Vivemos em um momento político único no Brasil. Ao mesmo tempo que as pessoas estão mais preocupadas com a política e seus políticos, a divisão do povo está cada vez maior e as pessoas continuam tratando política como futebol. E é nesse campo minado que o jogo de tabuleiro Eleições 20XX da Legião Jogos é lançado, um jogo curioso e interessante que tem a política – ou politicagem – brasileira como tema principal.
O jogo é um euro leve que utiliza draft de cartas e gerenciamento de recursos, no caso os eleitores. O objetivo de cada candidato é ter o maior número de eleitores no dia da eleição. Para isso vão usar de estratégias como compra de votos, abuso de poder, mentiras e outras estratégias bem “diferentes” da vida real.
Um dos aspectos que me chamou a atenção é a abordagem humorística que o jogo possui com o tema, com personagens cartoon inspirados na vida real, essa arte e design leve do jogo consegue deixar o tema mais palatável e faz com que todos os brasileiros se identifiquem com o jogo, pois por aqui política é um circo mesmo.
Nós conversamos com um dos designers do jogo, Bruno Carvalho, e ele respondeu algumas perguntas sobre o desenvolvimento do boardgame:
De onde surgiu a ideia de fazer um jogo sobre eleições?
Bruno: A idéia do tema foi uma preferência pessoal. É um tema que particularmente me interessa, e que eu acho que é importante ser discutido – até, principalmente, pela descrença que a política tem na história recente brasileira.
Você acha que um jogo desse tipo pode ser importante pro momento que vemos no Brasil, acha que as pessoas podem aprender algo com seu jogo?
Bruno: Acredito que toda ferramenta que aumente a visibilidade da questão política e desperte interesse sobre o tema é válida. A participação política é algo intrínseco ao funcionamento da nossa sociedade, falando da política para além da mera questão partidária-eleitoral. Na minha opinião, a descrença atual com o processo político e eleitoral só facilita as coisas para aqueles que querem abusar do sistema – afinal, o voto consciente é, de certa maneira, a maior medida para contrabalançar os votos comprados e a manipulação eleitoral e melhorar a qualidade da nossa representação política.
Quais foram as principais inspirações para o jogo no quesito mecânicas?
Bruno: Eu costumo dizer que um belo dia eu me conectei com a “cloud” da inspiração humana e acho que uns 80% das regras do jogo vieram a partir do insight dos eleitores. Essa mecânica dos pontos de vitoria já serem “pré-determinados” com suas preferencias partidárias, e os jogadores terem que lutar para ganhar ou remover esses eleitores de acordo com as opiniões deles (representados pela iconografia dos tokens dos votos) é a mecânica central do jogo. No mais, me inspirei em alocações de trabalhadores para fazer o draft de cartas – a natureza do draft do Eleições 20XX lembra mecânicas de alocações de trabalhadores/role selection, e o próprio tema me deu muito material para trabalhar.
Como foi decidida a abordagem da arte do jogo? Porque seguir por esse caminho mais cômico?
Bruno: Definitivamente decidida a partir do tema. Como a situação política está bem inflamada, eu preferi seguir por esse lado mais debochado para deixar o jogo mais “leve”, e portanto mais palatável. Afinal, a meta principal do Eleições 20XX ainda é trazer a diversão à mesa de jogo – por mais que sejam salutares as discussões políticas que ele possa invocar – e trazer uma abordagem de arte cartunesca e caricata ajuda a facilitar o jogador a se sentir mais à vontade nesse tema espinhoso.
Para saber mais sobre o jogo e apoiar esse projeto muito legal você pode acessar a página dele no Catarse.