The Signifier Director’s Cut

Talvez você já tenha visto aquelas imagens bizarras geradas por Inteligência Artificial fazendo uma mistura de várias coisas que vemos na internet. Muito chamam isso de “sonhos de IA”. The Signifier é um jogo que se apropria dessa ideia e faz o jogador entrar nesses sonhos gerados por computador em uma história de mistério, moral e questões éticas.

No jogo, você controla Russel, um pesquisador de IA e psicologia que precisa investigar a morte de Johana, a vice-presidente  de uma grande empresa de tecnologia. Para isso, o personagem utiliza uma máquina capaz de entrar na memórias da vítima armazenadas em um HD. Mas, ao afundar mais e mais na mente e no passado de Johana, o jogador vai entendendo mais sobre a complexa psique na personagem e se envolvendo em conspirações e questões morais.

O aspecto que, literalmente, salta aos olhos inicialmente em The Signifier é o seu visual quando o jogador entra na simulação de computador. A inteligência artificial consegue interpretar a mente das pessoas digitalizadas, mas não faz isso de forma perfeita por tentar interpretar algo complexo como a mente humana. O resultado são cenários que parecem ser tirados de um quadro expressionista, cubista ou até mesmo de um jogo dando glitches. Eles são interessantes não somente por seu visual, mas também no level design, fazendo você caminhar por esse mundo onde as regras da física não são necessariamente respeitadas. Destaque para uma cena específica onde o “sonho” representa a personagem saindo de seu apartamento, pegando o elevador e fazendo uma viagem de carro até outro local, tudo isso representado de forma rápida em que o jogador só caminha em um túnel por alguns segundos.

The Signifier Director’s Cut é meio puzzle e meio walking simulator, digo isso porque os desafios do jogo não são exatamente muito difíceis e a grande diversão vem de passear por esses locais malucos e desenrolar a história cheia de mistério. Existem alguns puzzles  um pouco confusos pois, em certos momentos, fica subjetivo demais, mas geralmente eles são bem de boas até pra mim que costumo ser bem ruim nesse tipo de jogo. O aspecto de pixel hunting acaba ajudando bastante a aproveitar esses cenários, pois você acaba observando e interagindo com o mundo a sua volta de forma mais significativa, prestando atenção ao detalhes.

Em questão de gameplay, ele traz algumas ideias interessantes que nunca são muito reutilizadas ou desenvolvidas principalmente por causa da sua curta duração. Dentro das simulações, você pode, por exemplo, mudar entre os estados objetivo e subjetivo da mente, cada um representando o mundo de forma diferente. Além disso, existem alguns objetos “bugados” e fora de lugar que você precisa colocar no lugar. Em certos momentos, também existem “bugs” temporais que precisam ser resolvidos. Mais uma vez, todas essas ideias são pouco usadas por causa da curta duração do jogo mas, sinceramente, eu prefiro uma experiência mais contida de 4 horas do que um jogo enorme que fica repetindo mecânicas. Também há uma dinâmica interessante de alternar entre o mundo real e a simulação da máquina para não ficar tão cansativo. Nas cenas da realidade, normalmente são quando aparecem opções de diálogo com questões morais que vão alterar o final.

Acredito que o ponto forte é a sua história e a forma como ela é contada. O jogo é um grande estudo de personagem em que você vai descobrindo sobre o passado e a mente da sua vítima para entender suas motivações e traumas. Em diversos momentos, ele me lembrou bastante o ótimo To The Moon, só que apresentado de forma mais séria e imersiva, por causa dos cenários em 3D. Percebe-se que houve uma boa pesquisa tanto sobre tecnologia como também sobre psicologia para desenvolver os conflitos da narrativa, inclusive trazendo temas que normalmente não são vistos em jogos, mesmo aqueles mais adultos. Como você está em sonhos subjetivos criados por uma IA, muito fica aberto à interpretação, dando ainda mais a ideia que você está navegando por uma obra de arte moderna e não figurativa.

The Signifier Director’s Cut é um jogo curto, com puzzles simples mas que traz discussões complexas sobre ética, tecnologia e psicologia. Não sou muito fã desse tipo de jogo, mas por ser uma experiência contida e que sabe exatamente a história que quer contar, ele me pegou. Alguns puzzles e diálogos poderiam ser um pouco mais claros, em certos momentos tive que fazer escolhas morais baseadas em siglas e termos que não foram muito bem explicados. Não sei se o objetivo era confundir o jogador, mas me pareceu mais uma falha de roteiro. Por falar em falha, apesar da versão do diretor resolver alguns bugs, ainda encontrei alguns poucos pelo caminho, inclusive diálogos e textos que não foram traduzidos para a versão em português. Essa nova versão do jogo também apresenta novos diálogos, novas cenas e finais, sendo a experiência definitiva originalmente idealizada. Muito recomendado para aqueles que curtem uma experiência imersiva de ficção científica.