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Black Hammer: Origens Secretas (Jeff Lemire) | Crítica

Editora Intrínseca traz encadernado de Black Hammer contendo as 6 primeiras partes dessa historia roteirizada por Jeff Lemire e com a arte de Dean Ormston, que nos apresenta um visão extremamente humana de uma família heroica e desfuncional

A desconstrução do mito do herói sempre rende excelentes tramas, pois pegam-se conceitos bastantes estabelecidos e muda tudo, em um plano diferente do que estamos acostumados. E é justamente o que nos é apresentado em Black Hammer – Origens secretas, publicado pela Editora Intrínseca e que copila as 6 primeiras edições em um encadernado cheio de extras.

Para os apreciadores da escrita de Lemire em seus trabalhos mais autorais como O Condado de Essex e Sweet Tooth, já sabe que a pegada do autor é trabalhar aspectos familiares, mesmo que aparentemente eles sejam desfuncionais. E a melancolia e a aura de desesperança, estão sempre sobrevoando os contos desse autor Canadense. Black Hammer tem essa aura, dos personagens perdidos, desiludidos com o mundo que eles estão forçados a viver.

Imagine a época de ouro do quadrinhos, o vigilantismo em alta, grandes e poderosos seres surgindo, personagens bem comuns dos leitores sendo apresentados de outra forma. Estão ali uma versão do Capitão America que carrega a alcunha de Abraham Slam. Uma versão completamente diferente do Shazan faz parte do panteão de heróis, a Menina de Ouro. Cada personagem dos heróis de Spiral City, carrega um pouco do universo que conhecemos e amamos, Coronel Weird, Madame Libélula, Talki-Walky e Barbalien, são criaturas bastante próximas de nos leitores, é uma forma de Lemire homenagear seu amor pelos quadrinhos, mas com toda a carga dramática tão presente em suas obras.

Esse grupo de super-heróis se uniram para combater o Antideus, uma versão do Galactus, com a cara do Darkside que iria colocar um fim a humanidade. O grupo de 7 guerreiros, sim, 7, pois ainda não falei de um em especial, o personagem que da nome a HQ, Back Hammer, que é uma das grandes incógnitas dessa historia, lutam contra o gigante ser, e salvam a humanidade, mas pagam um terrível preço no processo. Eles são transportados para uma fazenda em uma pequena cidade do interior, onde ficam trancafiados em uma especie de prisão dimensional. mas o fato, é que é uma pequena cidade do interior dos EUA, como qualquer outra cidade. E eles precisam ter uma vida normal.

No decorrer dos 6 capítulos, vemos que 10 anos já se passaram desde a grande batalha, mistérios envoltos da situação dos personagens, perguntas sem respostas impulsionam a trama e deixa o leitor completamente conectado com essas versões de bastiões das HQs. Abraham tenta viver uma vida simples, de fazendeiro, que protege sua família a todo custo, mas que tem seus anseios e encontra o amor em meio de uma prisão dimensional da qual ele não pode sair. A pequena Gail, a poderosa Menina de ouro, não pode mais acessar sua versão adulta e continua presa em um corpo de uma menina de 9 ano, e todas as dores da pequena Gail, são tão emocionantes e angustiantes, afinal, ela tem duas prisões e isso esta destruindo a personagem a cada instante.

Coronel Weird, é o único que consegue acessar um outro universo, a Parazona, mas isso custou muita coisa para, inclusive, sua sanidade. Mark Markz ou Barbalien  uma versão do Ajax o Marciana da Liga da justiça, também é um Marciano, só que vermelho, que busca não ser esse mostro que pensa dele, que busca que as pessoas possam entender sua alma e suas dores, o mais humano dos personagens. A robô Talki-Walky, apesar de não ter sua historia muito aprofundada, é responsável por algo que será um grande start para a continuação da trama. Madame Libélula fecha o combo desse grupo de presos temporais, com uma aura cheia de mistérios, terror e uma dor tão profunda e perturbadora, que só nos faz querer conhecer mais da personagem.

Somos brindados no decorrer da narrativa, com pequenos trechos do passado de cada um dessas criaturas, menos a de Black Hammer, que apenas sobrevoa a vida dos nossos heróis, até que alguém muito importante para o desenrolar da HQ é introduzida, alguém que esta completamente ligada ao Black Hammer, o grande herói de Spiral City!

Em uma narrativa densa, as vezes sombria, depressiva e repleta de momentos de pura emoção e ligação humana, Jeff Lemire brinca com o conceito do clássico heroísmo e introduz sua próprias regras que casam fabulosamente com a arte de Dean Ormston (Livros da magia) pois trazem a mesma linguagem visual densa que os roteiros não apenas pedem, exigem! As cores do aclamado colorista Dave Stewart, complementam esse casamento, e trazem o deslumbre visual sombrio que é a cereja do bolo.

Um grande trabalho editorial da Editora Intrínseca, que trazem uma bela edição, recheada de extras, cada capitulo é separada com as capas originais de Ormston e capas variantes com artes do próprio Jeff Lemire. Contém também um prefacio do autor, e fichas dos personagens quando eles ainda não tinha tomado a versão que vemos hoje.

Black Hammer foi vencedora do Eisner Award em 2017 na categoria de melhor nova serie e lá fora, já esta em seu terceiro arco, ainda tendo gerando vários spin-offs.

A Editora Intrínseca já confirmou a publicação de mais dois encadernados, Black Hammer – The event e Black Hammer – Age of Doom.

Usando palavras do próprio Jeff, Black Hammer é sim uma carta de amor aos quadrinhos e a todo um gênero tão importante para a inicialização de tantos leitores dos mundo das HQs. Mas ele nãos nos deixa esquecer, que heróis, também possuem dores e buscam entendimento de suas vidas. Um excelente conto que desconstrói o mito e mostram a carne exposta de seres que sempre enxergamos como Deuses, mas são cheios de dramas e questões tão pertinentes e próximas.

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