A mais recente produção coreana da Netflix, A Grande Inundação (The Great Flood, 2025), deixa claro desde os primeiros minutos que não pretende seguir o caminho mais previsível dos filmes-catástrofe. Com direção e roteiro de Byung-woo Kim, o longa busca expandir os limites do gênero ao incorporar elementos de ficção científica e suspense psicológico a uma narrativa de sobrevivência em meio a um evento climático extremo. A intenção é clara: ir além do espetáculo visual e propor reflexões mais amplas. O resultado, no entanto, divide atenção e impacto.
Ambientado em um cenário dominado pela água, o filme acompanha personagens presos em situações de risco constante, onde cada decisão pode significar vida ou morte. Na primeira metade, A Grande Inundação funciona com eficiência como thriller de sobrevivência. As sequências de quase afogamento, espaços confinados e estruturas instáveis criam tensão contínua, apoiadas por efeitos visuais consistentes e uma condução segura das cenas de ação. Kim demonstra domínio técnico ao explorar o medo primário da submersão e da perda de controle.
É justamente nesse trecho inicial que o filme encontra seu melhor equilíbrio. O espectador se envolve emocionalmente com o destino dos personagens e reage de forma direta ao perigo apresentado. A narrativa é objetiva, ainda que não convencional, e mantém o ritmo necessário para sustentar a urgência do desastre.
O problema surge quando o longa decide ampliar seu escopo. Na segunda metade, A Grande Inundação passa a investir em conceitos mais abstratos, deslocando o foco da sobrevivência imediata para ideias ligadas à ciência, percepção da realidade e estrutura narrativa. A mudança é brusca e compromete a coesão do conjunto. O que antes era tensão física se transforma em um exercício mais cerebral, exigindo do público um esforço constante para acompanhar regras e explicações pouco claras.
Essa transição enfraquece o impacto emocional construído até então. A ambição de dialogar com obras de ficção científica mais reflexivas acaba resultando em excesso de informação e repetição temática. Em vez de aprofundar seus conceitos, o filme parece se perder neles, criando uma sensação de confusão mais do que de complexidade.

Crítica: vale à pena assistir A Grande Inundação na Netflix?
Há uma diferença clara entre uma narrativa densa e uma narrativa sobrecarregada, e A Grande Inundação frequentemente cruza essa linha. Embora a proposta seja instigante e o risco criativo seja evidente, o roteiro não consegue integrar plenamente suas duas metades. O resultado é um filme que impressiona em momentos pontuais, mas que deixa a sensação de um potencial não totalmente realizado.
Como experiência, trata-se de um projeto ambicioso que certamente chamará a atenção de quem busca algo além do padrão do gênero. Ainda assim, o excesso conceitual acaba diluindo a força do desastre que, paradoxalmente, deveria ser o centro da história.