Joe Hill oferece quatro histórias estranhas, com um nível de crueza e realismo bastante críveis, e esconde em três delas o seu efeito sobrenatural e em outra o terror que só os homens são capazes de proporcionar. Tempo Estranho é como quatro livros em um. Não são contos, são romances curtos (ou as comumente chamadas ‘novelas’, mas não como as da TV).
O primeiro, “Instantâneo”, foi o que menos gostei, não parece o Hill que conheci no livro de contos anterior; a ideia de uma Polaroid que revela fotos do futuro é boa, mas o desenrolar segue travado. Em seguida, temos a melhor história (do livro e que li esse ano) em “Carregado”, repleto de personagens envolventes em uma trama brutal sobre o estranho tesão armamentista norte-americano.
“Nas Alturas” é a mais fantástica das novelas de Tempo Estranho (no sentido de abraçar um pouco mais a fantasia mesmo), a mais delirante e com um esboço de final feliz, ao contrário da anterior. Por fim, “Chuva” promove um fim de mundo através de ‘agulhas’ que caem do céu. Todas as quatro histórias partilham das memórias de seus protagonistas, desfechos poderosos e detalhes reais das cidadezinhas dos EUA que o autor herdou do pai ao descrever, mas ainda trazendo pormenores deliciosos que só sua narrativa irônica, cínica e maravilhosa é capaz de realizar. A edição da HarperCollins entrega dezenas de erros quase imperdoáveis, mas a tradução compensa emulando a voz de Joe Hill. Uma leitura recompensadora e estranha na medida.
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