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Studio Ghibli na Netflix: guia dos animes de fevereiro | Molho Shoujo #2

A Netflix, a partir de fevereiro, vai começar a trazer as animações do glorioso Studio Ghibli para o seu catálogo.

Por Ingrid Pedrosa

No último dia 1, a Netflix disponibilizou sete filmes do renomado Studio Ghibli em seu serviço de streaming. Detentor de vários sucessos de bilheteria no Japão e o único estúdio de animação não-americano a ganhar o Oscar de Melhor Animação com A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi) em 2001, o Studio Ghibli produziu 21 longas em 34 anos de história. Ao longo dos próximos meses (março e abril), 21 filmes estarão disponíveis na Netflix, sendo a única exceção o filme Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka, 1988) de Isao Takahata e com a adição do pré-Ghibli Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no tani no Naushika, 1984) de Hayao Miyazaki. 

Esse post é um guia básico (relaxa que é sem spoiler) dos filmes disponíveis em fevereiro com sinopse e algumas dicas (obviamente pessoais, isso aqui não é artigo científico) de qual filme assistir dependendo do seu conhecimento prévio sobre a obra do Studio Ghibli, idade, companhia e ~mood~. Então vamos começar pelo começo:

O Castelo no Céu (Tenkû no Shiro Rapyuta) – 1986

Escrito e dirigido por Hayao Miyazaki, O Castelo no Céu é o primeiro filme do Studio Ghibli e por isso já merece certa atenção. A história gira em torno de Sheeta e Pazu em busca da cidade perdida de Laputa (pausa para a 5ª série dar risada) enquanto são perseguidos pelo Coronel Muska e pela gangue de piratas da Capitã Dola. Em meio a grandes e divertidissímas sequências de perseguição, que lembram muito em espírito o primeiro filme de Miyazaki, O Castelo de Cagliostro (Rupan sansei: Kariosutoro no shiro, 1979), e um design de produção primoroso, o filme consegue tocar em muitos pontos caros à obra do diretor: o amor por máquinas voadoras e sequências aéreas, a mensagem sobre a convivência e harmonia com a natureza e crianças se divertindo. Muitos desses temas acabam sendo explorados um pouco melhor em outros filmes, mas Castelo no Céu ainda tem potencial para encantar muita gente.

Boa introdução? Sim, a obra encapsula bem o que pode se considerar um filme Ghibli e em especial um filme de Hayao Miyazaki.

Para ver com? Um filme pra ver de galera, dá pra todo mundo se divertir e se encantar com as cenas de ação.

Bom para maratonar? Sim. O filme não é longo, tem muitas sequências de ação, e mesmo as sequências lentas são bem agradáveis.

Idades que vão amar? Bom para todas as idades.

Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro) – 1988

Meu Vizinho Totoro tem em seu personagem titular talvez a mais icônica imagem do Studio Ghibli, tanto que faz parte do logo do estúdio. Outro filme escrito e dirigido por Miyazaki, o mais prolífico criador do estúdio, Totoro acompanha Mei e Satsuki Kusakabe, duas garotas que, com o pai delas, acabam de se mudar para uma casa no campo, e os mágicos encontros que as garotas têm com os espíritos da floresta, principalmente o titular Totoro. É um filme sem grandes conflitos, com um foco em acontecimentos cotidianos e como eles são alterados pelo encanto desses espíritos da floresta. Se você está procurando uma coisa divertida, feliz, que não vá trazer muito peso para sua cabeça, não há muitos filmes melhores.

Boa introdução? Sim, especialmente para crianças mais novas. O filme captura muito do que é atrativo no cinema do estúdio para as crianças.

Para ver com? Crianças, ou sozinho para relaxar depois de um dia cansativo.

Bom para maratonar? Não exatamente. É um filme pra ficar mais tranquilo, não pra ficar cheio de energia e ver outros três depois.

Idades que vão amar? É um filme para todas as idades, mas tem um charme especial pra crianças até 10 anos, e potencialmente para pais também.

O Serviço de Entregas da Kiki (Majo no Takkyūbin) – 1989

Terceiro filme em sequência nessa lista dirigido por Hayao Miyazaki, esse acaba sendo um pouco diferente dos outros. A protagonista, a bruxinha de treze anos Kiki, começa o filme fazendo um rito de passagem no mundo do filme e no nosso: deixando o lar dos pais para tentar construir sua própria vida. O filme acompanha com honestidade os altos e baixos desse processo de amadurecimento da personagem e mostra como esse processo, apesar de ser muito interno, ninguém faz sozinho: mesmo que os pais estejam distantes, aparecem outras pessoas que são muito importantes para a vida adulta. Não é um filme com visuais tão grandiosos como alguns outros do Studio Ghibli, mas traz uma das histórias mais reconhecíveis da obra do diretor.

Boa introdução? Ótima introdução. Tem muitos dos elementos mais marcantes do estúdio e uma das protagonistas mais envolventes da animação.

Para ver com? Bem divertido ver com um grupo de amigos, mas dá pra ver sozinho também, se você ficar ok com refletir sobre sua vida depois.

Bom para maratonar? É um filme muito gostoso que acaba numa nota positiva, e se for um dos seus primeiros com o estúdio, desperta curiosidade pelos outros. Se encaixa bem numa maratona.

Idades que vão amar? Adolescentes e jovens adultos que querem pensar na vida, crianças que gostam de uma bruxinha voadora e de um gato falante.

Memórias de Ontem (Omoide Poro Poro) – 1991

O único filme nessa lista dirigido por Isao Takahata, o outro fundador e grande pilar do Studio Ghibli, Memórias de Ontem é um filme que conta a história de Taeko Okajima, uma trabalhadora que viveu em Tóquio durante toda a vida que decide tirar férias no interior, e com isso acaba revivendo memórias de uma infância humanamente conturbada. O filme alterna entre uma estética um pouco mais realista para as cenas da Taeko adulta, e um estilo mais etéreo e mais shoujo mangá nos flashbacks da personagem enquanto criança. As histórias de Taeko falam muito de como o passado permanece sempre presente na nossa vida e são um retrato fascinante de uma personagem tentando decidir qual o melhor caminho a ser tomado em sua própria vida. A cena dos créditos é um dos mais bonitos finais que já vi em qualquer filme.

Boa introdução? Aos filmes de Isao Takahata, sim, mas Memórias de Ontem não tem muitas das características que tornaram o estúdio famoso.

Para ver com? Ou sozinho, ou com uma pessoa com quem você tem muita intimidade (especialmente se você chora fácil)

Bom para maratonar? Não. É um filme pra ver e ficar feliz, mas pensando na vida, emocionado, não para emendar outro logo depois.

Idades que vão amar? Jovens adultos e adultos. Não tem um apelo enorme para crianças.

Porco Rosso (Kurenai no Buta) – 1992

O último filme de Hayao Miyazaki nessa lista, e apesar do porco antropomorfizado como protagonista, talvez o mais adulto destes quatro filmes do diretor. Porco Rosso conta a história de um piloto italiano misteriosamente transformado em porco, que ganha a vida como caçador de recompensas de “piratas voadores” no mar Adriático. O filme é bastante divertido, com muita comédia vindo dos conflitos com os piratas e o porco protagonista, mas ainda existem sérios conflitos no filme: Porco Rosso é um heroi falho, um sobrevivente de guerra, um antifascista comprometido e um homem procurando por redenção. Porco Rosso pode não ser o filme que mais aborda questões políticas de Miyazaki, mas é o que mais se destaca nesse sentido entre os sete primeiros a entrar para o catálogo da Netflix.

Boa introdução? Para quem adora filmes de aventura, talvez. Mas não é a coisa mais representativa da obra do estúdio.

Para ver com? Amigos. É um filme super divertido e fácil de compartilhar com outros.

Bom para maratonar? Um dos melhores. Animador, cheio de aventura, pode deixar você pronto para outro.

Idades que vão amar? Crianças que gostam da ideia de um porco pilotando aviões e jovens que querem ver um filme divertido.

Eu Posso Ouvir o Oceano (Umi ga Kikoeru) – 1993

Produzido para a Nippon TV e dirigido por Tomomi Mochizuki, Eu Posso Ouvir o Oceano é uma pequena jóia escondida dentro da obra do Studio Ghibli. O filme conta a história da relação entre Taku e seu amigo Yutaka, e entre os dois e Rikako, quando a última se muda de Tóquio para a cidade de Kochi. Em meio aos dramas do início da vida adulta, Rikako parece infeliz com a vida no interior, enquanto Taku tenta entender a garota que parece rejeitar a todos na mesma medida em que chama a atenção. Um dos dois únicos filmes dessa leva sem um elemento sobrenatural, o filme acaba se voltando principalmente para a vida emocional dos personagens, e tratando de maneira muito delicada sobre algo muito simples: como pode ser bom quando duas pessoas gostam uma da outra.

Boa introdução? Não. Foi um filme feito pra TV, é uma comédia romântica, não tem nada de sobrenatural, não é muito  o que fez o estúdio ficar famoso.

Para ver com? Crush ou um amigo.  Pode não ser um bom filme pra assistir com muita gente.

Bom para maratonar? É um filme gostosinho, curto e que tem um final feliz, dá pra ver outros no mesmo dia com certeza.

Idades que vão amar? Principalmente adolescentes e jovens adultos, é um filme bem focado nesse público.

Contos de Terramar (Gedo Senki) – 2006

Contos de Terramar, de Goro Miyazaki (filho de Hayao Miyazaki) é uma adaptação livre da obra de Ursula K. Le Guin e possui elementos do terceiro e quarto livros da série. O filme é talvez a ovelha negra do estúdio, sendo o único verdadeiro fracasso de público e crítica na história do tão aclamado estúdio. Para deixar a situação mais complicada, a obra tem como críticos a autora da obra original e o próprio pai do diretor. 

Isso não significa que não se deva assistir o filme, pelo contrário. Acredito que existe um valor em assistir obras ditas ruins, nem que seja ~pra se inteirar~. Dito isto, Contos de Terramar não chega a ser um filme atroz ou indigesto: é mais que possível se entreter com tudo que acontece dentro da trama, e os visuais ainda são impressionantes, mas em muitos momentos parece que existe um filme mais grandioso perdido dentro das limitações da animação digital de meados dos anos 2000 e da trama que não combina muito com o que o Studio Ghibli faz de melhor.

Boa introdução? Não. Apesar de ter muitos elementos típicos do estúdio, como já dizemos, o filme não é tão bom. Melhor começar por algum outro.

Para ver com? Outros fãs do Studio Ghibli que tenham curiosidade pra ver o famoso “fracasso” do estúdio.

Bom para maratonar? Até que sim? Uma maratona com outros fãs onde esse filme é só parte do menu acaba sendo um bom jeito de assistir.

Idades que vão amar? Não é bem um filme que muita gente vai amar, mas o público-alvo seriam jovens adultos e crianças impressionáveis.

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