O terror e o suspense de A Caça (The Hunted, 2024), dirigido por Louis Lagayette, vão além da violência física. O filme utiliza o horror para refletir sobre a desumanização dos refugiados e a indiferença social diante do sofrimento humano. Recém-chegado ao catálogo do Prime Video, o longa combina crítica política e tensão para expor o colapso moral de uma sociedade que transforma vidas em espetáculo. Confira a nossa crítica do filme:
A narrativa começa com um grupo de refugiados que sobrevive a um naufrágio no Mar Mediterrâneo. Resgatados por um grupo de europeus abastados em uma ilha aparentemente paradisíaca, eles acreditam ter encontrado abrigo e segurança. No entanto, o gesto de hospitalidade se revela uma armadilha: os anfitriões organizam uma caçada humana, transformando os sobreviventes em presas. O contraste entre o cenário tropical e o horror que se desenrola cria uma atmosfera inquietante, em que o luxo se mistura à barbárie.
O roteiro é direto e simbólico. Lagayette constrói uma alegoria da hipocrisia ocidental, expondo a distância entre o discurso humanitário e as ações reais. As cenas iniciais, que simulam acolhimento e compaixão, logo se tornam uma metáfora cruel sobre o modo como o sofrimento dos imigrantes é tratado com condescendência e até como entretenimento. A violência gráfica é usada para evidenciar a brutalidade do jogo, mas o filme é mais eficaz quando aposta no silêncio e na tensão psicológica.
Lily Banda, que vive a protagonista, é o centro emocional do longa. Sua personagem encarna o instinto de sobrevivência e a resistência de quem se recusa a ser reduzido à condição de presa. A atriz sustenta momentos de forte impacto sem recorrer a heroísmos forçados, transmitindo vulnerabilidade e força em doses equilibradas. A relação de sua personagem com a criança deixada na ilha adiciona uma camada de humanidade à narrativa.
Tecnicamente, A Caça é irregular. O orçamento modesto limita as cenas de ação e a construção de ritmo, e a direção por vezes perde o controle quando aposta na violência explícita. Ainda assim, a fotografia consegue destacar o contraste entre o paraíso natural e o inferno moral dos caçadores. O resultado é um filme que, mesmo tropeçando em clichês e repetições, mantém sua mensagem social intacta.
Crítica: Vale à pena assistir A Caça (The Hunted, 2024) no Prime Video?
Sem reinventar o subgênero “ricos caçam pobres”, A Caça encontra relevância ao refletir sobre o mundo real. A crítica à desigualdade e à banalização da dor humana torna o longa mais do que um exercício de suspense: é um retrato de um tempo em que o horror dispensa monstros. Basta observar quem está no poder e quem tenta sobreviver.