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Gears Tactics | Crítica

Mesmo não jogando quase nada da franquia Gears of War, fiquei batante curioso para jogar o mais novo jogo da série: Gears Tactics. O motivo principal é que adoro X-Com e é praticamente impossível não comparar os dois jogos. Gears Tactics é um RPG tático que pega bastante coisas da franquia X-Com e as aplica ao seu universo, adicionando coisas novas, melhorando algumas e piorando outras. Confira nossa análise sem spoilers (até porque a história é praticamente inexistente).

A Jogabilidade: Aquele clichê com um “plus a mais”

Gears Tactics se joga praticamente da mesma forma que um X-Com. Você controla um esquadrão de soldados em mapas com grids quadriculados e enfrente seus inimigos em um jogo de turnos. O esquema de tiro, mira, porcentagem de acerto, movimentação, uso de “cover” e todos os outros clichês do gênero estão aqui. Cada personagem tem 3 pontos de ação cada turno que você pode gastar com movimentação, ataques ou habilidades especiais. Caso o movimento seja de muito espaço, vai gastar mais pontos, o mesmo vale para habilidades mais poderosas. Com poucos ataques os personagens podem morrer então é importante sempre se proteger em muros para evitar tiros diretos. Mas o que ele tem de diferente?

Para trazer algo de novo e fazer sentido com o estilo da franquia Gears of War, o jogo adiciona uma mecânica de “execução”. Toda vez que você elimina um inimigo sem causar um dano muito massivo, ele vai continuar vivo mas completamente fora de combate, paralisado e sem agir. Você então pode chegar até ele durante os próximos turnos para realizar um “fatality” com uma animação bem violenta. Essa finalização é uma mecânica muito simples mas que faz muita diferença no meio do jogo. Ao realizá-la, seu personagem vai gastar mais pontos de ação e geralmente vai ficar mais exposto a ataques do inimigo. Mas, ao realizar uma execução com um personagem, todos os outros do seu esquadrão ganham uma ação extra e, acredite, isso representa uma mudança estratégica em um turno e pode salvar sua vida.

Apesar de ter mecânicas simples e não muito inovadoras de um combate de tiro tático, Gears Tactics traz decisões e desafios interessantes quando se misturam tipos diferentes de inimigos e as habilidades que você vai desbloqueado para seus personagens. A combinação dessas habilidades, seus combos e as decisões de movimentação e execução durante as rodadas causam situações bem interessantes e estratégicas.

Apesar disso, os inimigos podem ser bem cruéis mas geralmente não são muito inteligentes. Diferente de X-Com, a dificuldade de Gears Tactics não é muito alta. Joguei no “Difícil” a maior parte do jogo e raramente tive personagens mortos. Aqui, existem os personagens heróis e os “buchas” do seu esquadrão. Caso um herói morra, é game over. Se um bucha morrer, é morte permanente e você tem que viver com isso. Mas, como eu disse, as mortes são muito raras e geralmente acontecem quando fiz alguma burrice muito grande ou me confundi com alguma regra ou interface. Quando isso acontecia eu simplesmente reiniciava a missão.

Por falar em missões, aqui vai a principal crítica ao jogo: ele é muito repetitivo. Não adianta de nada desenvolver um sistema de combate em turnos muito bom se você não tem criatividade para desenvolver missões muito diferentes. Você geralmente está enfrentando os mesmos inimigos, em mapas que parecem todos iguais em 3 ou 4 tipos diferentes de missões que o jogo bolou. Isso se agrava muito quando você é obrigado a fazer missões secundárias entre as missões de história, pois todas elas parecem iguais apesar de alguns modificadores e objetivos opcionais que oferecem.

Mesmo com essa falta de criatividade nas missões, aqui vai um elogio: Colocar objetivos opcionais e caixas espalhadas pelo cenário para ganhar items melhores é um bom fator de rejogabilidade e pode fazer você desviar de caminhos mais óbvios, mas mesmo essa ideia não mata a repetitividade que o jogo oferece.

As coisas mudam um pouco nos poucos chefes que o jogo oferece. Mas, no lugar de experiências mais interessantes, eles acabam sendo um pouco mais frustrantes por causa da sua dificuldade extremamente alta. É um salto muito grande passar de missões com dificuldade baixa para chefes muitas vezes injustos. Se você não estiver bem equipado e bem evoluído, pode ficar travado no jogo para sempre.

