De acordo com Santo-Sé, o principal problema das UPPs foi o crescimento não planejado. Com a rápida e crescente expansão, os policiais começaram a ser recrutados sem critério e sem o treinamento devido. Ivan Blaz concorda que há muito a ser melhorado e observa que há a desconstrução de um projeto muito benéfico para a cidade de forma geral, mas entende que a solução não é abandonar o programa:
“Um único projeto aglutinava através da segurança outras questões sociais como saúde, educação e políticas públicas. Hoje, por conta da crise econômica, diversas variáveis influenciam no resultado final. A falta de investimento impacta diretamente na prestação do serviço. Não perder a esperança é nossa maior luta”, diz Blaz.
O pesquisador José Trajano Santo-Sé conta que é a favor das UPPs, porém acredita que o modelo está em risco. “Ele traz uma série de princípios que devem ser preservados e desenvolvidos. Estamos vivendo uma crise sem precedentes no Rio de Janeiro, não somente na segurança pública, e o efeito sobre o programa das UPPs é desastroso”. E continua: “O programa nunca foi unanimidade nem nas favelas e nem na corporação, mas houve uma aposta muito grande da opinião pública. O projeto deveria fazer parte de um programa de políticas públicas mais abrangente, que não fosse somente a Polícia Militar, mas que envolvesse outros órgãos do sistema de justiça criminal e do poder público. De certa forma, a Polícia Militar foi abandonada à sua própria sorte. A gente tem como consequência esse cenário atual”.
O Major da Polícia Militar do Rio de Janeiro afirma que se as UPPs tiverem fim, a maioria das tropas que trabalham nos morros e a população do asfalto carioca vão gostar, pois o policiamento voltará às ruas e aponta um dos principais problemas no treinamento das equipes. “Durante os anos de ouro da UPP, a formação se concentrou no abastecimento de tropas das UPPs, deixando uma tropa envelhecida ou em processo de envelhecimento, nas unidades tradicionais dos batalhões que cuidam do asfalto. Dessa forma, você tem índices de violência que explodem na rua”.
Elisa Lucinda encerra o “Cidade Partida” dessa semana recitando a poesia “A Estatística”, de Romulo Fróes e César Lacerda.
Terça, 27 de fevereiro, às 21h
Horários alternativos: quinta, às 11h30 e domingo, às 15h.