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Apatia Escarlate

Uma vez eu li que um bom conto é aquele que, quando estamos lendo, temos a sensação de que a história possui um passado interessante, ao passo que, depois da leitura, também ficamos com a mesma impressão sobre o futuro dos personagens. Em Apatia Escarlate, escrito pela redatora e revisora Becky Cunha, essa máxima é mantida muito bem, mas o grande diferencial da sua criação não está no passado nem no futuro, e sim no presente.

A trama acompanha Beatriz, uma ilustradora com tendências suicidas que, num momento de total desprendimento com o mundo, tem seu caminho cruzado com o de Nicholas, um ser imortal que busca saciar sua sede de sangue e alguma diversão pela noite na cidade de Fortaleza. Em outras palavras: ele é um vampiro.

O fato dessa história ser escrita por uma colega de CosmoNerd me impede de tecer aqui uma crítica das mais imparciais. Então fique avisado. Mas dane-se, esse trabalho é para os leitores beta: Apatia Escarlate é um prato cheio para quem quer uma história envolvente que critica a si e a sociedade, gerando uma reflexão muito bem-vinda sobre a condição humana.

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Por mais que esse seja o trabalho de estreia da Becky na plataforma da Amazon, a verdade é que ela tem atuado no mercado literário há alguns anos. Sua principal atividade, a revisão (da qual ela é profissional) parece ter contribuído bastante para que esse debute seja dos mais satisfatórios. Além disso, a autora também possui diversos outros contos na plataforma Médium, isso sem contar que Becky é uma leitora voraz, dessas que consegue ler e absorver uma obra com invejável habilidade e velocidade. Essa base, junto com experiências pessoais e uma boa carga de pesquisa, dá forma ao conto.

A narrativa consegue explorar bem os aspectos da temática vampiresca que a autora adota. Algumas coisas são subvertidas, como a falta de ligação dos vampiros com a sexualidade, pouca ou nenhuma ambição financeira, além da ideia de cada vampiro desenvolver alguma habilidade especial.

Nicholas, por exemplo, consegue influenciar no humor das pessoas ao redor. Mesmo que esses superpoderes possam remeter (e em alguns casos remetem) aos personagens de Os Sete, de André Vianco, Becky consegue explorar esses atributos de modo hábil, servindo como combustível para o instigante e agridoce final da história.

O grande lance, no entanto, é a relação entre Beatriz e Nicholas. Ambos possuem seus dramas devidamente desenvolvidos, ao passo que seus papéis acabam se invertendo em outros momentos.

Outro ponto a destacar é a leitura sensível da escritora, que leva em conta não apenas possibilidades corriqueiras dos personagens dentro de uma condição pra lá de inusitada, mas também debates mais delicados acerca de transtornos mentais, como no caso da protagonista, que possui tendências suicidas. Para isso, há um aviso de gatilho logo no começo. Já no lado de Nicholas, isso se manifesta com o fato dele, apesar de ser um poderoso vampiro, vir de uma época onde existia a escravidão institucionalizada no país.

O que podemos chamar de defeitos, dentro deste conto é facilmente atribuível ao próprio formato. Nas quarenta e poucas páginas da história, acaba faltando um desenvolvimento maior que dê à protagonista um carisma na sua profissão de ilustradora, sem contar que, após uma série de acontecimentos, seria prudente ela ter se preocupado em algum momento com a sua família, por mais distante que fossem afetivamente. No mais, Apatia Escarlate merece muito ser lido.

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