridades têm apenas registros das câmeras de segurança das residências, que mostram as crianças correndo pelas ruas em silêncio, com os braços estendidos ao lado do corpo, em uma imagem inquietante e desconcertante. Sem sinais de sequestro ou coordenação, a tragédia mergulha a comunidade em paranoia e desconfiança.

Nesse cenário, a professora Justine Gandy (Julia Garner) se torna alvo de olhares acusatórios. Enfrentando um histórico problemático e um vício em álcool, Justine decide investigar por conta própria o que aconteceu com seus alunos. Sua trajetória se entrelaça com a de Archer Graff (Josh Brolin), pai de um dos desaparecidos, e com a de Paul (Alden Ehrenreich), policial local e ex-namorado de Justine, além de outros personagens que ajudam a compor o quebra-cabeça.

Julia Garner e Josh Brolin em A Hora do Mal (2025)
Créditos da imagem: divulgação

Estrutura fragmentada e múltiplas perspectivas

Seguindo um modelo que remete a obras como Magnólia e Pulp Fiction, A Hora do Mal é dividido em capítulos independentes, mas interligados, cada um focando em um personagem específico. Essa estrutura permite que a narrativa seja construída de forma gradual, revelando diferentes pontos de vista sobre os mesmos acontecimentos.

Além de Justine, Archer e Paul, o filme acompanha figuras como Marcus (Benedict Wong), diretor da escola, e James (Austin Abrams), um jovem viciado em metanfetamina. Cada um carrega seus próprios segredos e conflitos, e as histórias se conectam de maneira orgânica até convergirem em um clímax inesperado.

O uso de vinhetas também contribui para criar um clima de incerteza. Assim como em Barbarian, Cregger alterna protagonistas e muda constantemente a direção da trama, mantendo o espectador em dúvida sobre o que vai acontecer a seguir. Essa estratégia amplia a sensação de desconforto e reforça a atmosfera opressiva do longa.

Terror, paranoia e crítica social: os temas de A Hora do Mal

Embora seja um filme de terror, A Hora do Mal trabalha com elementos que vão além dos sustos tradicionais. Ao explorar o impacto do desaparecimento das crianças, Cregger insere na narrativa um retrato de medos contemporâneos: violência, desconfiança institucional e fragilidade da segurança suburbana.

O longa sugere paralelos com tragédias reais, como ataques a escolas e falhas nos sistemas de proteção, mas evita abordá-las de maneira direta. A metáfora mais impactante surge em uma cena simbólica na qual um gigantesco fuzil de assalto aparece lentamente no céu sobre a casa de uma das crianças desaparecidas, refletindo o peso da violência armada na cultura norte-americana.

Além disso, a atmosfera paranoica é um dos elementos centrais. Pais, professores e autoridades locais se tornam reféns do medo e da desinformação, refletindo um clima social no qual teorias conspiratórias e desconfiança mútua se espalham com facilidade.

A Hora do Mal: personagens complexos e atuações marcantes

O elenco de A Hora do Mal contribui para dar profundidade à narrativa. Julia Garner constrói uma Justine vulnerável, mas determinada, enquanto Josh Brolin interpreta Archer com intensidade, retratando um pai dilacerado pela perda. Alden Ehrenreich traz camadas ao policial Paul, que se vê dividido entre a função profissional e os laços pessoais.

Entretanto, é o jovem Alex Lilly quem se torna peça-chave da trama. Como único aluno que não desapareceu, sua jornada pessoal revela elementos centrais para a compreensão do mistério. Ao contrário de outros personagens, Alex passa por uma transformação significativa, e sua presença conecta os diferentes núcleos da narrativa.

Claro que não podemos deixar de fora uma menção à marcante colaboração de Amy Madigan como a espalhafatosa e assustadora Tia Gladys, uma marcante personagem certamente renderá pedidos por alguma nova aparição (ainda que em alguma prequel de A Hora do Mal).

Tia Gladys - a figura mais sinistra de A Hora do Mal
Créditos da imagem: divulgação

Mistério e revelações no ato final de Weapons

Seguindo a tradição de Noites Brutais, Zach Cregger conduz o público por um caminho repleto de perguntas e pistas fragmentadas, guardando as principais respostas para o ato final. As revelações chegam de forma impactante, amarrando as linhas narrativas e oferecendo explicações para o destino das crianças e os segredos de Maybrook.

Ainda assim, o filme opta por não explicar tudo. Algumas questões permanecem abertas, reforçando o clima de estranheza e o desconforto que acompanha o espectador mesmo após os créditos. Essa escolha narrativa intensifica o caráter inquietante da obra e potencializa sua discussão para além da sala de cinema.

Crítica: A Hora do Mal (Weapons, 2025) é bom?

A Hora do Mal confirma Zach Cregger como um dos nomes mais relevantes do terror contemporâneo. Com uma estrutura ousada, o diretor combina elementos de mistério, drama e crítica social, criando uma experiência cinematográfica que provoca e instiga.

Mais do que um filme sobre desaparecimentos inexplicáveis, o longa aborda medos coletivos e a sensação de que a segurança doméstica pode ser apenas uma ilusão. Entre vinhetas conectadas, personagens complexos e um desfecho revelador, Weapons consolida a habilidade de Cregger em manter o público em constante estado de tensão.