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Crusader Kings III: Uma complexa novela medieval | Crítica

Novo jogo da Paradox é um complexo e viciante sandbox

Irlanda, 1345. A médica da corte foi vítima de um assassinato organizado pelo seu marido e o rei da escócia, seu sogro. Tudo isso aconteceu porque ela errou um procedimento médico na rainha e também traiu seu marido com o bispo do reino. Na Suécia, o atual rei prendeu seu tio na cadeia e depois o queimou vivo na fogueira. A ação aconteceu porque esse tio fazia bullying com ele quando era pequeno. Essas são só algumas das infinitas histórias que podem surgir dentro das narrativas emergentes de Crusader Kings III. O novo jogo da famosa franquia de simulação medieval da Paradox, traz uma experiência ao mesmo tempo mais complexa e acessível do que os seus antecessores.

No jogo, você pode escolher jogar com figuras históricas da Islândia à Índia e do Círculo Polar Ártico à África Central e em diferentes períodos. Além disso, pode também criar seu personagem do 0 começando de baixo até virar o imperador de todo mundo conhecido. Caso o seu personagem morra (assassinado, em combate, vítima de uma doença ou de velhice), você passa a jogar com seu herdeiro criando praticamente uma experiência de jogo infinita.

Do que se trata Crusader Kings III

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Mas como funciona Crusader Kings III? Diferente de outros jogos de estratégia em que você controla um reino, nesse jogo você controla somente uma pessoa. Mas, obviamente, essa pessoa vai ter poder de decisão em diversos aspectos que vão desde mudanças políticas, religiosas, organizar guerras, se relacionar com outros personagens e gerar intrigas. A quantidade de opções que o jogo te dá é tão grande que eu poderia passar horas falando das possibilidades.

Esse é o primeiro jogo da série que eu experimento e sempre tive curiosidade mas, ao mesmo tempo, receio e preguiça de tentar. Ele não é nem um pouco um jogo de fácil de aprender. O seu tutorial in game  dura em torno de 1 hora e não cobre nem a metade das possibilidades do jogo. Felizmente, existem diversos gameplays e tutoriais na internet para te deixar a par das principais interações possíveis. Durante as partidas, também existe um inteligente sistema de “problemas”, que lhe dá notificações de coisas que você precisa resolver e oportunidades no mapa. Isso ajuda muito a guiar os jogadores iniciantes e aqueles que precisam de objetivos para continuar jogando, pois Crusader Kings III é 100% um sandbox.

Digo isso porque não existe um fim de jogo e nem objetivos claros, você vai seguindo o fluxo da história e criando seus próprios objetivos e narrativas. Esse é um dos aspectos que torna a jogatina tão viciante, pois toda sua ação gera mais 10 resultados, criando uma linha do tempo infinita de ações possíveis.

Em diversos momentos, é muito fácil se perder nos milhares menus e botões que mais parecem um painel de avião. Mas o jogo traz alguns sistemas de hiperlinks explicando os termos mais comuns e diversas ferramentas de busca com os mais diversos filtros. Você sente que está sempre amparado nas suas dúvidas pois aprender ou relembrar termos é rápido e prático. É como se fosse um eterno tutorial bem sucinto e direto. Dito isso, alguns comandos e controles ainda são um pouco confusos e levei muito tempo para aprender.

Uma novela medieval

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Mas, apesar da complexidade nas mecânicas, é na narrativa que o jogo brilha. CK III pode ter muitos sistemas e gerenciamentos que podem deixar o jogador super atarefado e perdido mas, como vi em um texto por aí, ele é muito mais divertido se jogado como um The Sims. Cada personagem do jogo possui uma ficha como se fosse de RPG que inclui habilidades de diplomacia, guerra, econômica e afins. Mas, além disso, cada personagem também possui uma série de traits que definem sua personalidade e como eles interagem com outras pessoas.

Existem momentos em que acontecem eventos de história escritos em que você pode tomar decisões como se fosse em um jogo da Telltale, mas também existem acontecimentos que ocorrem de forma orgânica dentro do sistema do jogo pois cada personagem tem suas peculiaridades e seus objetivos. Essas narrativas emergentes são os momentos mais divertidos e que alguns jogadores podem perder caso estejam vendo o jogo de forma muito mecânica.

Passa essa narrativa funcionar, o jogo conta com um sistema intricado de centenas de sistemas que funcionam perfeitamente um com o outro. Como designer de jogos, acho fascinante como as regras desse jogo são tão complexas e amarradas. Mas, como a maioria dos sandbox, CK III depende muito da forma como o jogador vai jogar e definir seus objetivos. Nas guerras, por exemplo, você pode prestar atenção nos seus generais, terreno e tipo de unidades e quais são melhores do que as outras. Ou você pode simplesmente mandar um exército maior e vencer sem pensar muito. Na vida real quase 100% dos combates no passado eram definidos por quantidade mesmo…

Veredito

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Crusader Kings III não é um jogo para todo mundo. A jogabilidade é definida por horas e horas passeando por menus e lendo pequenos textos, tomando decisões estratégicas e imaginando as histórias que foram contadas na sua jogatina. É uma experiência sandbox super complexa mas que também pode oferecer uma jogatina mais casual para aqueles que querem brincar de Game of Thrones. Se você gosta de jogos de estratégia e curte uma temática medieval, será com certeza uma das suas melhores experiências com o gênero em anos. Agora, me deem licença que vou ali casar meu filho de 4 anos com a prima dele de 5 para que ele possa herdar suas terras.