Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo: essa nossa vida ferrada

O mundo tá fodido e isso não é segredo. Como felizes habitantes desse minúsculo globo azul, podemos fingir que tudo está bem enquanto as coisas pegam fogo ao nosso redor ou acordar para a realidade e nunca mais ter um sonho bom novamente. Vivemos a era da falsa sensação de escolha, onde as coisas parecem possuir apenas duas direções: esquerda ou direita. Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo é um filme para todos nós, que pode amenizar a situação ou jogar a merda no ventilador.

Exibido no Festival de Sundance desse ano, e adquirido pela Netflix, o longa dirigido por Macon Blair parece uma colagem de situações do cotidiano, adornadas por um humor negro e brutal. O famoso “rir para não chorar”. Absurdo em alguns momentos, assustadoramente palpável em outros.

Na trama, Ruth Kimke (Melanie Lynskey) é a representação daquela parcela da sociedade que apenas segue o movimento da engrenagem, sem aspirações, sem força de vontade, sendo sugada todos os dias pela rotina. Ela apenas existe, como milhões de pessoas. Após ter sua casa roubada e perceber que ninguém liga muito para isso, Ruth decide agir, colocar a cabeça para fora do mar de inércia.

É aí que Tony (Elijah Wood) entra em seu caminho. Ele é o outro lado da moeda, que não possui importância aparente para o sistema, mas que precisa existir para equilibrar a balança. Extremamente empolgado e chegado numas artes ninjas, Tony se transforma no parceiro de crime ideal. Eis aqui os nossos justiceiros. Os heróis que merecemos e precisamos.

Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo é nosso filme e todos temos muito de Ruth e Tony. Encaramos babacas todos os dias, que elevam o nível de escrotice do planeta ao máximo. Como gotas caindo na testa, as pequenas indignações do cotidiano nos fazem explodir. Agora entendo Michael Douglas em Um Dia de Fúria.

Claro que essa história de fazer justiça com as próprias mãos não acaba da melhor forma, mas chega uma hora que devemos revidar alguns chutes da vida. A violência da reta final do filme parece não casar com a construção da jornada, mas reforça o sentimento de crueldade que nos cerca. Não se surpreenda ao perceber que se importa demais com os personagens ou se identifica com algumas situações. Mérito do trabalho de Macon Blair.

Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo não é incrível, revolucionário, a última bolacha do pacote. É mais como a vida, que dependendo dos acontecimentos, pode ser sensacional ou uma completa desgraça. É nosso sonho que foi soterrado por outros sonhos, tipo um Inception de mediocridade. Mas uma coisa é certa, arremessar uma shuriken sempre melhora o dia.