Netflix traz Demolidor para o streaming após longa de 2003
Os hormônios nerds estão em ebulição. Está próxima a estreia de Demolidor, nova série da Marvel em parceria com a Netflix (sua linda!). Mas e aí, você sabe tudo do personagem? Pois esse texto vai te ensinar, entre outras coisas, que Ben Affleck não interpretou o Demolidor.
Matt Murdock é um cara abalado, sofrido, machucado e magoado. Quando ele veste o traje do Demolidor tudo isso se agrava ainda mais. Mesmo que Stan Lee tenha criado um personagem mais animado e risonho, ele só funcionou de verdade quando tomou altas doses de densidade, dualidade e tragédias. Para algumas pessoas tanto sofrimento é exagerado. Mas para o verdadeiro fã do personagem cada gota de sangue misturada com lágrimas é preciosa. Perder o pai, a visão, o amor da vida, a casa, o emprego, a identidade secreta e tantas outras coisas é de fazer qualquer um mergulhar no mais profundo poço de depressão ao som de Los Hermanos.
Mas se hoje Matt vai ganhar uma série na Netflix é graças, entre outros nomes, a Frank Miller. O jovem quadrinista viu na execrada revista do personagem uma chance de mostrar seu valor. Era um início de uma simbiose onde ambos se beneficiavam. Demolidor não foi mais o mesmo depois de Miller e o mesmo pode ser dito do mundo dos quadrinhos. Mesmo que muitos não gostem da pegada “ninja” do personagem, ninguém em sã consciência pode negar o trabalho excelente que foi feito, não só uma, mas várias e várias vezes.
Posso falar o dia todo sobre Demolidor, mas você não ia gostar de me ouvir ou ler um texto tão grande assim. Então qual a melhor de forma de entender o sofrimento e o sentimento de dever presentes em Matt Murdock? Lendo suas melhores histórias é claro! Então se prepare para a aula:
A Saga de Elektra 1981-1983
Frank Miller já trabalhava nas artes de Demolidor, mas ainda não havia conseguido uma chance de escrever uma história do personagem. Quando ela apareceu ele não decepcionou. Miller deu uma identidade ao personagem, que agora combatia o lixo do submundo como drogas, prostituição e a máfia. Além disso a história introduziu Elektra, o grande amor de Matt. A saga é longa, mas longe de ser arrastada. A nova personagem trás consigo o Tentáculo, organização que passaria a dar dores de cabeça eternas ao Demolidor. E funciona para alavancar o Rei do Crime, antes um personagem B das histórias do Homem-Aranha. Wilson Fisk sobe ao posto de maior de todos os gangsters e chefe de todo o crime organizado de Nova Iorque. Além de se tornar oficialmente o nêmesis do Homem Sem Medo. É nessa saga que o Mercenário, segundo na hierarquia de inimigos de Matt, mata Elektra em uma das cenas mais antológicas dos quadrinhos. A trama é inteligente, com muitas doses de tensão e suspense. É o ponto de partida perfeito para começar a ler Demolidor e entender todas as desgraças futuras.
A Queda de Murdock 1985-1986
De todas as histórias que você verá nessa lista, essa é a melhor. É mais uma parceria entre o Demolidor e Frank Miller. Miller já havia encerrado sua saga pela revista do herói em 1983 e estava trabalhando na DC. Entre muitos trabalhos estava um clássico chamado Batman – O Cavaleiro das Trevas. Voltando para seu lugar de origem, ele trouxe uma história que mexe com todas as principais características do Demolidor: sofrimento, perdas, religiosidade, demônios internos e principalmente superação. Karen Page, personagem importante em várias histórias, volta depois de um longo sumiço como uma atriz pornô viciada em drogas. Para satisfazer sua necessidade, ela vende a um traficante pé de chinelo a identidade do Demolidor. E como tudo que está ruim pode piorar pra caramba, a informação chega aos ouvidos de Wilson Fisk (olha ele aqui de novo). Depois de limar a concorrência, Fisk arquiteta um plano cruel e traiçoeiro contra Matt Murdock. O herói vê (não resisti) tudo ao seu redor desmoronar. Sua vida vira um inferno ainda maior. Ele acaba na beira do abismo da loucura. Fisk destruiu Matt de dentro para fora (pegou a referência?). Tudo que restava era um renascimento, mesmo que o preço fosse alto demais. O roteiro genial de Miller aliado a arte de David Mazzucchelli tornam A Queda de Murdock um novo divisor de águas na vida do personagem e no mundo dos quadrinhos.
