Documentário se propõe a dar voz às memórias e traumas de soldados de baixa patente do Exército Brasileiro que combateram a Guerrilha do Araguaia
O documentário Soldados do Araguaia, de Belisario Franca (Menino 23), estreia amanhã dia 22 de março no Rio de Janeiro, São Paulo e Belém. O longa, que participou da 41ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, conta a história dos soldados de baixa patente enviados para o interior da selva amazônica com a missão de exterminar a Guerrilha do Araguaia, movimento de oposição à Ditadura Militar no país. Quarenta anos depois do fim da guerra, eles descrevem pela primeira vez a sua versão dos fatos. A produção é da Giros Produtora e a distribuição é da Urca Filmes. O documentário foi realizado com o apoio do canal Cinebrasil TV.
O filme, roteirizado por Belisario Franca e Ismael Machado, retrata uma guerra sem vencedores. Rejeitados pela História por sua filiação ao Exército e pelos próprios militares por suas denúncias contra a corporação, os soldados não trouxeram para casa nada além de cicatrizes e traumas do horror que testemunharam.
Soldados do Araguaia dá sequência à “trilogia do silenciamento”, um projeto de Belisario Franca que promete recuperar histórias e personagens brasileiros que vivem à margem da historiografia nacional. O primeiro filme da trilogia foi o premiado Menino 23, lançado em 2016. “Vivemos num tempo em que muitos alimentam a ideia de que “o melhor para a sociedade é dirigir o olhar para o futuro”, para fazer do silêncio sobre o passado uma norma. Essa postura é ingênua e entrega nossos destinos nas mãos de quem quer fazer prevalecer versões edulcoradas da realidade brasileira. Ao examinarmos a situação do Brasil, que saiu da ditadura sem que o tempo de violações tenha sido suficientemente passado a limpo, verificamos que ele está entre os países que mantêm um alto padrão de violência. Ser a nação que prefere a negação — do racismo, da violência, do machismo, do extermínio das populações indígenas — permite a perpetuação dessas práticas”, afirma o diretor Belisario Franca.
Para garantir que o filme seja um dispositivo para gerar reflexões e debates a partir dele, em um momento que a sociedade brasileira se prepara para discutir mais uma vez nas urnas o seu futuro, foi elaborado um plano de impacto para Soldados do Araguaia. A estratégia de impacto tem foco na difusão e acesso do filme junto às diversas camadas da sociedade (ONG´s, comunidades, ativistas, formadores de opinião, movimentos sociais, universidades, entre outros) e na construção de relacionamento com esse público antes e depois do lançamento comercial do filme.
Algumas exibições estratégicas já foram realizadas e outras a caminho, com destaque para as ações em parceria com o projeto Clínicas do Testemunho em Marabá, Belém e Rio, com a UERJ, UFRJ, UNICAMP e com a OAB/RJ através das Comissões da Reparação da Escravidão Negra no Brasil e Direitos Humanos.
SINOPSE:
Soldados do Araguaia é um documentário que se propõe a dar voz às memórias e traumas de soldados de baixa patente do Exército Brasileiro que combateram a controversa Guerrilha do Araguaia. Marginalizados pela historiografia oficial por sua filiação ao Exército e pelo próprio Exército por suas denúncias contra a corporação, esses personagens encontram aqui uma oportunidade inédita de compartilhar sua versão dos fatos. Da convocação junto às comunidades ribeirinhas e rurais até a dispensa após o extermínio da guerrilha comunista, os relatos dos ex-soldados compõem uma narrativa em que recrutas e guerrilheiros se confundem debaixo da opressão militar. No Vietnã brasileiro, os vencedores retornam apenas como fantasmas: mesmo aqueles capazes de ultrapassar a psicose, o alcoolismo, o desejo de suicídio e inúmeras manifestações de estresse pós-traumático precisam lutar até hoje para superar os episódios de abuso e violência que sofreram e testemunharam.