O quarto episódio de A Cadeira (The Chair Company), série da HBO Max criada por Tim Robinson e Zach Kanin, amplia a mistura de humor desconfortável e paranoia conspiratória que define a produção. Dirigido por Andrew DeYoung, o capítulo intitulado “Local de nascimento de Bahld Harmon (disputado)” adota uma estrutura diferente, usando flashbacks para explorar o passado de Ron Trosper (Robinson) e sua esposa Barb (Lake Bell). Ainda que o recurso traga contexto, o episódio sugere que nem toda comédia precisa revisitar o passado para reforçar suas ideias. Confira a crítica e resumo do episódio 4:
Recapitulação do Episódio 4 de A Cadeira
O retorno do homem mascarado e o início do caos
A trama retoma o ponto em que o episódio anterior terminou: Ron, aterrorizado pelas imagens captadas em seu sistema de segurança, tenta entender quem é o homem mascarado que o persegue. Essa sequência serve de gancho para uma série de recordações que o levam de volta ao início da crise que moldou sua atual instabilidade emocional.
A abertura em clima natalino — que se revela um flashback de seis anos atrás — mostra Ron e Barb em uma festa regada a álcool e boas intenções. A cena serve de contraste para a tensão que domina o presente. A partir daí, o episódio intercala os dois períodos, revelando como o casal abandonou carreiras estáveis para investir em um empreendimento próprio: um negócio de passeios com jipes.
A Cadeira e o fracasso de um sonho
Os flashbacks revelam que o negócio de Ron nunca prosperou, mesmo com seu esforço para manter a aparência de sucesso. O colapso financeiro acabou levando o casal de volta ao antigo emprego na Fisher Robay, onde ambos tentam reconstruir suas rotinas profissionais. A decepção com o fracasso, no entanto, deixou marcas profundas.
Enquanto Barb conseguiu se readaptar e avançar na carreira, Ron passou a alimentar um sentimento de frustração e inferioridade. Essa desigualdade emocional ajuda a explicar a obsessão que o protagonista desenvolve pela suposta conspiração envolvendo a empresa Tecca, que ele acredita estar ligada a uma operação ilegal de contrabando de opioides.
Flashbacks como ferramenta e obstáculo narrativo
Embora os retornos ao passado ajudem a contextualizar o estado atual de Ron, o episódio mostra como o uso excessivo de flashbacks pode comprometer o ritmo. As revelações não trazem novas camadas ao personagem, apenas reforçam o que o público já intuia: um homem de rotina monótona, reprimido por dentro e em busca desesperada de significado.

A estrutura paralela entre o presente e o passado tenta aproximar o público de Ron, mas o verdadeiro impacto está nas situações absurdas que ele enfrenta. O humor de A Cadeira continua funcionando melhor quando a narrativa permanece no tempo atual, explorando as consequências cômicas da ansiedade e da incompetência cotidiana.
A rotina, o trabalho e o colapso silencioso
Enquanto tenta desvendar o enigma da Tecca, Ron enfrenta uma sequência de pequenos aborrecimentos que parecem orquestrados para testá-lo. E-mails indecifráveis, telefonemas confusos e comentários de colegas alimentam sua paranoia. Robinson entrega um retrato de frustração cômica, especialmente nas cenas em que tenta explicar suas teorias a quem não está disposto a ouvir.
Um dos momentos mais marcantes ocorre quando ele entrega o celular molhado para Natalie, dizendo: “Está um pouco molhado, eu estava apertando.” A frase resume o tom do personagem — uma mistura de desespero, ingenuidade e constrangimento.
Ao mesmo tempo, a investigação do setor de RH sobre sua relação com Amanda evidencia sua vulnerabilidade. Ron se mostra mais preocupado com a imagem que os colegas têm dele do que com as possíveis consequências da denúncia.
Um homem em busca de relevância
A obsessão de Ron com a Tecca ultrapassa o desejo de resolver um mistério corporativo. Ela representa a tentativa de provar seu valor em meio à rotina opaca. O caso oferece a ele uma chance simbólica de heroísmo, uma forma de compensar o fracasso do passado e de mostrar à família — especialmente à filha — que ele ainda é capaz de algo grandioso.
Porém, o episódio sugere que essa busca está levando Ron novamente à autodestruição. A euforia ao descobrir supostas pistas contrasta com o olhar apreensivo de Natalie, que enxerga o pai mergulhar no mesmo comportamento obsessivo que levou ao fim do negócio com o jipe anos antes.
O retrato da mediocridade moderna
O quarto episódio de A Cadeira reforça o que a série tem explorado desde o início: o colapso emocional de um homem comum diante da própria irrelevância. Robinson constrói um personagem que transforma frustrações pessoais em delírios de grandeza, enquanto o mundo ao redor parece ignorá-lo.
Mesmo com um ritmo mais fragmentado, o episódio mantém o equilíbrio entre humor e desconforto. As cenas do presente seguem mais eficazes que os flashbacks, mostrando que o caos da vida adulta — entre o trabalho, o casamento e as pequenas derrotas diárias — é mais revelador do que qualquer lembrança do passado.

Crítica do episódio 4 de A Cadeira (HBO Max)
“Local de nascimento de Bahld Harmon (disputado)” pode não avançar muito na trama conspiratória central, mas aprofunda a visão tragicômica de A Cadeira sobre fracasso e autoengano. O episódio expõe o quanto Ron precisa que o mundo gire em torno de sua narrativa para continuar se sentindo relevante — mesmo que isso o leve, mais uma vez, à beira do colapso.
Novos episódios de A Cadeira estão disponíveis semanalmente na HBO Max, explorando comédia, tensão e melancolia em uma das séries mais peculiares da atual temporada.