Última temporada de The Fall encerra dignamente as investigações de Stella Gibson na Netflix
Na contramão da tendência atual, The Fall trouxe para os expectadores um formato pouco usado atualmente para seriados. Ao invés da trama episódica, onde cada capítulo corresponderia a um novo crime a ser solucionado, apenas um criminoso e seus delitos fariam parte central das investigações não apenas de uma temporada, mas de todas as três, exclusivas no canal de streaming Netflix.
Criada por Allan Cubitt, a trama acompanha Stella Gibson (Gilliam Anderson), uma detetive superintendente da polícia de Londres que investiga uma série de assassinatos em Belfast. O serial killer é Paul Spector (Jamie Dornan, o Christian Grey de 50 Tons de Cinza), que tem como alvo predileto mulheres jovens e bem-sucedidas profissionalmente.
Para sustentar uma trama tão cadenciada, a responsabilidade em cima do carisma dos atores obviamente aumenta. Ao menos na qualidade todo o cast de The Fall é satisfatório e regular. Os destaques naturalmente são Anderson e Dornan. A primeira traz todo seu charme imponente na pele de uma detetive que está em constante conflito não apenas com os bandidos, mas também com o mundo machista que cerca ela e todas as mulheres. Já Dornan mostra aos que o conheciam apenas pelo insosso 50 Tons de Cinza que ele é sim capaz de grandes papéis.
Ao final da segunda temporada, The Fall parecia ter resolvido majoritariamente sua trama, uma vez que Spector estava havia sido detido, com direito a confissão e tudo, restando apenas encontrarmos o corpo (com ou sem vida) de Rose Stagg (Valene Kane). Mas uma série de acontecimentos improváveis até mesmo na TV fez com que as coisas se complicassem de forma inimaginável, o que nos leva à terceira temporada.
Paul aparentemente perdeu a consciência de tudo que aprontou nos últimos seis anos de sua vida, o que traz complicações tanto legais quanto investigativas. Antes disso, porém, temos cenas fortes da operação para salvar sua vida após ser alvejado. É uma solução manjada para mostrar uma situação inusitada e colocar à prova o personagem: como uma pessoa pode reagir ao acordar de um coma e estar sob custódia da polícia por graves crimes de que não se lembra ter cometido? The Fall trabalha de modo subjetivo com essa situação e, goste você ou não, essa é uma questão que fica intencionalmente sem resposta (é o maldito pião do Christopher Nolan em A Origem).
A história se fecha, mas algumas coisas ficaram sem explicação mesmo que a maioria não se importe. Arcos como o de Katie (Aisling Franciosi) poderiam ter sido muito melhor explorados, afim de mostrar profundamente as consequências da influência de um explorador na mente de uma jovem, oferecendo a ela alguma redenção. Algumas sub-tramas que se fecham, como a da mulher que sofre violência doméstica (1ª e 2ª temporada), mostram também o quanto The Fall foi centralizadora fazendo com que todos os acontecimentos se davam com o propósito exclusivo de alimentar a trama principal, desvalorizando um teco do produto como unidade.
Ao final, a sensação é de que não fosse a qualidade da dupla protagonista, essa terceira temporada flertaria com o desnecessário. Mas apesar da correria, The Fall encerra bem suas investigações.