FORO ÍNTIMO, estreia nesta quinta-feira (26) nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Palmas e Teresina.
Depois de percorrer dezenas de festivais internacionais, nos quais angariou diversos prêmios como Melhor Filme Estrangeiro no London International Film Festival, FORO ÍNTIMO, primeiro longa-metragem do premiado diretor Ricardo Mehedff, chega aos cinemas brasileiros em 26 de setembro, com produção da VFilmes, coprodução da Hungry Man e distribuição da Embaúba Filmes.
A ideia do filme, segundo Mehedff que também assina o roteiro, surgiu a partir de uma matéria de jornal. “Em 2012 eu li uma matéria sobre um juiz federal do Mato Grosso do Sul, que foi forçado a viver dentro do fórum durante seis meses. Quando comecei a pesquisar, descobri que tinha um juiz em Porto Alegre que também havia sido ameaçado de morte e teve que dormir em seu local de trabalho, enquanto sua família havia sido realocada na Argentina, descobri também um outro caso desse em Manaus”. Para a construção da narrativa, o diretor conta que entrevistou um juiz aposentado que havia julgado um processo de tóxicos e entorpecentes, semelhante ao caso abordado no filme.
À época que o projeto começou a ser desenvolvido, ainda não haviam surgido as polêmicas em torno do sistema judiciário brasileiro. “Hoje, me espanta o quanto algumas cenas e situações se aproximam da realidade”, comenta Mehedff, que buscou fazer um filme aberto, retratando uma circunstância. “O filme traz a figura de um juiz, como um ser humano que faz coisas certas e erradas; algo que vem sendo, com toda razão, bastante questionado no Brasil. E levanta a questão da imparcialidade, ao mostrar um pouco da relação promíscua, antiética e corrupta que ocorre entre o juiz e o promotor do caso que está julgando”.
FORO ÍNTIMO foi filmado todo no Fórum Lafayette, no centro de Belo Horizonte, durante o recesso do judiciário. Esse foi um dos desafios enfrentados pelo diretor. “Só tivemos três semanas para rodar o filme inteiro, o que é muito pouco tempo para um longa-metragem. Mas isto, na verdade, acabou sendo muito bom, pois me forçou a encontrar soluções criativas e acabou por ajudar a construir esse outro ‘personagem’ do filme, que é o Fórum Lafayette”, explica.
Desde o início, a intenção de Mehedff era fazer um filme em preto e branco e quando entrou no fórum esse desejo se confirmou: “as cores do Fórum, seus corredores, varas e banheiros são todas naquele tom bege/cinza, típicos de repartição pública. Os elementos arquitetônicos do Fórum também atiçaram mais ainda o meu desejo pelo P&B”.
O longa acompanha a rotina do juiz Dr. Teixeira durante 24 horas nas dependências do fórum, que se tornou sua casa há meses, onde se alimenta, dorme e toma banho. Ameaçado de morte por criminosos sob seu julgamento, ele se encontra refém do sistema legal, vivendo constantemente vigiado e acompanhado por seguranças da polícia federal.
Gustavo Wernek, ator com ampla carreira no teatro, dá vida ao protagonista. A escolha se deu sem a realização de testes, como lembra o diretor: “eu já conhecia e admirava seu trabalho. Por acaso, ele estava em cartaz em Belo Horizonte com a peça Sarabanda, adaptação do filme do Berman, e assistindo à peça, eu soube que ele era o ator certo para o filme. Convidei, ele aceitou de pronto e mergulhou de cabeça no personagem. Frequentou comigo o Fórum Lafayette e chegou a passar alguns dias com um juiz, numa vara criminal, para sentir e entender o dia-a-dia”.
A pompa e imponência da arquitetura moderna do Fórum Lafayette, o personagem coadjuvante, é contraposta com a reconhecida divisória de repartição pública e as pilhas de processos nos corredores. O juiz, cada vez mais encurralado, parece estar na iminência de perder o controle de suas próprias emoções, quando a pressão do seu cotidiano atual coloca em xeque sua normalidade psicológica, criando ciclos que podem ter acontecido ou serem apenas imaginação de sua mente abalada.
Neste momento, em que o judiciário se tornou protagonista do noticiário brasileiro, o diretor comenta sua expectativa em relação a FORO ÍNTIMO: “Gostaria que o filme instigasse, para além de uma discussão política, uma reflexão sobre o sistema judiciário brasileiro e todas as suas contradições. Após frequentar diversos Fóruns de justiça e conversar com inúmeros magistrados, enxergo o sistema judiciário em um estado de adoecimento, por vezes incapaz de agir de forma clara e imparcial”.
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