Entrevistamos Bibi Tatto, num papo sobre suas preferências no mundo dos games e os desafios de uma mulher neste meio
Em 2012, a maior youtuber gamer do Brasil, Bibi Tatto, iniciava a sua carreira com um canal de games. Iniciou jogando com amigos Minecraft, e crescia bem aos poucos postando em grupos de Facebook voltado para jogos. Atualmente, aos 20 anos, a gamer atingiu 3 milhões de seguidores no Tik Tok, possui 10 milhões de inscritos no Youtube, 3 livros publicados, duas turnês musicais e 4 prêmios por voto popular (3 Meus Prêmios Nick e um Kids Choice Awards). Recentemente lançou o single “Descomplica”, junto com o clip musical.
Com isso, Bibi Tatto concorre a Influencer do Ano no Tudo Information Awards 2020, título que ela já recebeu pela revista Glamour, assim como por ser um dos 20 jovens brasileiros de maior destaque pela revista Veja. E, para nossa sorte, nos concedeu uma bela entrevista!
1. Sua carreira se iniciou em 2012, em um mercado até então dominado por homens. Como foi construir o seu próprio espaço? Sentiu-se intimidada no início?
Bibi Tatto: Eu comecei em 2012, eu tinha 12 anos. Na real, naquela época eu nem sabia o que eu estava fazendo, não tinha perspectivas para o futuro, não sabia onde aquilo poderia me levar… Então eu não estava tentando construir um espaço, estava apenas criando conteúdo. Mas, com o passar do tempo, quando fui me profissionalizando mais, eu entendi com que que eu tava lidando e percebi que seria um pouco mais complicado, por ter essa questão de ser um mercado dominado por homens. De certa forma, foi difícil, mas eu consegui explorar um mercado que eu ainda não tinha explorado, que era exatamente as mulheres nos games.
2. Você vê alguma diferença entre o seu público do meio gamer e do meio musical? Há algum tratamento diferenciado frente ao fato de você jogar?
Sim, eu sinto bastante diferença. Meu público gamer tem bastante menino novo, enquanto meu público musical é um pessoal mais velho, meninas e meninos adolescentes, de 15 a 16 anos. No final, o tratamento é o mesmo, de muito carinho, admiração. Eles sempre foram muito respeitosos, tanto na internet quanto pessoalmente, então, por parte deles, sempre foi tranquilo.
3. Imagino que no mundo de influencer gamer você deva sofrer muito com a masculinidade frágil de diversos rapazes. Como tem sido lidar com isso?
Na verdade, o fato de eu ser cercada por meninos que tem bastante masculinidade frágil não é algo que me afeta muito, porque eu sinto que é uma falta de evolução deles, e não minha. Eu sinto uma certa pena de não conseguir ver essa evolução tão importante acontecendo com algum deles, mas eu sinto que é algo que pode ser ajudado, que a gente pode ficar mostrando o tempo todo que é errado, e que as pessoas talvez vão tentar aprender. É muito importante ter alguém também para ensinar esses meninos, que aponte em que pontos eles estão errando e dê os motivos. Se ninguém fizer isso, eles não vão aprender nunca. Então, quando penso em como lidar com isso, eu realmente me coloco à disposição para sempre apontar o que está errado e explicar os motivos do erro, além de ajudar no que eu posso para instruí-los sobre isso.
4. Alguma vez você já teve que se provar como gamer por ser mulher?
Já, várias vezes! Não só em games on-line, mas também em jogos em que as pessoas consideram que são “jogados por homens”. Por exemplo, no colégio, eu sempre joguei bastante bola com os meninos e era bem comum as pessoas não acreditarem na minha capacidade porque eu era menina. Era como se eles estivessem em desvantagem por eu ser mulher e estar no time. E, na hora de jogar, eles percebiam que eu jogava tão bem quanto eles! Então, quando eu era mais nova, não tinha ainda a coragem de falar, mas eu mostrava em atos. Eu ia lá e mostrava que, sim, eu podia fazer tudo que eles faziam, às vezes melhor! Essa era minha forma de dar uma mensagem.
5. Você sente que há mais mulheres youtubers gamers? Tem alguma dica para as moças que queiram começar no ramo?
Com certeza! Tem muito mais mulheres gamers hoje em dia do que antigamente e a tendência é que esse número só cresça! Não para de surgir mulheres nos games e isso é muito bom, porque mostra que o mercado está crescendo muito, que as meninas estão sendo influenciadas a jogar, estão se sentindo mais confortáveis em entrar para esse mundo! É algo extremamente importante e eu me sinto muito orgulhosa disso estar finalmente acontecendo, porque antes era algo muito travado, que não desenvolvia muito, mas hoje isso está se desenvolvendo cada vez mais!
