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A crítica de Eternos foi dura demais?

Desde antes de seu lançamento, Eternos vem dividindo a crítica e os fãs. O filme é o triunfo da atual 4ª fase da Marvel e faz com que o espectador assuma outros olhares diante do universo conhecido até agora. Porém, Eternals não é mais do mesmo e é possível dizer que a crítica pesou a mão. Mas, foi pela expectativa ou pelo talento de Chloé?

Atenção: o texto a seguir contém spoilers!

Vamos destrinchar tudo isso do começo. Chloé vem de uma sequência de produções específicas que nada se ligam ao seu último filho com superpoderes. A crítica fez questão de exaltar o talento da diretora, mas, ao mesmo tempo, de contrapor ele à inexperiência desta com filmes de super-heróis que exigem anos de imersão. 

Mas podemos dizer que não é aqui que Zhao erra. Mesmo não tendo experiência com filmes do gênero, a diretora foi a escolha perfeita para captar os detalhes que tornam a história de Eternos divina. É bom lembrar que não se trata de um grupinho de descolados que se juntam para combater um bombado de 3 metros de altura. A linha de Eternos beira o cósmico e o épico, traçando cada momento do planeta Terra. 

A similaridade da história com traços bíblicos pedem e requerem alguém capacitado a acertar o meio termo entre sacro e o humano. Por mais que os Eternos excedam as qualidades da mortalidade terrestre, o filme nos prende ao fazer com que cada personagem desça do seu patamar e se abra aos sentimentos humanos. 

Dessa forma, o filme se torna mais familiar do que nunca. Todos personagens ganham seu tempo de tela, embora nem todos aproveitem muito bem o coração entreaberto do público. 

Chloé costuma sempre dar destaque a um ou dois personagens em suas obras. Imaginem para uma recém-chegada na ficção fazer isso com 10 protótipos de deuses com características discrepantes aprimoradas durante 5.000 anos. Zhao fez um trabalho incrível dando a cada um o seu tempo de tela, enquanto Sersi (Gemma Chan) passava com um linha de costura em cada parte assumindo seu papel como queridinha da produção.

Porém, os cuidados da diretora com os personagens se expandem até na hora de abraçar as causas insubmissas da produtora. O destaque dos personagens Makkari (Lauren Ridloff), surda e com poderes de alta velocidade, e de Phastos (Brian Tyree Henry), o primeiro herói assumidamente gay da cinematografia Marvel, amolecem o coração da crítica, já que são tratados com a simplicidade e a naturalidade de Chloé. 

Se a crítica tanto pediu um pouco da fórmula Marvel (depois de criticar bastante), não é aqui que ela irá receber. Eternos não foi feito para ser mais um braço do multiverso ainda confuso que a Marvel nos colocou. Há, no ar, uma leve impressão de que algumas pessoas estão como um filho que acaba de sair de casa e não tem os pais para contar a velha história Vingadores (que amamos) em todo lançamento.

A presença de flashbacks também deixou a crítica intrigada, mesmo tendo a consciência de que se tratava de uma nova fórmula de produção, com poucos pontos de encontro ao que já foi produzido. Além disso, é necessário destacar que Eternos não é apenas para o nicho de marvetes que sonham em ver Wanda peitar Dr. Estranho enquanto os Vingadores se desenrolam em uma dimensão paralela. 

Podemos dizer que a Marvel abriu uma outra porta para seu universo. Uma porta alternativa, que busca puxar a atenção do curioso pelo hype e pelo lado alternativo das divindades. Mas é aqui que talvez a crítica tenha encontrado o ponto fraco da obra em si. A porta estava aberta, mas ninguém falou sobre o corredor entre o portal e o outro lado da sala. 

O que mais instiga a crítica em Eternos é sentir a duração do filme. As longas 2 horas e meia de filme contam com alguns plot twits para recaptar a atenção do espectador que está perdido nas lindas cenas de plano geral assinadas por Zhao. Há alguns pecados que ligam essa extensa duração com a profundidade de flashbacks que fizeram os olhos da crítica pesarem. 

É claro que muito se diz sobre a duração do filme para explicar a obscuridade das vielas do universo Marvel. Se nas HQs gastamos horas e edições para entender a relação entre um deviante, um eterno e um celestial, quem dirá em um filme que precisa enxutar não só este assunto, mas como todas as quinas da sinuca que a produtora criou. 

Por falar em quinas, a perspectiva dos Eternos foi muito analisada durante o filme. Os objetivos, suas vontades, suas desculpas, suas crenças e todo aspecto subjetivo dos heróis foram colocados em pauta. A não interferência em conflitos mundiais foi bastante clara na retórica e um pouco estreita na prática.

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Embora o desenrolar do enredo se apoie em toda essa estrutura de práticas e conflitos internos da equipe, é possível enxergar a falta de perspectiva que alguns críticos tanto apontam. Poucos personagens conseguem estabelecer ligações sentimentais com propósitos humanizados, como é o caso de Gilgamesh (Ma Dong-seok) e Thena (Angelina Jolie). 

Porém, esse risco tomado na obra consegue ser suavizado com o passar dos minutos. Mesmo que a produção consiga contornar essa situação toda apenas depois do clímax, a crítica entende como um marca da obra, já que ela é carregada na bagagem dos protagonistas. 

A complexidade da obra requer as mil facetas propostas pela história original e as adaptações feitas no filme. A crítica pensou em tantos caminhos, menos naquele que Chloé traça, de deuses sendo deuses, porém com comoções humanas (à la Zack Snyder). 

Por fim, preciso dizer que não há motivos para uma crítica tão árdua e pesada, já que Eternos por si só se consagra como um filme canônico da produtora. A crítica, de certa forma, cobrou mais de Zhoé por ter ganhado o último Oscar de direção, isso é fato. Eles criaram uma expectativa tão grande que se frustraram por no final não se adaptarem com as próprias adaptações da diretora quanto ao seu trabalho. 

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