“Não se trata de dinheiro e sim de poder”. Essa poderia ser facilmente mais uma frase proferida por Frank Underwood em House of Cards. Mas é uma fala de Clara para seu marido Elias em A Floresta Que Se Move, novo filme do arrojado diretor Vinícius Coimbra. Inspirado na clássica obra Macbeth, o longa tentar dar uma visão atualizada ao texto de Shakespeare.
Na trama de A Floresta que se Move, Elias (Gabriel Braga Nunes) é um executivo bem-sucedido que trabalha em um dos maiores bancos privados do Brasil. Na volta de uma viagem de negócios, chegando ao trabalho com o colega e amigo César (Ângelo Antônio), Elias se depara com uma misteriosa bordadeira (Juliana Carneiro da Cunha), que anuncia: ele vai se tornar vice-presidente do banco ainda naquele dia e presidente no dia seguinte. Impressionado com a revelação, Elias conta a história a sua linda e ambiciosa mulher Clara (Ana Paula Arósio), que passa a insuflar no marido a ganância e a sede de poder. Logo o casal é consumido por uma onda de assassinatos que leva a um caminho sem saída.
Mas adaptar Shakespeare, mesmo que dando uma nova leitura, é algo realmente complicado. Vinícius Coimbra se esforça, mas acaba deixando faltar algo. Depois de um grande trabalho na releitura de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, obra de Guimarães Rosa, o diretor esbarra aqui em um grande obstáculo.
A discussões sobre poder, honra e soberba soam um tanto quanto artificiais. A trama original nos coloca em uma situação de ambiguidade moral, onde ninguém é preto no branco. O filme prefere definir bem quem são os vilões e os mocinhos. Isso tira do público uma disputa interna sobre qual lado escolher e entrega um forma de apenas presenciar o desenrolar da trama. A intensão de se manter um clima sobrecarregado acaba funcionando como o calcanhar de Aquiles. A curta duração acaba não permitindo um melhor desenvolvimento do roteiro e dos personagens centrais.
O elenco ajuda, mesmo que as atuações não sejam brilhantes. Gabriel Braga Nunes não consegue tirar sua expressão de culpado do rosto, o que torna a vida da polícia um pouco mais fácil. Não é a toa que a maioria de seus personagens não são flores que se cheirem, já que o ator tem um ar de maldade “natural”. Ana Paula Arósio retorna aos holofotes. Sua versão de Lady Macbeth parece ser o porto seguro de Elias, mas entra numa espiral de auto-destruição repentina que a coloca como um peso para o marido em sua busca de se livrar da justiça divina e dos homens. Ângelo Antônio e Nelson Xavier conseguem se manter naturais diante de situações um pouco forçadas.
Vinícius Coimbra acerta a mão justamente quando decide se desapegar do material base e investir um pouco mais na fantasia. A cena do banho de sangue e a presença das formigas (principalmente na sequência final) conseguem ser metáforas atuais e dão uma pitada de originalidade ao filme. A trilha sonora e principalmente a bela fotografia merecem ser destacadas. Uma contribuição natural das paisagens do Uruguai, onde o filme foi rodado.
A Floresta Que Se Move tem seus problemas claros, mas ainda sim é uma bela iniciativa do cinema nacional. Em tempos onde parece ser moda desdenhar do que é oriundo daqui, filmes ambiciosos como esse são sempre essenciais e mostram que algumas vezes não ficamos devendo em relação ao cinema mundial.