O drama chileno Limpa (Swim to Me), dirigido por Dominga Sotomayor, encerra sua história de forma silenciosa e trágica. Inspirado no romance de Alia Trabucco Zerán, o longa acompanha Estela (María Paz Grandjean), uma empregada doméstica que trabalha para uma família rica em Santiago e constrói um forte vínculo afetivo com Julia (Rosa Puga Vittini), a filha do casal. O final do filme, disponível na Netflix, revela o peso emocional e simbólico da desigualdade que separa as duas personagens.
A relação entre Estela e Julia
Ao longo da trama, Estela se torna o principal pilar emocional de Julia, uma menina de seis anos que sofre com a ausência afetiva dos pais. A babá é quem oferece carinho, segurança e atenção — elementos que faltam no lar de luxo onde trabalha. No entanto, quando a mãe de Estela adoece, os patrões se recusam a deixá-la viajar para vê-la, reforçando a distância entre quem serve e quem é servido.
Após a morte da mãe, Estela entra em luto, mas continua cuidando de Julia. Esse laço, no entanto, desperta o incômodo da patroa Mara (Ignacia Baeza), que começa a tratá-la com frieza. A tensão culmina quando Julia é mordida pelo cachorro Dadu, que Estela costumava alimentar escondida. A menina revela o segredo, e a babá acaba demitida.
O desfecho trágico
Antes de deixar a casa, Estela tenta salvar Dadu, mas o animal morre eletrocutado na cerca recém-instalada pelos patrões. O gesto de sacrificar o cachorro, para encerrar seu sofrimento, marca o colapso emocional da personagem. Pouco depois, ela arruma suas malas e decide voltar à sua cidade natal para o enterro da mãe.
No entanto, o filme intercala sua partida com cenas de Julia mergulhando sozinha no lago Caburgua. A menina afunda lentamente até desaparecer, em um dos momentos mais simbólicos do longa. A sequência sugere que Julia morre afogada, incapaz de lidar com a separação de Estela, sua única figura de amor e cuidado.
O significado do final de Limpa
O desfecho de Limpa é uma reflexão sobre classe, afeto e culpa. Estela percebe tarde demais que dedicou sua vida ao bem-estar de uma família que nunca a viu como igual. Julia, por outro lado, representa a infância negligenciada por adultos que terceirizam o amor. O mergulho final é uma metáfora poderosa: ambas, de formas diferentes, se afogam em um mundo que transforma o cuidado em servidão.