Pandemic Legacy – Diário de Campo – Janeiro

Introdução

Essa série de contos (ou fanfic, chame como quiser) que veremos a seguir são inspirados nas minhas experiências com o jogo de tabuleiro Pandemic Legacy. Nesse jogo, cada partida representa um mês do ano em que os jogadores tentam conter doenças atingindo todo o mundo. Esse primeiro conto contém SPOILERS sobre o mês de Janeiro, espero que gostem.

Diário de Campo
Operativo: Jesualdo Pereira
Codinome: Jesus
Ocupação: Médico de Campo

Data: 01/02/2017

Eu lembro de tudo que aconteceu há um mês atrás como se fosse ontem. O CDC (Centro de Controle de Doenças) estava desesperado pois diversas pessoas tinham morrido na primeira semana do ano, muitas delas apresentaram os sintomas ainda na festa de fim de ano enquanto bebiam seus drinques e faziam promessas. Promessas mortas como suas células horas depois.

Nós já estávamos trabalhando a um tempo aqui no Brasil com doenças parecidas, algo que bem poderia ser uma versão mais nova desses castigos divinos que caíram sobre nós nesse ano. Diversas pessoas em vários locais do mundo estavam sentindo diversos sintomas que não pareciam fazer sentido, mas no Brasil a gente já estava avançado nas pesquisas. A pesquisadora da UFC Doutora Maria das Dores (Codinome Das Dores) tinha escrito um artigo sobre essas novas doenças a 6 meses atrás. Já a bela médica Antonieta Morais (Codinome Toinha), já tratava diversos pacientes no Amazonas com sintomas bem parecidos com os que vemos agora enquanto estudava por conta própria e conseguindo bons resultados. Eu sou só um médico comum do exército, tenho experiência de campo com as doenças mas fui trazido aqui porque estava com a Toinha no momento que os americanos chegaram, ela estava apreensiva no momento e eu me candidatei para ir com ela ao centro de Atlanta.

Eu me lembro dos olhares preconceituosos dos americanos quando viram 3 brasileiros entrando no CDC como salvadores. A questão é que nós já estávamos avançados nas pesquisas, o problema é que ninguém se importa com a descobertas e avanços da medicina na América do Sul.

Por falar em descobertas, o que a doutora Das Dores descobriu foi que eram, na verdade, 4 doenças diferentes agindo ao mesmo tempo em todo o mundo. Sem tempo para pensar em nomes no momento, pois a cada dia que passava mais mortos se empilhavam, nós as apelidamos com cores referentes a sintomas que causavam. A Amarela-1 causa amarelamento dos olhos e cegueira em algumas horas. A Preta-2 torna os lábios dos pacientes roxos e eles morriam em agonia cuspindo uma gosma preta, coisa de filme de terror…A Azul-3 causa hematomas azulados por toda pele, dias depois a mesma cai em pedaços e os pacientes ficam em carne viva, mas a pior de todas é a Vermelha-4, depois chamada de C0dA-403a, e carinhosamente apelidada de Red Cock Desease, ou Doença do Pau Vermelho…acho que não preciso entrar em detalhes sobre o que essa faz.

A primeira semana de trabalho foi a pior de todas, pelo menos para mim. Eu só ficava ajudando os militares com trabalhos braçais enquanto as doutoras passavam 20h por dia trabalhando nos laboratórios, o nosso sentimento de impotência era enorme e a cada dia que passava, pessoas morriam a centenas. Felizmente tínhamos bastante recursos da ONU, pois o sentimento de medo era enorme, mas tudo isso vinha com um problema: perdemos todo o contato com nossas famílias e ficamos longe de casa. Os estudos eram secretos e nada podia sair do laboratório, durante esse período tínhamos só a nós mesmos e a comunicação com os americanos não eram das melhores, pois nosso inglês ainda era muito primordial.

Depois da primeira semana, a ação de fato começou e eu fiquei me sentindo mal por ter desejado mais emoção no nosso trabalho. Toinha teve de ir até Bangkok, pois foi detectado que o local era o foco principal da doença do Pau Verm… digo, C0dA-403a, provavelmente por causa do turismo sexual da região, mas quem sou eu para julgar. Confesso que fiquei preocupado com a saúde de Antonieta e a despedida foi difícil.

