Gore Verbinski é conhecido pelo competente trabalho em O Chamado (2002), fazendo uma boa (e lucrativa) adaptação do horror japonês Ringu (1999) de Hideo Nakata. Depois de dirigir diversos filmes de aventura e até animações, Verbinski volta à cena do horror com um longa que apresenta uma trama intensa cheia de suspense e mistérios, sem apelar para sustos fáceis.
Distribuído pela Fox Film, A Cura já se apresenta como um filme de terror incomum pela sua duração. São 2 horas e 26 minutos, no cenário atual em que a maioria das produções do gênero mal consegue sustentar sua trama por mais de 1h e 30min. Logo no trailer foi possível notar a atmosfera de mistério e o cuidado com a fotografia e direção de arte na produção. A princípio, todas essas expectativas são correspondidas pelo filme, que logo nas primeiras cenas demonstra a belíssima fotografia, com ângulos de câmera bem interessantes e peculiares para películas do gênero.
Durante a maior parte do filme acompanhamos um jovem executivo (Dane DeHaan) tentando desvendar eventos misteriosos que ocorrem no “Centro de Cura”, ambientado no fantástico do castelo de Hohenzollern, na Alemanha, onde o CEO da sua empresa está internado. Apesar de apresentar algumas falhas, o roteiro consegue nos convencer sobre motivação das atitudes do protagonista e nos estimula a seguir junto com ele desvendando o que se passa no local. A linguagem visual do filme é muito sugestiva, o que é ótimo para a atmosfera de suspense. No entanto, em alguns casos onde constantemente elementos das cenas anteriores sugerem o que ainda está por vir, há uma ênfase em certos elementos que se mostra repetitiva e pode incomodar espectadores mais atentos. Outro destaque são as cenas de sexo, nudez e violência explícita, cada vez mais raras em filmes de horror para o grande público, mas que agradam bastante boa parte dos fãs do gênero. Essas cenas são muito bem aplicadas em A Cura, sendo responsáveis por algumas das partes mais perturbadoras do longa.
A segunda metade do filme apresenta alguns elementos repetitivos, no entanto isso não deixa entediante, pela curiosidade em saber o que irá acontecer em meio a todo aquele cenário conspiratório contra a “lucidez” do protagonista. Apesar de antes do final já ser possível deduzir o mistério principal da trama, o filme mantém a tensão até pouco antes do fim quando infelizmente perde seu tom passando do horror sugestivo para o horror explícito. A computação gráfica utilizada nos momentos finais além de parecer ultrapassada se mostrou extremamente desnecessária, pois é aplicada em algo que seria muito mais interessante se permanecesse oculto ou se utilizassem pelo menos efeitos práticos. Entretanto, a sugestiva cena final, pouco antes de começarem os créditos, pode recobrar seu entusiasmo pelo filme.
A Cura estreou em 16 de fevereiro nos cinemas brasileiros e até o momento é uma das boas surpresas dentre os filmes de horror de 2017. Apesar de algumas falhas no roteiro e atuações razoáveis, o filme se destaca pela imersão que proporciona no clima de mistério e suspense, equilibrando cenas belíssimas e perturbadoras enriquecidas pela fantástica direção de arte que acompanha a produção do início ao fim. Apostando numa trama psicológica sem focar em sustos e ainda pela sua duração de 2hs:26min e classificação indicativa de 16 anos, o longa pode não agradar o grande público, no entanto é louvável que esse tipo de produção chegue até os cinemas para deleite dos fãs do gênero.