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La Dame Chevalier e a Mesa Perdida de Salomão | Crítica

Le Chevalier está de volta! A franquia de A. Z. Cordenonsi agora toma novos ares, trazendo uma nova protetora do Império Francês, numa aventura que irá explorar o norte do continente africano em La Dame Chevalier e a Mesa Perdida de Salomão, publicado pelos nossos parceiros da Avec Editora, que abriga essa e muito mais obras envolvendo o fascinante subgênero steampunk.

Neste livro, acompanhamos a trajetória dessa nova protagonista que, apesar da pouca idade, já possui cicatrizes físicas e mentais de um passado de dificuldades. Ainda bebê, ela teve o corpo maculado pelas chamas num episódio que ceifou a vida de seu pai e sua mãe, mas a garota sobreviveu para alcançar voos maiores. Porém, ela é surpreendida no tempo presente por uma chamada do Bureau para investigar um caso recente que possui ligações com a morte de seus pais, décadas atrás. Isso dará início a uma caçada por artefatos (como a Mesa de Salomão do título) e revelações do passado.

Acredito que o autor tenha investido mais tempo na elaboração da história do que na execução (Cordenonsi é doutor em UFRGS e pesquisador há vinte anos). De poucas páginas, A Mesa Perdida de Salomão pode ser aproveitado facilmente em um ou dois dias, dependendo da velocidade de leitura de cada um. Temos então uma trama bem amarrada, que aproveita uma motivação pessoal junto com outra de maior dimensão que é a relação entre os assassinos dos pais da atual Chevalier e um caso recente ocorrido no Marrocos.

Além da questão bíblica, referências históricas são usadas de forma orgânica na trama, como a lembrança da Batalha de Verdun num momento de elaboração estratégica da protagonista. Ao mesmo tempo, esse conteúdo revela um trabalho de pesquisa bem feito por parte do autor.

Particularmente, gosto muito da forma como Cordenonsi conduz os elementos de steampunk da franquia. Em La Dame Chevalier, por exemplo, temos um interessante e urgente passeio por um escorpião mecânico no meio do deserto. O autor descreve a situação fazendo uma analogia ao modo como conduzimos um veículo automotivo convencional – e o sentimento de vergonha que bate quando afogamos o carro, por exemplo. É algo bem simples e sútil, mas que ajuda a gerar empatia com a protetora do Império Francês.

O fato de ser uma edição com poucas páginas impede uma trama longa, mas isso não prejudica o desenvolvimento dos principais personagens. A jovem Justine Carbonneau, além da divertida dinâmica com a Chevalier, possui bons motivos pra estar ali, trazendo consigo outro diferencial da obra que é conversar com o universo criado pelo autor. Se você não leu ou não se recorda tanto assim dos outros livros, tudo bem, a história continuará funcionando. Caso você já seja um leitor da série, vai curtir ainda mais os easter eggs.

E a perspectiva é de mais aventuras no futuro. Algumas questões, como o envolvimento da protagonista com a misteriosa organização Ostia Mithrae, ficam na metade do caminho. Ainda assim, podemos ter uma boa noção de como o grupo se comporta – e fazer alguns paralelos com o mundo atual acerca de interpretações equivocadas ou mesmo ódio mascarado de crença.

La Dame Chevalier é uma obra gostosa e rápida de se aproveitar, mas que acrescenta bastante em qualidade à franquia de A. Z. Cordenonsi. Não pela mudança de gênero de herói para heroína, mas por fazer isso respeitando o universo criado anteriormente para incluir novos elementos.