O episódio 8 de A Cadeira (The Chair Company), intitulado “A Minnie Mouse voltar não estava nos meus planos”, encerra a temporada expandindo a espiral de obsessão, paranoia e ressentimento que guiou Ron Trosper desde o primeiro capítulo. O final não entrega respostas diretas, mas aprofunda a dinâmica que sempre sustentou a série: a incapacidade de seus personagens de abandonar mágoas antigas e a atração quase inevitável pelo conflito. É um encerramento que explica tudo e nada, refletindo precisamente o lugar onde a narrativa sempre esteve.
O ressentimento como motor da temporada A Cadeira
Ao longo dos oito episódios, a trama mostrou Ron preso a um sentimento de injustiça que ele transforma em missão pessoal — mesmo quando o problema inicial poderia ter sido esquecido em minutos por alguém menos inflamável. No final da temporada, esse traço retorna com força total. O episódio evidencia que Ron não aprende com seus tropeços, e que a série funciona justamente porque ele se recusa a deixar qualquer questão passar despercebida.
Mas o capítulo deixa claro que Ron não é o único prisioneiro do rancor. Jeff, interpretado com intensidade crescente por Lou Diamond Phillips, vive seu próprio ciclo de humilhação e revanche. As imagens absurdas analisadas pelo RH e a presença de Stacy Crystals, cuja violência explode sem aviso, ilustram como vários personagens giram ao redor de feridas emocionais que nunca cicatrizam.
A revelação sobre Amanda e o impacto na trama
O grande ponto de virada do episódio acontece quando o homem mascarado de Jason afirma que a verdadeira articuladora de toda a confusão é Amanda. A funcionária que parecia apenas mais uma vítima ganha nova função dentro da mitologia da série: segundo o relato de Jason, ela teria manipulado tudo como retaliação por um gesto esquecido por Ron. É uma revelação que amplia o estranho ecossistema de A Cadeira e confirma que a série continuará apostando na incerteza como ferramenta narrativa.
A reviravolta não só pega o público de surpresa como também desafia qualquer leitura linear da temporada. Quando parecia que Douglas poderia ser o responsável pela queda de Ron — especialmente diante de sua rapidez em assumir controle do Mercado de Canton — surge uma explicação ainda mais tortuosa. A lógica da série, mais uma vez, reforça que a verdade nunca está em linha reta.
Paranoia crescente e personagens cada vez mais misteriosos
O episódio 8 também constrói com habilidade a sensação de paranoia que acompanha Ron. A cena de Lynette, narrando o encontro com Mike e sua história improvável sobre transplante cardíaco, ilustra como a série brinca com níveis de verossimilhança sem nunca entregar completamente o que é real. O homem acorrentado no banheiro de Mike adiciona outra camada ao mistério, reforçando que ninguém é exatamente o que parece.
Momentos como o susto com o “dono do bebê” ou a jornada até a garagem do dono do cachorro evocam referências diretas ao cinema de David Lynch, influência assumida do episódio. Esses recursos ampliam o alcance visual e temático de A Cadeira, dando ao final da temporada um tom mais sinistro e surreal.

Relações pessoais à beira do colapso
A relação de Ron com a família também ocupa espaço importante no episódio. A ruptura com Natalie é tratada com naturalidade pela narrativa, embora ganhe uma camada cômica na figura de Tara, que deixa o apartamento impregnado pelo cheiro de fast-food. Os filhos, por outro lado, têm seus próprios conflitos resolvidos de forma simples, mas eficiente, reforçando o contraste entre a família Trosper e o caos que domina a vida profissional de Ron.
Seth, por exemplo, revela uma paixão por animação stop-motion, que serve tanto como piada quanto como explicação para seu comportamento evasivo. Esses momentos funcionam como válvula de escape no meio das tensões maiores, mas também apontam para temas centrais da série: frustração, expectativas e a permanência de pequenas decepções.
Ron, Jeff e o peso dos ressentimentos
À medida que o episódio final de A Cadeira avança, fica claro que Ron ultrapassou o ponto de retorno. O personagem já não consegue se distanciar da obsessão por desvendar a Tecca. A atuação de Tim Robinson destaca esse estado emocional: mesmo quando tenta disfarçar suas intenções, suas expressões entregam o desejo contínuo de investigar. O que começa como um desvio de rota se torna, no final da temporada, parte de quem Ron é.

Jeff, por sua vez, emerge como um antagonista mais complexo do que aparentava. Sua expressão carregada de raiva e a maneira como a narrativa o posiciona sugerem que a rivalidade entre ele e Ron pode ganhar novas formas no futuro. Stacy Crystals, Amanda e Mike completam um panorama de personagens que podem retornar à história de maneiras imprevisíveis.
Um final que prepara terreno para a próxima temporada
“A Minnie Mouse voltar não estava nos meus planos” cumpre o papel de encerrar a temporada abrindo novas portas. O episódio 8 reforça que A Cadeira não é sobre desvendar uma grande conspiração, mas sobre como pequenos conflitos se ampliam até se tornarem incontroláveis.
As reviravoltas apresentadas — e a incerteza sobre Amanda, Jason e toda a cadeia de acontecimentos — criam expectativa genuína para uma continuação. A série termina em estado de combustão criativa, sustentada pela combinação de humor desconfortável, mistério e crítica ao cotidiano corporativo.
Com isso, o final da primeira temporada confirma o que os episódios anteriores já haviam sinalizado: A Cadeira ainda tem muito a explorar no território do absurdo, do desconforto e da comédia que nasce das obsessões humanas.