Por que você deveria ler Jorge Luis Borges?

Porque você deveria ler Jorge Luis Borges? Bem, por muito tempo adiei essa leitura, talvez pelo peso do autor. Quando finalmente dei uma chance, senti sensações parecidas com aquelas que nos atacam ao assistir maluquices como Rick and Morty. Isto porque Borges consegue criar mundos inteiros, escrever histórias dentro de histórias, levar nosso pensamento até o limite e, ao mesmo tempo, zombar da humanidade.

Vou tentar te explicar porque essas distopias que a gente vê em livros, filmes e desenhos animados foram influenciados, mesmo que não diretamente, pelas criações desse argentino. Quem conhece, sabe que adorava tratar sobre tempo, infinito, espelhos, labirintos… E fazia ensaios sobre as coisas mais inusitadas, como o idioma dos vikings! Se você nunca leu nada dele e é desse tipo de narrativa que gosta, vou recomendar três obras que podem ser um ótimo ponto de partida para começar a ler Jorge Luis Borges.

Antes disso, é importante citar fatos curiosos sobre sua vida. Jorge foi um menino tímido, que sofreu bullying no colégio, e esse foi um dos motivos por que passou a ser educado em casa. Como seu pai era britânico, aprendeu o inglês antes do espanhol, apesar de viver em Buenos Aires. Seu primeiro contato com o mundo dos livros foi, portanto, com a literatura de tradição inglesa e, talvez por isso, o fantástico em suas histórias fosse um pouco diferente daquele desenvolvido por outros escritores latinos. Nestes, somos tocados mais pela emoção, enquanto com Borges é a brincadeira com a razão humana que nos surpreende.

Sua produção é composta por narrativas curtas e isso se deve, em grande parte, porque ficou cego, lá pelos 50 anos. Muitos dos seus contos foram ditados e teve que contar com a ajuda de amigos e parentes para escrevê-los. Essa curiosidade foi só para avisar: fica atento quando o arquétipo do ancião cego, escritor ou bibliotecário, aparecer por aí, pois, provavelmente, é uma referência a Borges. Principalmente se esse personagem faz resenhas sobre obras cuja existência é duvidosa (como Jorge de Burgos, em O nome da Rosa, ou Zampanò, em House of leaves).

Aliás, ele também trabalhou como bibliotecário e aproveitou essa oportunidade para explorar enciclopédias e consumir o que estava à disposição. Leu tanta coisa que podia afirmar: tudo já foi criado. Não haveriam mais ideias novas, somente as mesmas histórias, em formatos diferentes. Por isso, gostava de experimentar novos modos de contar e, além disso, criava histórias a partir do que lia, fossem essas leituras verdadeiras ou não.

Por exemplo, Tlön, Uqbar, Orbis Tertius é um conto em que o próprio Borges narra a descoberta de uma nota de rodapé em uma enciclopédia. Esta nota dá uma pequena informação sobre um país que, depois de muito procurar, conclui que não se encontra na Terra. Ao procurar mais sobre essa nação, descobre que, além dela, há um planeta inteiro, em uma realidade paralela. Com o desenvolvimento da trama, faz a gente se perguntar: “é o livro que precisa do mundo para existir ou o mundo que precisa do livro?”

Seus relatos são sempre tão detalhistas e lógicos que quase acreditamos que são reais. É como diz aquele ditado: “ninguém vai acreditar se você disser que viu um elefante voando, mas se falar que observou 325 dessa espécie no céu, vai ser mais difícil duvidar”. Borges também usava o potencial da filosofia para as narrativas fantásticas, de forma que satirizava o raciocínio filosófico. Mas sua lógica mirabolante revelava o vasto conhecimento que tinha sobre o pensamento desses sábios, que tentaram explicar nosso mundo caótico.

Assim, escrevia histórias como a de um homem que cria outro por meio dos sonhos, bibliotecas que contém livros sobre absolutamente tudo (o que existe ou não) e a possibilidade de poder ver todos os espaços e detalhes do universo, estando em um só lugar. Essa última, inclusive, vai ser minha primeira dica: