A História Distorcida de Amanda Knox A História Distorcida de Amanda Knox

A História Distorcida de Amanda Knox | Crítica da Série | Disney+

A minissérie A História Distorcida de Amanda Knox (The Twisted Tale of Amanda Knox) chega ao Disney+ como uma releitura ficcionalizada de um caso real que, quase duas décadas depois, ainda provoca debate. Em oito episódios, a produção volta a mapear a trajetória de Amanda Knox — desde a estudante americana em intercâmbio em Perugia até a acusação, condenação e subsequente absolvição — e tenta demonstrar como falhas judiciais, preconceitos midiáticos e investigações conturbadas convergiram para produzir uma tragédia pública. Confira a crítica:

A História Distorcida de Amanda Knox

Falhas no processo

Do ponto de vista narrativo, a série assume um objetivo claro: expor as falhas do processo que transformaram Knox em um símbolo — “Foxy Knoxy” — antes mesmo de uma conclusão definitiva dos fatos. A roteirista KJ Steinberg organiza a cronologia do caso com atenção aos momentos-chave: o erro na estimativa da hora da morte, os interrogatórios controversos, e os lapsos de interpretação que permearam depoimentos e evidências. A dramatização busca mostrar como a mecânica do poder judiciário e a voracidade da imprensa podem corroer o direito à presunção de inocência.

No elenco, Grace Van Patten entrega a atuação mais consistente. Sua interpretação de Amanda percorre fases distintas: a jovem despreocupada que chega à Itália, a presa confusa durante os interrogatórios e a mulher marcada pelo processo e pela exposição pública. O desempenho acrescenta camadas à personagem quando o roteiro, por vezes, se limita ao brilho sensacionalista do caso. Sharon Horgan e Francesco Acquaroli também se destacam — ele no papel do promotor Giuliano Mignini, aqui humanizado como alguém movido por um senso de dever que se transforma em obstinação.

Entre os acertos, há episódios que oferecem abordagens visuais inventivas, sobretudo na sequência em que Knox retorna aos Estados Unidos e precisa reaprender a viver em liberdade. Esses momentos conseguem traduzir, em imagens, o impacto psicológico da experiência, indo além da simples reconstituição factual. Ainda assim, a série tropeça em escolhas episódicas repetitivas e em aberturas estilizadas que soam deslocadas diante do drama central. A opção por concentrar a narrativa quase exclusivamente em Amanda também limita o recorte: personagens como Meredith Kercher aparecem pouco, e figuras centrais ao crime — como Rudy Guede ou Raffaele Sollecito — ganham menos profundidade do que seria necessário para uma visão multifacetada.

Outro ponto sensível é a ausência de envolvimento da família de Meredith Kercher na produção. A série reconhece o sofrimento da família, mas a decisão editorial de contar a história sem sua participação levanta questões éticas sobre quem tem autoridade para narrar tragédias reais.

A História Distorcida de Amanda Knox

Crítica: vale à pena assistir A História Distorcida de Amanda Knox no Disney+?

No balanço final, A História Distorcida de Amanda Knox funciona como um alerta: recontar casos de true crime pode servir a um propósito social importante — frear abusos institucionais —, mas não garante, automaticamente, que a versão apresentada aprofunde ou esclareça tudo o que já se sabe. A minissérie cumpre a função de reavivar a discussão sobre erro judiciário e mídia sensacionalista, apoiada por atuações sólidas, mesmo quando a execução dramática nem sempre alcança a complexidade do caso original.