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Crítica | Adagio (AVEC Editora)

Contemplada pelo ProAc de Historias em quadrinhos da Secretaria de Cultura de São Paulo e publicada pelos nossos parceiros da AVEC Editora, Adagio é uma baita HQ futurista com conceitos próximos de nossa realidade e críticas sociais que renderia um excelente episódio de Black Mirror

Já falamos aqui do trabalho de roteirista do Felipe Cagno, inclusive em entrevista que fizemos com ele na CCXP. Felipe tem se solidificado como um dos grandes nomes do quadrinhos nacional, com HQs como The Few and Cursed (Os Poucos e Amaldiçoados), Lost Kids, Escolhas e muitos outros trabalhos. Eis que ele nos apresenta uma narrativa futurística em Adagio.

O ano é 2067, e o aplicativo Adagio tomou conta do mercado. Essa nova rede social permite gravar seus sonhos, exibir e postar para que milhões de pessoas possam assistir. Imagina você expor teus desejos mais íntimos, deixar tua carne exposta pelo simples view e likes?

Mas será que já não fazemos isso?

As duas amigas Kaya e Pen vão entrar em vários dilemas pessoais em ter a vida rasgada para o prazer desses milhões de views. Terão os mais íntimos segredos e desejos expostos e descobrirão até onde o limite do sonhar pode mexer com nossa vida no mundo real, e que monstros estão escondidos no limiar de nosso subconsciente. Mas o homem sempre pode ser o maior de todos os monstros.

A HQ conta com a presença de dois ilustradores. Sara Prado, que com uma narrativa visual muito fluida, mostrando um futuro limpo e higienizado, consegue nos localizar nesse universo muito bem. Para as partes do sonhar, contamos com a arte absurdamente visceral do Bräo, que nos mostra os pesadelos de uma forma assustadora, mas com uma sensualidade latente nas páginas.

Adágio é uma baita primeira visita a esse universo construído por Felipe, que facilmente viraria um episódio de Black Mirror com sua critica social latente, mostrando a forma como lidamos com as redes sociais e a exposição de quem somos e nossas intimidades mais secretas, ao alcance de um click. Uma HQ necessária para os dias de hoje, onde a banalização e a exposição da vida por troca de curtidas é tão pressente em nossa sociedade.