Jogo Brasileiro focado na experiência cooperativa mostra o poder do mercado indie no Brasil.
Um dos aspectos que mais sinto falta dos jogos antigos é a experiência de jogar multiplayer com seus amigos ou, como a gente gostava de chamar por aqui, jogar “de dois“. Claro que hoje em dia temos jogatinas online com centenas de jogadores ao mesmo tempo e nem precisamos sair de casa, mas essa experiência de jogar com amigos mudou. É nessa onda de nostalgia e foco na cooperação entre jogadores, que tenho o prazer de falar do jogo brasileiro No Heroes Here.
O jogo é o primeiro produto da empresa brasileira Mad Mimic Interactive. O que é realmente impressionante, a empresa situada em São Paulo já demonstra um grande esmero e cuidado em seu primeiro produto, lançando um jogo indie de ótima qualidade que não fica atrás de produtos internacionais.
No Heroes Here segue a onda de jogos focado na experiência cooperativa como em Lovers in a Strange Space Time e Overcooked. O jogo é mais focado na mecânica e traz a história de personagens que não são exatamente heróis tendo que proteger o seu reino de hordas de invasores. Para isso, os jogadores vão ter que cooperar para produzir as munições dos canhões que protegem os seus castelos.
O jogo é uma mistura de plataforma side-scrolling com tower defense de uma forma bem criativa. Cada fase é um castelo com um level design diferente que precisa ser defendido das hordas de invasores. A principal arma dos nossos “não-heróis” são canhões que precisam ser preenchidos com tipos de munição diferentes. Para fazer cada munição os materiais precisam passar por fornos e mesas de oficina, ou seja, os jogadores precisam cooperar e lutar com o tempo para revesar na criação dos materiais antes que os invasores destruam as portas do castelo.
O jogo varia um pouco nos inimigos e nos tipos de munições. Existem inimigos mais fracos que podem atacar de perto ou de longe e outros mais fortes que precisam de mais de um ataque para serem mortos. Além disso existem algumas munições que explodem, prendem ou deixam os inimigos mais lentos. É preciso ter pensamento estratégico para saber qual arma atirar primeiro e onde atirar. Mas a grande sacada do jogo é seu level design dos castelos, em um jogo normal temos a fase com inimigos e desafios pensados enquanto o jogador avança, aqui a própria base dos jogadores é o level, eles tem que pensar e cooperar para chegar o mais rápido possível nos locais importantes no local certo e organizar quais tipos de munição devem ser feitas na hora certa. Um salto errado ou uma falha de planejamento podem significar a derrota em um level.
À primeira vista, o jogo parece simples e fácil, mas ao jogar percebemos que é um desafio para poucos. Eu tive a experiência de jogar com outra pessoa e sozinho. No primeiro caso o jogo é difícil e necessita de bastante cooperação e estudo do cenário para poder ser vencido. No jogo solitário o game parece quase impossível, você tem que alternar entre os personagens mas o level design e os inimigos não mudam, o que torna uma experiência frustrante. Como o foco do jogo é o multiplayer de até 4 jogadores, isso não é um problema, mas eu gostaria de ver um balanceamento melhor para se jogar sozinho. O legal é que o jogo pode ser jogado tanto online como local, para ter uma experiência ainda mais nostálgica.
O jogo tem um bom escopo para um indie, são 3 mapas com mais de 10 fases cada, incluindo chefes. Além disso temos algumas fases bônus mais difíceis e cada fase possui status e modos hardcore, para aumentar a rejogabilidade. Cada mundo possui mecânicas e inimigos diferentes, em arte e interações.
A arte do jogo é muito bonitinha e segue para um caminho de pixel art cômico, é uma arte minimalista que só mostra o que é preciso sem sujar a tela mas mesmo assim compondo uma tela bonita e colorida de ser apreciada. A equipe de arte está de parabéns. As músicas também conseguem cumprir bem seu papel mas acredito que ao se jogar com muita gente pouco vai se escutar dela ou dos efeitos sonoros, pois todos estarão gritando loucamente para seus colegas.
No Heroes Here é um jogo com mecânicas e ideias bem simples mas bem executadas. Os controles funcionam bem mas em alguns momentos alguns pulos não dão certo como eu imaginaria, nada que atrapalhe na experiência. Não deixe se enganar pelo rostinho bonito e fofo, é um jogo desafiante que precisa ser jogado com 2 pessoas ou mais para ser aproveitado ao máximo, recomendado para se jogar com amigos, namorada, pais ou cachorro. Fico muito feliz em fazer o review de um jogo indie brasileiro tão bem executado, mostrando que o nosso mercado pode sim evoluir e ser exportado.
No Heroes Here está disponível para PC no Steam e brevemente na PSN, XboxLive e Nintendo Switch.