O Homem Sem Medo 1993
Reconhece esse uniforme da imagem né? Essa é a grande referência e reverência que a vindoura série do Demolidor faz a “Era Frank Miller”. O quadrinista já havia mexido um pouco na origem do personagem com a criação da Elektra e do envolvimento de Stick no treinamento de Matt, mas nada que destruísse o que foi imaginado por Stan Lee. Mas depois de ter seu nome consolidado na história, Miller retornou ao Demolidor para recontar a origem do personagem. E quer saber? Essa origem ficou muito melhor. Ao lado da sensacional arte de John Romita Jr, ele mostra uma versão aterradora de todos os motivos que transformaram Matt Murdock no Demolidor. A história é densa, sombria e assustadora. A síntese de todos os sentimentos que você tem ao ler uma página das histórias do personagem. Sem dúvida nenhuma a série da Netflix vai beber muito dessa fonte. Começando pelo uniforme preto e passando por uma cena clássica na última página. É talvez uma das últimas grandes obras de Miller, por isso merece ser conhecida, lida e relida.
Diabo da Guarda 1998-1999
O cineasta Kevin Smith também andou pelas páginas do Demolidor ao lado de Joe Quesada. Karen Page volta para ferrar a vida de Matt mais uma vez. Ela abandona o herói deixando para trás apenas uma carta de despedida. Em meio ao sofrimento, ele recebe a missão de cuidar de um misterioso bebê que pode ser a reencarnação de Jesus ou do Capiroto. Lembra que tudo sempre piora na vida do Demolidor? O Rei do Crime também se interessa pela criança e contrata o Mercenário para travar um épico combate com o Homem sem Medo. Em meio a uma crise religiosa, algo recorrente no personagem, ele recebe a ajuda da estonteante Viúva Negra. A história vale pelos excelentes diálogos criados por Smith e por ser uma das poucas histórias boas que o Demolidor compartilha com outros personagens da Marvel. Além de também contar com alguns temas polêmicos como AIDS e outras coisas.
Exposto 2002-2003
A identidade secreta (?) do Demolidor volta a ser estopim de uma outra grande história, agora contada pelo talentoso Brian Michael Bendis. Na trama, Matt vê (fiz de novo) seu mundo ruir mais uma vez quando sua identidade secreta, que nem era mais tão secreta assim, é revelada ao mundo todo pelos telejornais. Novamente ele se encontra em uma espiral de destruição. Como seus entes queridos vão passar por isso? O Rei do Crime está mais uma vez por trás de tudo? Demolidor foi disparada a melhor revista da Marvel enquanto esteve nas mãos de Bendis. Vale sim a pena dar uma lida.
Fim dos Dias 2012-2013
Fim dos Dias é exatamente isso que você está pensando: a morte do Demolidor. O fim da jornada do Homem Sem Medo. Após o brutal assassinato de Matt Murdock pelas mãos do Mercenário, o repórter Ben Urich parte em sua missão de contar a real história do herói para o mundo. Ele viaja por amores do passado, antigos inimigos e amigos. É uma odisseia pela importância do Demolidor dentro do universo da Marvel, do quanto suas ações reverberavam pelas páginas de outros personagens. É a máxima consequência do senso de dever e proteção que Matt Murdock tinha pela Cozinha do Inferno. Mesmo sendo um futuro não-oficial, é a união de tudo que você vai aprender lendo as outras histórias dessa lista.
Então, já se sente um profundo conhecedor do Demolidor? Faltaram outras grandes histórias como Roleta Russa e Demolidor: Amarelo, mas garanto que ao terminar de ler essas revistas indicadas você vai estar preparado para se deliciar com a série da Netflix. Se você já leu alguma dessas histórias, deixe sua opinião nos comentários junto com alguma outra indicação.
E não perca a cobertura especial do CosmoNerd com comentários, primeiras impressões e a crítica da primeira temporada de Demolidor.