imagem para ilustrar texto de Ms. Marvel imagem para ilustrar texto de Ms. Marvel

A essencial leveza adolescente de Ms. Marvel

Caso ainda não tenha ficado claro, Ms. Marvel é uma série estrelada por uma adolescente que adquire superpoderes. Focar na faixa etária da protagonista, e não na sua condição de nova super-heroína do MCU, é de suma importância para apreciar a qualidade do material lançado até o momento. Sim, estamos diante de um coming of age repleto de clichês, com edição estilizada, trilha sonora pop e dilemas joviais que parecem cada vez mais distantes do grande público. E mais do que isso, com espaço para debater questões religiosas e culturais. Tudo cercado por uma aura de inocência e leveza que traz um respiro para os multiversos da loucura da Marvel.

A showrunner anglo-paquistanesa Bisha K. Ali (que também trabalhou em Loki) entende que o foco de Ms. Marvel é Kamala Khan (Iman Vellani) e sua realidade dividida entre obrigações familiares e sonhos coloridos com super-heróis. Antes de adquirir seus poderes, a jovem tem como preocupação montar uma fantasia para um concurso de cosplay da Capitã Marvel e passar na prova de direção. E mesmo quando sua vida muda completamente, ela ainda precisa dar um jeito de impressionar seu crush da escola. Equilibrar essas banalidades do cotidiano em uma trama de super-heróis nunca é fácil, no entanto, as coisas parecem fluir bem nos dois primeiros episódios. Até mesmo a alteração das habilidades de Kamala é incorporada de forma natural. Tornando a polêmica sobre o assunto ainda mais infantil e estabelecendo uma ligação cultural com as raízes da protagonista.

Generation Why, primeiro episódio da temporada, coloca em tela tudo que escrevi até aqui. Não existe pressa na transformação de Kamala, dando tempo para o espectador estabelecer uma conexão com esse novo ambiente. O roteiro de Ali pesa a mão nas questões étnicas e religiosas da futura heroína e de sua família, investindo num texto expositivo necessário nesse primeiro contato. É a direção de Adil El Arbi e Bilall Fallah que torna a experiência mais agradável, dando todo o holofote para Iman Vellani brilhar. É possível reclamar de muitos aspectos do MCU, exceto na escalação dos atores. O futuro dos Jovens Vingadores parece cada vez mais promissor. Sem medo de errar, posso cravar que Iman não precisou nem ler o roteiro da série. Ela é encantadora e cativante dentro e fora do set e sua Ms. Marvel certamente irá brilhar no futuro.

É extremamente satisfatório perceber que a qualidade de Ms. Marvel manteve o padrão em Crushed, segundo episódio da temporada. Na verdade, foi um pouco mais além. Como não amar Iman Vellani cantando Be My Baby das The Ronettes? O prazer de apreciar as pequenas experiências da vida só poderia estar presente numa série estrelada por uma adolescente. Ainda sem o peso de lutar pelo futuro da humanidade, Kamala encontra tempo para viver o momento o máximo possível. Vale ressaltar que a trama ainda não apresentou um inimigo ou uma inimiga de fato, o que poderia ligar o sinal de alerta. Porém, essa ausência de um mal a ser combatido não influencia no andamento do roteiro.

Óbvio que a temporada não ira acabar sem confronto, por isso alguns mistérios começam a ganhar importância aqui. Kamala faz seu primeiro resgate de maneira consciente, apenas para ser perseguida pelo governo logo em seguida. Nesse meio tempo, o roteiro de Ali começa a desenvolver a origem dos poderes da protagonista em paralelo com um assunto histórico importante como a Partição da Índia. Aliás, os núcleos interagem de maneira mais orgânica no episódio, com a direção de Meera Menon tornando tudo mais fluido.

Ms. Marvel funciona por jamais abrir mão do brilho de sua protagonista, respeitando sua identidade e realçando os aspectos que tornam a produção diferente de tudo que o Disney+ lançou até hoje. Se precisasse apontar um erro na série, seria a ausência de um encontro entre Kamala e Kate Bishop. O mundo anseia por esse momento.