Chamado, pelo jornal inglês The Guardian, de “Os Bons Companheiros da vida real”, O Traidor, do italiano Marco Bellocchio chega aos cinemas brasileiros seguindo uma carreira de prêmios pelo mundo. Com Maria Fernanda Cândido no elenco e com cenas rodadas no Rio de Janeiro, o longa teve sua première em Cannes, e ganhou vários David di Donatello, o prêmio da Academia Italiana de Cinema – entre eles, filme, diretor, ator principal (Pierfrancesco Favino) e coadjuvante (Luigi Lo Cascio). O longa estreia em 14 de abril com distribuição da Pandora Filmes.
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Conhecido por seu cinema de engajamento político, em filmes como “Vincere” e “Bom Dia, Noite”, Bellocchio traz aqui mais um episódio da história italiana protagonizado pelo mafioso Tommaso Buscetta (Favino), membro da Máfia italiana, a Cosa Nostra, que se tornou um colaborador da justiça em seu país e delatou companheiros. Depois disso, acabou se escondendo no Rio de Janeiro, deixando parte de sua família na Itália sofrendo as consequências de seus atos. Maria Fernanda interpreta Maria Cristina de Almeida Guimarães, a brasileira que se casou com Buscetta.
Indicado ao César de Melhor Filme Estrangeiro e também ao European Film Awards, O Traidor partiu de uma longa pesquisa de Bellocchio, que assina o roteiro com Valia Santella, Ludovica Rampoldi e Francesco Piccolo. O roteirista e cineasta brasileiro Felipe Sholl também colaborou no texto do longa. “Quando mais eu me aprofundava no tema, mais complexo ficava o personagem”, disse o diretor italiano em entrevista. Na Itália, Buscetta é um personagem controverso, chamado de herói por uns, e desprezado por outros, inclusive por membros de sua família. Ele morreu em abril de 2000, nos Estados Unidos.
“É um personagem fascinante, não apenas por sua ambiguidade, mas todo mundo que o conheceu dizia que tinha um caráter forte, mas também não tinha muita cultura. E incorporamos isso ao filme. É o único ponto em que Buscetta revela um tipo de fragilidade. Nos outros momentos, ele é um homem muito orgulhoso. É um personagem que tem uma teatralidade e uma personalidade muito bem construída,” explica o cineasta.
Em entrevista, Favino caracterizou o personagem como um desafio e uma chance maravilhosa para qualquer ator. “Assisti a muitos vídeos dele, li livros, que ele escreveu com jornalistas, portanto, se eu queria encontrar algo que não fosse a ideia que ele fazia de si mesmo, eu precisava me aprofundar mais nessa figura, descobrir buracos na parede que ele construiu em torno de si, e acabei achando. Havia muito do lado pessoal, político e criminoso na história dele que poderia ser explorado”.
Em entrevista ao GShow, Maria Fernanda definiu sua personagem como “uma sobrevivente”. “Maria Cristina é uma sobrevivente. Viveu experiências difíceis ao lado do marido, foi torturada e suportou o machismo e a violência da Cosa Nostra”.
Desde sua estreia no Festival de Cannes, em 2019, O Traidor tem recebido críticas positivas e elogiosas da imprensa mundial. A. O. Scott escreve, no The New York Times, que “Bellocchio se aproxima do material de maneira objetiva […] e quase febril.” Jay Weissberg em sua crítica, na Variety, diz que “é um filme feito por um mestre do cinema que questiona a natureza do arrependimento.” Bradley Warren, no site The Playlist, destaca “a produção ambiciosa e a escala épica que causam impacto”.