Se em geral não temos muito contato com produções cinematográficas de diferentes gêneros dirigidas por mulheres, no terror a presença delas parece ainda mais escassa. Talvez o período mais fértil de filmes de horror dirigidos por mulheres tenha sido a década de 80, com diversos filmes slasher de baixo orçamento, além dos clássicos: Slumber Party Massacre (1982), por Amy Holden Jones, Quando chega a escuridão (1987), por Kathryn Bigelow e O cemitério maldito (1989), por Mary Lambert. No entanto, os últimos anos nos trouxeram ótimos filmes que nos revelaram diretoras fantásticas, como veremos na lista a seguir.
O Babadook (2014), por Jennifer Kent
Neste horror australiano, uma mãe e seu único filho são atormentados por um monstro sombrio, que surge com a chegada de um misterioso livro. O filme aborda com inteligência as tensões da maternidade, fazendo uma intrigante analogia do monstro com distúrbios psicológicos. Os destaques ficam para a atuação intensa de Essie Davis e a direção magistral de Jennifer Kent, que em seu primeiro longa de horror construiu de forma sutil e assertiva um macabro clima de tensão psicológica. O filme ganhou 55 prêmios em festivais pelo mundo.
A Garota sombria caminha pela noite (2014), por Ana Lily Amirpour
Talvez um dos filmes mais peculiares desta lista. Uma produção iraniana filmada em preto e branco, que se passa na cidade fictícia Bad City, onde uma bela e soturna vampira persegue habitantes ainda mais sombrios e solitários. Com uma direção de arte fantástica e atuações primorosas, o filme aborda temas como sexualidade, repressão e marginalidade utilizando-se do arquétipo do vampiro como guia, tudo isso permeado ainda por uma atmosfera inusitada de faroeste. Com essa mistura de gêneros e culturas, a diretora Ana Lily Amirpour, garante uma experiência extremamente interessante ou no mínimo curiosa para os espectadores do longa.
O convite (2015), por Karyn Kusama
Este suspense com elementos de horror psicológico parte de uma premissa simples, o convite da ex-mulher do protagonista para um jantar com um grupo de amigos, para culminar num final surpreendente e intenso. A direção de Karyn Kusama, o roteiro, a fotografia claustrofóbica e as atuações são grandes destaques desta produção, fundamentais para o crescimento sutil e gradual do suspense e da tensão que facilmente envolve os espectadores. O filme teve distribuição restrita nos cinemas, chegando direto por streaming pela Netflix em diversos países incluindo o Brasil.
XX (2017), por Annie Clark, Jovanka Vuckovic, Karyn Kusama e Roxanne Benjamin
Uma antologia que conta quatro histórias mórbidas, cada uma delas dirigida por uma diretora de destaque no cenário de terror estadunidense. Jovanka Vuckovic, que já havia dirigido alguns curtas de suspense e horror, é responsável o segmento “A Caixa”; a multitalentosa Annie Clark comanda o segmento “Festa de aniversário”. Roxanne Benjamin, diretora de segmentos para outras grandes antologias de horror recentes como V/H/S (2012), V/H/S/2 (2013) e Southbound (2015), dirige o segmento “Não caia” e Karyn Kusama, diretora de Garota Infernal (2009) e o ótimo suspense já citado O convite (2015), dirige o segmento “O único filho dela”. O filme aborda questões como descobertas da juventude, maternidade e vida familiar, flertando com elementos como fanatismo religioso, canibalismo, monstros e o sobrenatural.
Grave (2017), por Julia Ducournau
Conhecido por fazer pessoas desmaiarem em suas exibições, Grave foi um sucesso de críticas e rendeu 11 prêmios em festivais para a diretora e roteirista Julia Ducournau. A trama utiliza-se do canibalismo como tema central para abordar o amadurecimento e o comportamento transgressor de uma jovem, usando a violência e escatologia como elementos contextuais. Com ótima direção e roteiro, além de atuações primorosas, Grave é uma boa porta de entrada para quem ainda não conhece a nova geração do cinema de horror francês, e para os que já conhecem, não irão se decepcionar. Confira a nossa crítica de Grave aqui.