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A História Delas acerta em quase tudo

Disponível no catálogo da Star+, A História Delas é uma dessas séries nacionais que podem acabar passando desapercebidas pelo grande público, tanto pela resistência desses espectadores a produções locais quanto por não estar na principal rede de streaming da atualidade (aquela da cor vermelha).

Mas o programa merece uma chance. A trama acompanha a ex-babá e agora dona do próprio negócio Marta (Cris Vianna), que é obrigada a hospedar em sua casa a ex-patroa Isabel (Letícia Spiller) e sua filha Ana Rosa (Bia Arantes), por conta de uma decisão judicial ligada à prisão do marido de Isabel. Logo de cara, há muita resistência de Ana Jasmin (Ema Araújo), filha de Marta, em receber essas pessoas que até então pertenciam a um passado que ela preferia esquecer.

A série consegue prender atenção logo de cara devido à sua premissa, que, mesmo forçando a barra na construção de um cenário inesperado (a ex-patroa é obrigada a se hospedar na casa da antiga funcionária por conta do imóvel estar em seu nome), é interessante ver todo o potencial destrutivo da burocracia de um país como o nosso –  repleto de desigualdade e com a especulação imobiliária a plenos vapores – pode ser usado para contar uma história agradável.

O conflito de classes, no entanto, é apenas para promover uma desavença inicial entre as personagens, sendo assim um caminho para o desenvolvimento de cada uma das mulheres da trama. É na convivência profunda entre elas que o pau vai quebrar de fato: é no cuidar das crianças, no perrengue financeiro, na ausência masculina e também na negligência patrimonial que elas montam sua arena de batalha de cada dia. Em suma, mesmo que briguem entre si, temos em tela personagens que buscam se reconhecer como pessoas dignas dentro de um sistema que as empurra para baixo.

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A História Delas: feminista ou identitária?

Um aspecto que pode fazer o espectador amar ou odiar A História Delas é seu viés representativo. Aqui, a cartilha é usada à risca, então temos uma narrativa que enaltece as mulheres de forma bastante inclusiva, seja na identidade de gênero ou na sexualidade. Uns vão achar forçado as falas mais empoderadas na boca da carismática advogada de Marta e Isabel (Ernaní, uma mulher trans interpretada por Tenca Silva), já outros vão se sentir incluídos e agraciados pelo espaço LGBTQIAP+ dentro de uma produção para o streaming Star+. O fato é que cada escolha funciona muito bem dentro da proposta do show.

Mas eu convido o leitor para um passo além. A força da série está principalmente nas duas veteranas, Vianna e Spiller, que brilham em seus papéis e possuem um desenvolvimento para além do óbvio, mesmo em meio ao emaranhado de clichês e pautas revisitadas que a série oferta. Assistir aos oito episódios de A História Delas é como acompanhar uma boa novela, mas sem a necessidades de meses em frente à telinha para conferir seu desfecho.