Os Menus: O maior vilão do jogo

Em X-Com, quando você não tá metendo bala na cabeça de aliens, você está gerenciando sua base e seus soldados e também tomando decisões estratégias no mapa do mundo. Não vou mentir, eu curtia muito mais as missões táticas do que esse gerenciamento estratégico (e muitas vezes complexo) de X-Com, mas Gears Tactics me fez sentir falta disso. Entre as missões de Gears você faz somente uma coisa: evoluir seus personagens. Não existe gerenciamento de base nem nada, você só vai passear por alguns dos menus mais chatos da história dos video-games.

O seu esquadrão sempre vai consistir em um punhado de heróis, mais outros soldados que vai recrutando durante o jogo. Eu terminei com em torno de 10 personagens somando heróis e soldados rasos, mas o jogo lhe dá espaço para ficar com pelo menos uns 20. Recrutar mais soldados é meio inútil pois você não precisa disso tudo. Eles raramente morrem e nas missões de história você é obrigado a usar alguns heróis, então se ficar evoluindo os recrutados demais, é capaz que não esteja bom o suficiente para enfrentar os chefes com os heróis. O jogo nunca lhe avisa isso, então é um problema que pode facilmente acontecer.

O pesadelo começa quando você vê como faz para evoluir esses personagens. Cada personagem tem uma árvore de habilidades, uma arma principal com 4 modificações, uma arma secundária, um capacete, uma armadura de peito e uma armadura de baixo. Imagina agora passear por todos esses menus dentre todos os seus personagens tentando otimizar cada um deles? Claro que é legal ver as habilidades novas e fazer combinações para tirar o máximo e seus personagens. Mas é tanto menu horrível de navegar que toda experiência de evoluir seus personagens se torna um parto.

Uma solução para isso seria botões de “otimizar automático”. Ela teria que ser uma otimização mais personalizada, pois o jogo possui muitos status e habilidades diferentes. Ele poderia ter então arquétipos de personagens para otimizar como por exemplo “otimizar para dando”, “otimizar para defesa” ou “otimizar para cura”. Não seria tão fácil de se fazer mas resolveria muito esse problema.

Outro problema que pode deixar o jogo desbalanceado é que você não pode comprar os itens que quer ou precisa. Todo item que você ganha é através de caixas que dão itens aleatórios. É uma desgraça de loot box dentro do jogo que lhe impede de bolar estratégias de como evoluir seus personagens, mas lhe faz se adaptar com os itens que está ganhando para poder aproveitar o máximo deles. Felizmente as árvores de habilidades dos personagens são bem legais, oferecendo várias opções de habilidades passivas e ativas, e ainda oferecendo um recurso limitado que lhe possibilita reiniciar as árvores de habilidades. Eu nunca usei mas pode ser útil caso você faça alguma cagada.

Apresentação: Bonito mas sem conteúdo

Eu não sou muito conhecedor da história de Gears of War, mas eu não poderia ter me importado menos com a história desse aqui. É uma festa de personagens clichês, cheios de frases de efeito e um vilão tão carismático quanto uma porta. Apesar disso, se você não levar o jogo a sério, existem a até alguns diálogos bem divertidos. Aqui vai um ponto para a dublagem e localização excepcionais do jogo para o Brasil, os dubladores estão ótimos nas cutscenes e no meio do jogo podem soltar piadinhas bem brasileiras como o meme “errrouu” do Faustão, dentre outros. Foi uma divertida surpresa.

Apesar de meu computador não ter rodado nos gráficos máximos, o jogo está muito bonito. Talvez seja o jogo do estilo mais bonito tecnicamente até agora. Unindo isso à direção de arte conhecida de Gears of War, torna o jogo bem bonito de se ver. Dentro das missões fica difícil ver muitos detalhes, mas nos menus e cutscenes eu me pegava babando pelas armaduras e armas muito detalhas com uma estética que me agrada bastante.

Conclusão

Gears Tactics segue uma fórmula bastante estabelecida no gênero e consegue adicionar poucas coisas que tornam o combate bem interessante. É uma pena que essa mecânica de combate esteja inserida em missões pouco criativas e muito repetitivas. A falta de algo mais legal para se fazer entre as missões faz parecer que você está só pulando de uma situação igual a outra sempre. Isso se agrava ainda mais com as missões secundárias que são na verdade bem obrigatórias que ficam repetindo os mesmos objetivos toda vez. A única coisa que você faz fora das missões é equipar os personagens, o que se torna algo doloroso por causa dos milhões de menus mal organizados. Se você curte jogos do gênero, com certeza vai gostar esse aqui. Apesar das críticas, eu gostei do jogo, mas com pequenas mudanças ele poderia ser algo bem melhor.

Uma dica: Se você tem o Game Pass da Microsoft, o jogo faz parte do catálogo. Vale muito a pena.