Em 1974, o diretor Tobe Hooper, que faleceu este ano, nos presenteou com O Massacre da Serra Elétrica, que emplacou o subgênero Slasher nos cinemas americanos, ainda sem um grande sucesso para representa-lo até então.
O filme conta o pesadelo vivido por cinco jovens que durante uma viagem são perseguidos por um assassino mascarado numa cidade texana. Com baixo orçamento, mas muito sangue, vísceras, violência e personalidade, o filme ainda apelava para o famoso “Inspirado em fatos reais” e aterrorizou muita gente na época, tornando célebre o assassino canibal Leatherface.
O sucesso garantiu algumas sequências que nos apresentaram mais profundamente a família doentia de Leatherface, composta por sádicos canibais, além de remakes e até um prelúdio de 2006 (Massacre da Serra Elétrica: o início), que expõe os ataques anteriores da família de assassinos. No entanto, a personalidade de Leatherface ainda não parecia estar bem estruturada, e então com a proposta de abordar principalmente a infância e a adolescência do famigerado maníaco, Leatherface – O início do Massacre entrega uma trama inconsistente, que apesar de seguir tecnicamente o estilo do filme clássico e referencia-lo em alguns momentos, continua sem estruturar bem a personalidade do assassino mais famoso do Texas.
O filme se inicia com o peculiar aniversário de Jedidiah (Boris Kabakchiev), o filho mais novo da família Sawyer. Para o clímax da comemoração, Verna (Lili Taylor), a matriarca da família, lhe dá uma motosserra para que ele, ainda criança, faça sua primeira vítima, um homem que havia roubado um porco da família. Após se recusar a trucidar o sujeito, o garoto participa de uma armadilha, se camuflando com pedaços de animais mortos, para pegar um jovem casal desavisado que passava de carro perto da propriedade dos Sawyer. Ao perseguirem e capturarem o casal com esta emboscada, os Sawyer acabam sendo pegos pela polícia e o jovem Jedidiah é levado a uma clínica psiquiátrica. Neste momento o filme faz um intervalo de cerca de 10 anos, ambienta a clínica psiquiátrica com seus pacientes perturbados. Verna aparece para visitar seu querido filho, e após ser impedida, inicia uma chacina que culmina na fuga de um grupo de jovens internos e uma enfermeira da clínica. O longa foca nesse grupo tentando sobreviver enquanto foge da polícia, e tenta se aprofundar na personalidade de cada um deles, mas sem indicar ou dar muitas dicas sobre qual deles é o futuro Leatherface. Apenas nos 30 minutos finais descobrimos quem é o Leatherface e o filme finaliza com ele fazendo suas primeiras vítimas no estilo clássico do assassino que conhecemos e com sua arma típica, a motosserra.
Tentando deixar um clima de dúvida sobre qual dos jovens fugitivos é o verdadeiro Leatherface, o filme acaba não desenvolvendo bem nenhum dos personagens, sempre alternando seu foco para cada um do grupo de adolescentes. Nos minutos finais, quando descobrimos quem é o futuro maníaco, acaba sendo o personagem com menos carisma e personalidade mais inconsistente da trama, e isso nem mesmo é justificado com um transtorno psicológico original ou complexo. No final das contas, tudo se volta para a velha fórmula dos transtornos causados por uma mãe superprotetora como ocorre desde Psicose, até Sexta Feira 13. A única diferença é que desta vez a mãe é consideravelmente mais sádica que as dos filmes citados. Esse foi o principal ponto negativo do filme, que acabou deixando a trama perdida e com um ritmo instável, fazendo-nos pensar, em diversos momentos, estarmos assistindo a um longa que nem pertencia à franquia original. No entanto alguns pontos positivos devem ser destacados, como a fotografia com tons amarelados e avermelhados na maior parte do longa, remetendo ao clássico de 1974 e as atuações, que apesar de parecerem caricatas em alguns momentos, funcionaram bem. Apesar do ator que interpreta o Leatherface jovem-adulto (Sam Strike) não ter convencido, talvez pelos problemas da construção do seu personagem, a atriz que interpreta Verna (Lili Taylor), a mãe doentia do assassino, desempenha muito bem o seu papel, assim como o jovem ator que interpreta Bud (Sam Coleman), um gordinho de poucas palavras, também fugitivo da clínica. Além disso, o gore está muito bem aplicado, com interessantes cenas de violência explícita e sangue.
Leatherface – O início do Massacre é um filme razoável, mas não cumpre bem o que prometeu. Assisti-lo sem muitas expectativas talvez seja a melhor opção, mas ainda assim é triste perceber que Leatherface não teve um filme de origem à altura de sua enorme importância no cinema slasher. Ainda assim, de forma despretensiosa é uma boa pedida para quem gosta de gore bem aplicado e ainda com um certo clima do filme clássico de 1974.