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Tell Me Why: Capítulo 1 | Crítica

DONTNOD usa sua fórmula para contar uma história sobre traumas e preconceito

A DONTNOD foi responsável por criar uma das melhores e mais comoventes histórias de jogos que já joguei com Life is Strange (confira um texto que fiz sobre narrativas dramáticas nesse jogo). Em 2020, a empresa retorna (mesmo já lançando o Life is Strange 2) para a fórmula de jogos narrativos episódicos com Tell Me Why e promete conter novamente um enredo tocante.

Do que se trata Tell Me Why?

Tell Me Why conta a história de Allyson e Tyler, um casal de gêmeos que se reencontra depois de anos separados. Ambos passaram por um momento traumatizante envolvendo a sua mãe por causa da transexualidade de Tyler. Eles agora vão encarar seus traumas do passado e descobrir segredos escondidos. O jogador vai alternar no controle dos dois em momentos pontuais da história.

A jogabilidade de Tell me Why não traz nada de muito novo. Você vai caminhar por aí, explorando o cenário para aprender mais sobre o mundo e conversar com pessoas. Nas conversas, pode escolher suas falas e isso tem influência em como a história vai acontecer. Se essas decisões fazem alguma diferença mesmo, só o tempo vai dizer. Ao final do episódio são mostradas suas escolhas e como isso afeta os personagens, vamos ver como isso vai se desenrolar no futuro.

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Tyler. Reprodução.

A novidade vem com o “poder” oculto que os irmãos possuem de compartilhar memórias e conversar telepaticamente. Apesar desse dom da telepatia ser bem mal explicado e não ser muito usado no primeiro episódio, eu consigo ver a mecânica sendo usada de forma interessante no futuro. A mecânica de reviver memórias é muito usada e acaba sendo uma ferramenta criativa para resolver puzzles e mostrar flashbacks.

O jogo também possui puzzles simples, um que achei interessante envolve interpretar contos infantis da sua mãe para resolver quebra-cabeças no mundo real. Apesar de ser usado somente uma vez no primeiro episódio, o livro tem vários contos e fico bastante intrigado de como eles serão usados no futuro.

Histórias que precisam ser contadas

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Mas onde o jogo brilha realmente é na sua história. É claro que entramos no clichê do sofrimento das pessoas LGBTQ+. É um pouco cansativo vermos mais uma vez uma história que se baseia no sofrimento de pessoas por causa das suas escolhas sexuais ou de gênero, como se eles não possuíssem uma vida que não fosse somente isso. Mas, por outro lado, é importantíssimo que essas histórias sejam contadas, principalmente com um dos protagonistas de um jogo. Existem momentos impactantes e nos colocar na pele de minorias sempre é válido para que uma mensagem seja passada. Mas, Tell me Why parece ir um pouco além disso, com uma revelação que aparece mais ou menos na metade do jogo e que vai pontuar toda sua narrativa.

As conversas, as interações e cenas parecem bastante críveis. Os personagens parecem reais e falam coisas que seriam faladas no mundo real. Só acho meio estranho que aceitem tão normalmente o aspecto “mágico” que existe entre os irmãos. O jogo explica que isso era algo que eles lembravam na infância mas que parecia mais uma memória fabricada. Ver dois adultos aceitando isso sem questionar de primeira foi um pouco esquisito.

Os gráficos do jogo estão bem melhores comparados a outros da empresa mas ainda existe um problema que persiste: o lip sync. Em um jogo tão focado na história e narrativa, é um pecado que a sincronia labial dos personagens seja tão mal feita. Em diversos momentos  não parece nem um pouco que eles estão falando os sons que saem das suas bocas. Apesar disso, os cenários e o mundo em si parecem bem reais, mas nunca reais demais, sempre com um toque meio cartoon. Criar um mundo coerente assim é de extrema importância para um jogo do tipo e eles fizerem um bom trabalho. Isto posto, a música encaixa bem com a história e consegue trazer alguns momentos emocionantes logo no primeiro episódio.

Veredito

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O início de Tell me Why é um pouco lento, pois está desenvolvendo os personagens e aquele mundo. Apesar disso, consigo ver coisas interessantes acontecendo tanto mecanicamente como narrativamente nos próximos episódios. Estou intrigado para saber quais segredos os irmãos vão descobrir e quais serão suas reações. Recomendo para todos que curtem uma boa narrativa interativa e que não acham que falar sobre questões de gênero seja só “lacração”.