Impecável execução da Pixar é o trunfo de Procurando Dory
Dá licença criançada, mas estou a doze anos querendo ver esse filme. E a espera valeu a pena! Já se passaram anos desde o lançamento de Procurando Nemo (2003), e nada mais justo começar deixando claro ao leitor o resultado do mais novo trabalho da Pixar, aquela mesma produtora que nos presenteou com filmes como Toy Story, Up e Divertida Mente. Procurando Dory traz agora a carismática peixinha azul dublada por Ellen DeGeneres como protagonista, com perda de memória recente e tudo.
Dory, agora morando no mesmo recife que os peixes-palhaço Marlin e Nemo, vive uma vida tranquila mesmo com seus esquecimentos. Quando ela acompanha Nemo em um passeio escolar para ver a migração das mantas, sente falta de saber quem de fato é. Os três, então, seguem mar afora em busca de seus pais.
Não queria comparar, mas…
A estrutura narrativa de Procurando Dory é praticamente a mesma de Nemo, envolvendo uma busca com urgência e autoconhecimento. A atribuição de filme estradeiro é um pouco menor aqui onde do meio pro fim toda ação se passa num local apenas, mas de resto podemos dizer que tudo foi potencializado. Não fica certo encarar o filme como uma continuação direta, ao mesmo tempo que é difícil não fazer isso pela quantidade de personagens que se repetem e talvez seja aí o ponto mais fraco da animação.
Se em 2003 o oceano carecia de riqueza e detalhes em sua imensidão azul, dessa vez o avanço tecnológico faz a diferença justamente nessa parte, como conferimos na cena das raias e no belíssimo aquário gigante. A caracterização dos personagens conhecidos não sofreram avanço significativo, mas os novos (como o polvo Hank) são um colírio aos olhos.
Obrigado, Marília Gabriela
Vale ressaltar o competentíssimo trabalho da Pixar (e da Disney) em adaptar seus produtos para diferentes mercados. Uma placa que originalmente teria informações em inglês é devidamente traduzida para o português na versão dublada, tudo para não incomodar o expectador mirim. E a “piada” com a Marília Gabriela? Sensacional! Único incomodo ficou na dublagem de Antônio Tabet para o polvo Hank, não foi ruim, apenas pareceu não combinar voz e personagem (ainda assim a dublagem nacional é excelente).
Outro super poder da Pixar é tornar seus personagens críveis. Além do design, é respeitado a característica de cada animal até na hora das piadas, com alguns exageros para o bom andamento da história como a cegueira dos tubarões, a ecolocalização das baleias e até a tinta preta dos polvos em analogia ao momento de ir ao banheiro. Esse conceito já é trabalhado na cabeça do expectador antes mesmo do filme, com o curta Piper que mostra um pássaro recém nascido conhecendo o mundo, oferecendo uma perspectiva da vida humana sob o olhar do pequenino (uma fofura dirigida por Alan Barillaro). Não obstante a esse didatismo é a ambientação marítima agora com a influência humana ao mostrar lixos e mais lixos despejados no mar. Há um momento marcante inclusive, onde a protagonista tem um pedaço de plástico preso ao seu corpo por um bom tempo.
Tão divertido quanto emotivo (as cenas da Dory bebê são de cortar o coração), Procurando Dory serve para enriquecer o currículo de Andrew Stanton após o fracasso com John Carter, não que o diretor de Wall-E e Vida de Inseto precise. Desnecessário também é um novo filme dessa turma, pois a impressão que fica é que Dory, Nemo e sua turma cumpriram sua missão e podem descansar na imensidão azul para sempre.