A Chegada (Arrival, 2016), dirigido por Denis Villeneuve (Os Suspeitos, Duna) e baseado no conto “Story of Your Life” de Ted Chiang, apresenta uma narrativa centrada em linguagem, comunicação e percepção temporal. A proposta da obra, que iremos explorar nesta crítica, vai além da ficção científica tradicional, explorando conceitos da linguística e da filosofia.
A chegada dos alienígenas e o papel da linguista Louise Banks
A história começa com a chegada simultânea de doze naves extraterrestres em diferentes pontos do planeta. O governo dos Estados Unidos recruta a linguista Louise Banks para estabelecer comunicação com os seres, denominados heptapods. Ao lado do físico Ian Donnelly, Louise passa a interagir com os alienígenas, iniciando um processo de aprendizado da linguagem que eles utilizam.
A abordagem do contato é científica. A protagonista busca estabelecer conexões por meio de vocabulário básico, enquanto enfrenta pressão militar e desconfiança política. O foco não está no conflito entre espécies, mas na tentativa de compreensão entre formas de vida com visões distintas do tempo e da existência.
A linguagem dos heptapods e sua estrutura não linear
Os heptapods utilizam uma linguagem escrita circular, não vocal, semasiográfica. Isso significa que seus símbolos não representam sons, mas sim conceitos inteiros. A escrita é simultaneamente construída, com início e fim sendo formados ao mesmo tempo. Essa ortografia reflete a percepção não linear que os heptapods têm do tempo.
Esse sistema de escrita se torna o centro da transformação vivida por Louise. Ao aprender a linguagem, sua mente passa a funcionar de maneira semelhante à dos alienígenas. O tempo deixa de ser uma linha reta, e eventos futuros tornam-se acessíveis como se fossem memórias do passado.
A hipótese de Sapir-Whorf aplicada em A Chegada
O filme se baseia na hipótese de Sapir-Whorf, que propõe que a linguagem influencia diretamente a forma como o ser humano percebe o mundo. Ao aprender a estrutura da linguagem dos heptapods, Louise passa a experimentar o tempo de maneira diferente. Isso leva à revelação de que as cenas mostradas anteriormente no filme — entendidas como lembranças — são, na verdade, visões do futuro.
Essa reestruturação temporal dá à protagonista uma nova perspectiva sobre suas decisões. Ela sabe o que acontecerá com sua filha e mesmo assim escolhe seguir o caminho que leva a essa experiência.
O presente dos heptapods à humanidade
No clímax da narrativa, os heptapods revelam que sua intenção é oferecer um presente à humanidade: sua linguagem. Ao compartilharem esse conhecimento, eles esperam que os humanos desenvolvam a capacidade de perceber o tempo de forma semelhante. A nova estrutura cognitiva é o que permite que Louise resolva o impasse militar que ameaça a relação entre os países e os visitantes.
O presente, no entanto, carrega uma dimensão estratégica. Os heptapods afirmam que, dentro de três mil anos, precisarão da ajuda da humanidade. Ao preparar os humanos com antecedência, eles estabelecem uma aliança baseada na troca de conhecimento e colaboração futura.
O desfecho geopolítico
A resolução do conflito internacional ocorre após Louise acessar uma memória do futuro em que o general chinês Shang revela ter mudado de ideia por conta de uma mensagem pessoal recebida dela. A frase dita por Louise, segundo Shang, era a última lembrança que ele tinha de sua esposa antes da morte dela.
Esse momento ilustra o impacto direto da nova percepção temporal. Louise utiliza uma informação do futuro para influenciar o presente, impedindo uma guerra e restabelecendo a cooperação entre as nações.
A revelação sobre o futuro de Louise e Ian
No final da narrativa, fica claro que Louise e Ian se tornam um casal após a missão. As cenas que pareciam flashbacks eram, na verdade, visões do futuro. A filha que Louise vê em sua mente ainda não nasceu, mas ela já conhece seu destino. Essa revelação reestrutura a linha do tempo da história e reforça o tema central do filme: a aceitação do futuro como algo inevitável, mas ainda assim significativo.
Louise, mesmo sabendo que sua filha irá morrer jovem e que seu relacionamento com Ian não será duradouro, opta por viver plenamente cada etapa dessa trajetória. A linguagem dos heptapods não apenas altera sua mente, mas também redefine a maneira como ela encara suas escolhas.