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Popeye – Um Homem ao Mar

Popeye é um dos mais antigos e conhecidos personagens do universo de cultura pop, inspirado num marujo que realmente existiu (Frank “Rocky” Fiegel). Estreou em 1929 como coadjuvante de Thimble Theatre, uma série de tirinhas cômicas criada por Elzie Crisler Segar em 1919 e rapidamente tornando-se seu protagonista, com suas histórias continuando no universo dos quadrinhos (tanto em tirinhas de jornais, como em revistas). Se consolidou mundialmente principalmente pelas animações produzidas por Paramount Pictures e Hanna-Barbera, sucesso dos anos 1960 até os 1990, a ponto de, inclusive, ter sido adaptado no cinema em 1980, em filme dirigido por Robert Altman e estrelado por Robin Williams como protagonista, que buscou se aproximar mais de seu estilo nos quadrinhos.

Após seus direitos terem ido a domínio público na Europa, o escritor francês Antoine Ozanam e o desenhista brasileiro Marcelo Lelis produziram, na França, em 2019, a graphic novel Popeye – Um Homem ao Mar, lançada este ano no Brasil pela editora Skript, trazendo uma releitura em tom dramático, sem perder de vista os elementos presentes na origem do personagem. Numa história curta (apenas 120 páginas), Ozanan apresenta um roteiro excelente numa abordagem realista, mantendo as características de Popeye (falastrão, corajoso, brigão etc.), sempre com seu espinafre, e todos os elementos que o cercam e marcam, mas de forma mais aprofundada.

Num contexto melancólico, poético em alguns momentos, que a arte aquarelada de Lelis representa de forma tão bela, Popeye é um pescador solitário com muitas dificuldades para se sustentar, dada a concorrência com grandes companhias de pesca, mantendo-se de forma autônoma, embora em um certo momento necessite se ausentar do mar, seu verdadeiro habitat, para onde volta posteriormente, embarcando em uma esperançosa busca idealizada pelo irmão de Olívia, aqui retratada de forma diferente da figura tão frágil das animações, trabalhando no bar Dureza, em meio a um dia a dia tão áspero com as figuras que frequentam a região portuária, onde conhece e logo encanta Popeye, inclusive pela forma como o confronta.

A história vai apresentando novos personagens junto aos já tão conhecidos, ressignificando-os e atribuindo-lhes camadas: a razão do incessante espinafre, os motivos da violenta (e justificada) rixa com Brutus, Dudu e sua paixão por hambúrguer, a relação fria e áspera com o Vovô Popeye (a quem não chama de pai, inclusive contando a triste origem do apelido), o desenvolvimento do relacionamento com Olívia, além da comovente história do bebê Gugu, que expõe a generosidade, o companheirismo e o lado amoroso que Popeye esconde por baixo de uma carcaça tão habitualmente rude, marcada pelas dificuldades que a vida lhe trouxe. É uma leitura que vale muito a pena.

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