O texto a seguir é um desabafo com toques de saudosismo. Se você estiver no mesmo estado de espírito que o meu, seja bem-vindo. Mas se quiser algo um pouco mais animador, fique a vontade para navegar pelos outros conteúdos do site.
Gosto de ir ao cinema, me sinto bem lá. Seja para fazer algum review ou simplesmente para um curtir um programa sozinho ou em família. Tento colocar na minha cabeça que não sou viciado, mas vou desistindo com o passar do tempo. Tem um charme quase místico numa sala de cinema. Seja ela grande, pequena, com IMAX 3D ou não. Em tempos onde a correria nos consome, gosto de usar aquelas horas para respirar um pouco. É como um tratamento que, aposto eu, nenhum médico vai indicar. Uma dose de suspensão de realidade, olhar pela janela desse transporte quase imparável.
As pessoas gostam de ir ao cinema, já percebi isso. Blockbusters, adaptações de livros, comédias, romances, terror e etc. Todos tem um motivo para estar lá. E eu estou lá também, como o denominador comum de toda essa equação. Observando quem entra na sala. Talvez eu seja louco, mas gosto de analisar as pessoas também. Ver como elas reagem a uma cena mais tensa ou mais leve. Como se deixam levar pelo filme ou quando não estão ligando muito para a película em questão. E principalmente como não entendem o grande ensinamento que uma sala de cinema tem a oferecer.
Gostava de assistir filmes com o meu pai. De ir na locadora no fim de semana e pegar uns 4 DVD’s (VHS também). A família toda se divertia, pipoca e refrigerante. E eu gostava de olhar para ele enquanto o filme estava passando. Engraçado, não lembro de ir muito ao cinema com o meu pai. Nesse momento, sei que devo ter deixado alguma lição importante passar. Algum diálogo que não floresceu. Embora eu o observasse, não enxergava a coisa da maneira certa. Muitas coisas na cabeça, pelo menos o quanto a cabeça de uma criança aguentava suportar. Poderia ter aprendido isso antes, mas deixei que a vida me ensinasse. Ou o cinema nesse caso específico.
Me lembro agora de estar sentado, esperando Garota Exemplar começar. Um senhor entra na sala, com um olhar perdido (ou admirado). Senta perto de mim e puxa assunto. Diz que tinha feito sua primeira viagem de metrô e que havia descido ali para conhecer o cinema. Ele era um belo exemplo de como a lição funciona, mas escolhi ignorar tudo aquilo. Pensei comigo mesmo que aquele não era o filme mais indicado. Muito pesado, com plot twists e tudo mais. Marquei o assento dele e olhava para lá de vez em quando. Com o mesmo olhar perdido (tá bom, admirado), ele parecia curtir tudo aquilo mais do que todo mundo lá. Mais do que eu. Voltei para casa não pensando no filme, mas na aula que eu já havia assistido e fez questão de esquecer.
Passei por outras situações antes e depois dessa. Mas sempre me pego pensando naquele olhar admirado (agora ficou melhor). Já não enxergamos mais as cores que nos cercam. E isso é estranho. A correria já faz parte da nossa sociedade, sempre saindo de A para B sem se admirar com o caminho. E nas minhas observações vejo isso aumentando. Celulares tocando, flashs de câmera e tudo mais. A tal lição da sala de cinema parece estar sendo esquecida.
Por isso, se você chegou até aqui, vou te dar um presente. Vou te contar o que os cinemas da vida me ensinaram. “Aproveite as pequenas coisas. Desacelere um pouco e olhe tudo que te envolve. Olhe o brilho nos olhos das pessoas, sinta a brisa no rosto. Encoste sua cabeça na poltrona do cinema, aproveite o filme e não pense mais em nada. As coisas já passam rápido demais para você ainda viver correndo”.
Vá ao cinema ou monte sua própria exibição. Sozinho, com os amigos ou familiares. Deixe que os problemas, pelo menos por duas horas, sejam fictícios como o filme que está passando. E me desculpe pelo tamanho do texto e a ausência de imagens. É que uma lição assim deve ser aprendida na marra.