Roy Lewis mostra sua versão da evolução humana
Falecido em 1996, o jornalista e sociólogo Roy Lewis escreveu “Por Que Almocei Meu Pai” em 1960, quando sua obra se tornou cult na Inglaterra e aos poucos foi sendo descoberta pelo público até o redescobrimento em outros locais da Europa como França e Itália já na década de 1990. Mas o que torna seu livro tão especial?
Em Por Que Almocei Meu Pai , acompanhamos a trajetória do homem-macacado no Pleistoceno médio através dos olhos de Ernest e sua família, composta especialmente pelo seu pai Edward, um visionário obcecado pela evolução e desenvolvimento da espécie.
“Nunca acreditei na versão do Gênesis – Adão, Eva e a maçã -, e então decidi reescrever a evolução a meu modo. Acho que não fiquei muito longe da verdade. Tudo está escorado sobre sólidas bases científicas.” Essa citação do próprio Lewis, inserida na edição da Companhia das Letras, está totalmente de acordo com a proposta do livro. Diversos termos científicos são inseridos no texto (devidamente traduzidos por Celso Nogueira) dando à obra aspectos de não-ficção e a diferenciando de qualquer coisa que você já tenha visto, numa competente combinação com a comédia.
Alguns paralelos são facilmente traçados entre o Pleistoceno Médio de Roy Lewis e nosso tempo, como o falso conservadorismo (ou revolucionário moderado) representado pelo tio de Ernest, Vanya. Quase totalmente contra o uso do fogo, não é incomum vê-lo indo reclamar e discutir os riscos de tais experimentos enquanto se aquece próximo à fogueira ou come carne assada.
Outro ponto chave é a relação de Ernest com seu pai Edward. Há uma influencia de Totem e Tabu (Sigmund Freud) aqui, onde o filho se sente constantemente minado pelas ações do pai. Após uma série de atos do patriarca (incendiar a floresta, proibir o incesto e querer dividir conhecimento com semelhantes) há um desgaste profundo e, com o encorajamento de sua esposa Griselda, Ernest trará questões de suma importância à tona como: parricídio, religião e moral.
O papel da mulher é claramente retratado através do advento tecnológico. Se no início a mulher caçava junto com os homens, suas tarefas foram se tornando cada vez mais domésticas conforme as inovações surgiam, restando ao sexo feminino cuidar do lar e dos filhos, e às vezes manipulando situações como mostra Griselda. Esse pensamento machista demorou para ser desconstruído e até hoje sofre grande resistência de muitos lados.
De leitura rápida, Por Que Almocei Meu Pai não deve levar mais de três dias para ser devorado (com dedicação é possível terminar em um). O didatismo também pode ajudar no entendimento de questões como formação e modificação de culturas e a influência que novas tecnologias exercem sobre essas mudanças.
LEWIS, Roy. Porque Almocei Meu Pai. Companhia das Letras, 1993.