Somente 3 dias depois tivemos a informação que Bangkok estava em situação de calamidade pública e o exército americano foi acionado para conter os danos. Esses ianques sempre querendo ser os xerifes do mundo. Eu já estava me preparando para embarcar nos boeings militares quando algo estranho aconteceu: Das Dores surge no hangar e me entrega alguns papéis e amostras. Ela me diz para entregar isso a Toinha e a mais ninguém e que não pode mais me falar nada agora, no momento ela estava indo até a floresta amazônica para coletar mais amostras orgânicas.

A viagem foi longa e dolorosa, por algum motivo tínhamos perdido contato com Bangkok e minha preocupação com Toinha era enorme. Ao chegarmos na cidade, os medos se tornaram reais: a cidade estava um caos. Sobrevoamos suas ruas por helicópteros, pois as ruas estavam tomadas por manifestantes e pessoas em pânico. É incrível como uma situação fora do normal com a saúde das pessoas pode causar histeria em massa e violência. A doença vermelha tinha evoluído e piorado bastante em pouco tempo, estávamos enfrentando um monstro, mas era um problema menor naquele momento, a população estava em desespero, jogando pedras e coquetéis molotov nos helicópteros, felizmente errando, lá embaixo, aconteciam saques e estupros.

Pousamos no terraço do centro de pesquisas e tivemos que destruir as barricadas feitas pelos médicos, pois a população estava em polvorosa querendo invadir o prédio pois os líderes rebeldes diziam que o governo estava escondendo a cura das pessoas. Conseguimos invadir o centro e felizmente Toinha e sua equipe estavam lá, nos abraçamos pela saudade e nos olhamos de forma envergonhada depois disso…voltando ao trabalho, eu a entreguei os papéis e amostras de Das Dores, ela os recebe com um sorriso e já vai correndo para seus microscópios e anotações.

Como mágica, dias depois temos algumas vacinas que não vão curar, mas retardar os sintomas. Não é a descoberta do fogo, mas foi uma fagulha de esperança para nós. Fui a campo distribuir as vacinas mas não foi uma tarefa agradável como imaginei, não tínhamos para todo mundo e enquanto distribuímos as amostras, grupos rebeldes tentavam roubar de nós usando armas. Como uma ironia maligna, nós tivemos que tirar algumas vidas para salvar outras, não me orgulho disso e prefiro não comentar mais.

As coisas não estavam fáceis em Bangkok mas os EUA nos pediram para viajar pela Ásia distribuindo a vacina para as doenças e contendo a população em polvorosa. Eu pedi para que Toinha viesse comigo mas ela não concordou e disse que ia ficar, que não poderia abandonar suas pesquisas ali, pois estava muito perto de conseguir algo grande. Nos despedimos e me arrependi dias depois, quando descobri que o centro de pesquisas foi atacado e Toinha ficou gravemente ferida. Só fiquei sabendo disso quando voltei para o centro de Atlanta, no caminho, presenciei a construção de um novo centro em Bagdá, o que vai ser bastante útil para o futuro. Em Atlanta reencontrei Das Dores e colocamos o papo em dia, ela suspeite que existe algo de estranho com o governo dos EUA e que ela não confia nos engravatados que andam de lá para cá pelo centro, mas disse que tínhamos que continuar dançando conforme a música.

Nunca vou me perdoar por ter deixado Antonieta sozinha em Bangkok, ela foi trazida com ferimentos graves para Atlanta e passa bem agora, mas ficou marcada para sempre com uma grande cicatriz em suas costas. Mas foi a decisão dela, ela quis continuar na cidade e ajudar aquelas pobres pessoas. A simples menção de Bangkok na sua frente faz com que ela tenha uma crise de pânico e perca o controle.

Naquela manhã de domingo, acompanhamos juntos, no café da manhã, as notícias que as vacinas descobertas por nossa equipe para 3 doenças estavam viajando pelo mundo, trazendo paz para as pessoas. Ao mesmo tempo que isso nos alegrava, ainda existia o fantasma da C0dA-403a, que ficava cada vez pior a cada dia, e as notícias de Bangkok, o lugar tinha sido tomado por grupos rebeldes de milícia e a situação estava pior do que nunca.

Estamos começando um novo mês e já estou atrasado para o briefing mensal. Mas já ouvi por aí que as grandes potências do mundo estão tão felizes com nosso sucesso que vão cortar parte do financiamento, achando que nós não precisamos de mais ajuda…

Operativo Jesus desligando. CLIC

<CONTINUA>

Agradecimentos a Átila Souza (Das Dores) e Bárbara Rodrigues (Toinha).