Guardiões da Galaxia Vol. 3 vem seguindo como um dos maiores sucessos de público e crítica da Marvel. Um dos temas principais do episódio final da saga galática de James Gunn é o abuso contra animais em uma realidade de ficção científica. Por causa disso, ao assistir o filme, sua história me lembrou bastante We3, uma HQ pouco conhecida da Vertigo. Ao pesquisar um pouco, descobri que o próprio Gunn tinha interesse em fazer uma adaptação desse quadrinho para os cinemas, mas, infelizmente, o projeto nunca viu a luz do dia. Em 2023, o diretor conseguiu, ironicamente, trazer muitos dos temas e visuais tratados na HQ da DC para o seu filme da Marvel.
We3 é uma HQ do roteirista Grant Morrison e do artista Frank Quitely. Esse é só mais um dos trabalhos que a dupla criativa já fez, como Grandes Astros: Superman e Batman: Asilo Arkham. Nessa história de ficção científica, o governo utiliza animais comuns como armas, colocando-os em exoesqueletos cibernéticos. Por se tratar de uma HQ adulta e com um artista como Frank Quitely, pode esperar muita violência extremamente detalhada em suas histórias. Um dos principais temas do quadrinho é justamente animais inocentes sendo usados como cobaias e armas para objetivos governamentais. O nível de detalhes, tortura e violência contra animais fofamente bizarros vistos no quadrinho foram transportados muito bem para a história dos Guardiões, sendo até bastante para muitos que viram o filme no cinema.
Da mesma forma que a HQ, o filme de Gunn coloca os animais como protagonistas e trata muito bem dessa dualidade de inocência e violência. O quadrinho ainda tem um detalhe muito mais cruel, pois mostra de forma sutil que os animais que veem como armas são na verdade pets perdidos que já tinham donos e foram capturados. Nas duas obras também temos animais falantes de forma limitada, que possuem personalidades que lembram crianças por suas faltas de conhecimento do mundo, tornando a história ainda mais pesada.
Apesar de uma trama relativamente simples, We3 conta com uma narrativa bem experimental de arte sequencial. Em algumas passagens, existem quadros que “saltam” da tela, mostrando detalhes de como os animais percebem o mundo com seus sentidos aguçados no meio de uma batalha. A dupla criativa tentou, dessa forma, trazer um tipo de narrativa diferente, usando os quadrinhos como uma forma de transpor essa percepção distinta da realidade que os animais possuem. É engraçado e irônico que nas anotações de Morrison hajam frases como “tente copiar isso Hollywood”, se referindo à forma inovadora de narrativa que eles criaram justamente para a mídia dos quadrinhos.
É interessante como James Gunn consegue pegar inspirações de locais diferentes para contar uma história diferenciada de tudo que vimos na Marvel até então. Claro que seu Guardiões da Galáxia Vol. 3 tem bem menos violência para apelar a um público maior, e também trata de outros temas bem mais emocionais. O próprio diretor vem de uma produção de filmes mais trash antes de entrar para a Marvel e fico feliz de ver diretores que conseguem misturar bastante referências para criar algo único. Se você gostou dos temas abordados no último Guardiões e, principalmente, gosta de quadrinhos que experimentam na sua mídia, We3 é bastante recomendado. Só fique avisado que a violência contra bichinhos é bem mais pesada do que no filme que se inspirou nele.
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