6. O machismo é algo que nós, mulheres, sofremos com muita frequência. Como influencer, você acha que tem lidado bem com isso? Que tipo de exemplo você acha que passa para o seu público feminino sobre como lidar com o machismo?
É difícil, mas eu sempre consegui controlar e lidar bem com a situação. Sempre tive em mente que, quando o menino é muito jovem, muito do que ele fala é uma reprodução de uma sociedade que tem o machismo estrutural, e também de uma criação machista. Muito do que os meninos reproduzem são coisas que eles escutaram em casa e que eles acham normal. Eu tento sempre entender essas questões antes de ter uma conversa com a pessoa, mas isso é diferente de aceitar. Eu entendo isso, mas sempre me coloco à disposição para ensinar, apesar de algumas pessoas não terem a mente tão aberta a ponto de querer aprender. Acho que quando chega em uma certa idade, não é apenas reprodução, mas escolha. Então nosso papel é sempre bater de frente e ficar ali mostrando que eles estão errados.
7. De acordo com a Pesquisa Game Brasil, as mulheres gamers são maioria no Brasil, representando mais de 50% dos jogadores. A que você acha que se deve esse aumento das gamers? Você acha que os jogos mobile influenciaram isso de alguma forma, já que não havia nicho?
Acho que foram muitos fatos que colaboraram com o aumento das mulheres nos games com o passar do tempo. Por exemplo: o crescimento de representatividade de personagens femininas nos jogos, influenciadoras começarem a jogar… Então foi uma soma de fatores que colaboraram com isso. Mas, no final das contas, não acho que tenha um fator específico que defina o porquê de ter mais mulheres que homens. Acredito que tenha sido um ambiente que as mulheres começaram a se sentir mais confortáveis e acabaram dominando mesmo, de forma natural. Não acredito que no mundo tenha coisas separadas para mulheres e para homens, então acabou que foi de forma espontânea que as mulheres dominaram o mercado.
8. Quem acompanha, sabe que você é bem eclética nos jogos, indo do Minecraft, um jogo mais leve e despretensioso, Fortnite, mais voltado para o competitivo a The Last of Us – parte 2, que é mais pesado, mais denso, com uma carga emocional maior. Você sente diferença entre os públicos? Qual seu gênero favorito de jogos?
Com certeza! Tem uma diferença enorme entre os públicos que me acompanham em cada jogo, então, Minecraft, por exemplo, é um público mais infantil, The Last Of Us é um público mais adulto, e o Fortnite é um público mais teen, pessoal entre 13 -14 anos. Quando eu era mais nova, eu era apaixonada por Minecraft! Eu gostava muito de jogar! Hoje eu ainda jogo, mas não é meu maior foco, porque gosto mais de jogar os outros dois jogos. Mas, entre Fortnite e The Last Of Us, depende muito do meu humor para aquele dia, aquele momento. Por exemplo, The Last Of Us, você joga bastante, mas também assiste bastante, por ser um jogo que conta muita história. Então, se no dia eu estou mais preguiçosa, quero mais assistir do que participar, eu jogo The Last Of Us. Agora, se eu estou mais animada, competitiva, quero jogar muito, ver quem ganha, aí eu jogo mais Fortnite. De qualquer forma, hoje em dia, esses dois são os que eu mais jogo.
9. Para muitos, jogos mobile não são considerados jogos. Você sofreu algum tipo de preconceito por causa disso?
Os jogos mobile cresceram muito de uns tempos para cá! Antes era muito mais comum o pessoal jogar bastante no vídeogame, depois passamos para a era do computador e hoje em dia estamos na mobile. Essa forma de jogar invadiu o mundo dos games porque é algo muito acessível, então muito mais gente consegue jogar. Eu não acredito que uma pessoa, só por ela jogar no mobile, não seja gamer. Acho isso super errado, não faz sentido nenhum. Tanto quem joga por console, computador ou mobile são gamers. Eu não sofro nenhum preconceito em relação a isso porque meu conteúdo sempre foi muito mais de console e computador. Foram poucas vezes que joguei na versão mobile, mas, ainda assim, não senti preconceito nenhum! Pelo menos o meu público é bem aberto quanto a isso.
10. Qual a plataforma de jogos que você prefere?
A plataforma que eu prefiro jogar é computador, com certeza! Eu acho muito mais acessível com mouse e teclado. Eu tenho uma certa complicação em jogar com o controle do console e eu também acho que em uma tela de celular, no mobile, fica muito complicado de você acertar o botão que você tem que apertar. Acho muito mais prático pelo computador, então essa costuma ser minha maior escolha.
O CosmoNerd agradece a Bibi pelo tempo, foi maravilhosa a conversa. E, para você que seguiu até aqui, deveria ir conhecer um pouco do trabalho dessa jovem (acesse o canal do YouTube Bibi Tatto neste link). Tem conteúdo para todos os gostos.