XX: as mulheres buscando espaço no terror

Quando você em pensa em mulheres no terror, logo lembra das famigeradas final girls. As mocinhas puritanas que geralmente escapam do assassino. Tudo porque outras mulheres escolheram aproveitar os prazeres da vida, irritando assim os perseguidores e assinando uma sentença de morte. Em outras palavras, são resumidas em santinhas e pecadoras. Algo inconcebível nos dias de hoje. Porém, uma olhar mais clínico mostra que as coisas estão mudando, ainda que lentamente. E XX é uma prova disso.

Antes de entrar nos méritos da antologia, vale citar que alguns dos ótimos filmes de terror dos últimos anos foram comandados por diretoras. O Convite e The Babadook são exemplos do quanto elas entendem do assunto. Mas isso não é o suficiente. Por isso, seguindo o rastro de sucessos do mumblegore como V/H/S, XX reúne quatro mulheres que irão roteirizar, dirigir e estrelar curtas que bebem da fonte mais pura do terror.

Uma delas é Roxanne Benjamin, que conhece o movimento mumblegore intimamente. Responsável pela idealização de XX, ela assume a direção em Don’t Fall. A cantora indie St. Vincent irá estrear na direção com Birthday Party. Jovanka Vuckovich, produtora ao lado de Roxanne, vai dirigir The Box. E Karyn Kusama, diretora do ótimo O Convite, fecha a lista com Her Only Living Son. Confira o trailer e me diga se elas sabem ou não o que estão fazendo.

https://www.youtube.com/watch?v=m1jLGVpUs4g

Durante uma entrevista ao Coming Soon, Jovanka comentou sobre a concepção do longa. “Nós criamos XX porque não existem antologias dirigidas 100% por mulheres. Chegamos a pensar em fazer um crowdfunding quando o Todd Brown (da XYZ Films) me ligou perguntando justamente se eu não queria produzir com ele uma antologia de horror só com diretoras. Ambos percebemos que as mulheres foram sendo deixadas para trás nos projetos recentes do tipo então decidimos fazer alguma coisa. O título que ele criou era ainda melhor do que o meu e ainda veio com financiamento, então rapidamente fechamos um formato e começamos a fazer uma lista de diretoras que queríamos ter com a gente”.

Mas a cereja do bolo estava na última frase da entrevista: “XX é uma resposta direta à falta de oportunidades para as mulheres no cinema, em particular no gênero de horror”. Não quero entregar a mensagem por trás do nome, mas se você prestou atenção nas aulas de genética vai conseguir entender ¯\_(ツ)_/¯

Apesar do cenário adverso, principalmente se compararmos com a quantidade de longas lançados durante o ano, as mulheres vêm deixando sua marca no terror, pelo menos desde os anos 50. Temos aí nomes como Ida Lupino, Jennifer Chambers Lynch, Mary Harron, Kathryn Bigelow entre outras. E a tendência é que as regras do jogo continuem mudando, em todos os segmentos possíveis. Já estava passando da hora.

Apesar da excelente ideia, XX passou por alguns problemas de produção. A ideia foi anunciada em 2013, mas entrou em um longo período de gestação. Agora tudo está resolvido e o longa chega aos cinemas americanos e serviços on demand em 17 de fevereiro. Infelizmente, ainda não existe previsão da estreia por aqui. Talvez a Netflix possa quebrar esse galho 😉