Crítica | Salto: temperos filosóficos e muita aventura steampunk de Rapha Pinheiro

HQ nacional, Salto mistura steampunk, pitadas de new weird, mistérios e o mito da caverna em aventura insólita

Histórias inusitadas que me tiram do marasmo sempre me trazem gratas surpresas justamente por desafiarem o comum e me colocarem em uma nova estética, em um novo universo. Nossos amigos da Avec Editora e o quadrinista Rapha Pinheiro trouxeram para o mercado brasileiro de quadrinhos algo justamente assim com Salto.

 

Se você fosse feito de fogo, teria medo da chuva?”

Sim meus amigos, os seres desse mundo, que é ambientado em um universo Steampunk, são feitos da chama primordial chamada fogo. Seres que queimam suas vidas, como qualquer ser humano, com seus medos, dúvidas e amores.

Antes cobertos de prosperidade na antiga cidade de Edos, localizada na superfície, as pessoas de fogo viviam prósperas e felizes, até que a chuva veio implacável e poderosa, forçando os seres de fogo a entrarem cada vez mais nas entranhas terrenas. Tecnologias foram desenvolvidas para a possível existência da população e um estado de trabalho totalitário é implantado, para que o ar seja filtrado e a vida possa existir nessa nova civilização.

Em Salto acompanhamos o inquieto , um jovem com o coração curioso que viveu toda a sua vida na cidade subterrânea de Intos, sob o julgo do preconceito diário por ter uma cor diferente, ele é azul. E o jovem carrega dentro de si a particularidade de sempre buscar algo em seu coração, algo que preencha suas incertezas, nem que seja a base dos “saltos” incomuns que ele consegue dar pela cidade e suas infraestruturas de cimento, aço e fumaça. Juntos do nosso heróis, temos a intempestiva Mae, uma mulher que defenderia o amigo em qualquer momento, pois o que eles nutrem um por outro nem a chuva mais torrencial poderia apagar.

Cheio de personagens curiosos e bem estabelecidos na trama, os roteiros de Rapha tem um pouco de tudo: um conto retro futurista, cheio de investigação, duvidas implantadas na massificação de ideias que geram o bem comum, a abertura de novas possibilidades e muita aventura.

Os traços e a narrativa visual de Rapha Pinheiro é bastante peculiar, ele traz algo vivo como “fogo” em suas cores, e muito movimento. Sinto que em alguns momentos faltam fundos em seus quadros, mas em um segundo, ele apresenta um cidade viva como background, que gera a pergunta se a falta de fundo em determinados momentos é de propósito para dar destaque a figura em ação. Outro momento em sua arte que me gerou um certo desconforto foram os traços de esboços, eles são deixados, e acredito que totalmente proposital, mas eu não consegui assimilar o motivo para o lápis ainda permanecer ali, algo que gerou bastante curiosidade.

Uma narrativa cheia de grandes momentos de aventura, Salto é um desafio de criatividade muito bem executado e muito agradável de ler, brincando com conceitos de narrativas de mundos distópicos, temperos filosóficos e muita ação.

  • Formato: 21×28 cm
  • 96 pgs coloridas em couché fosco 115g