O documentário Maria Luiza, dirigido por Marcelo Díaz, com produção da Diazul de Cinema, será exibido no ‘TranScreen”, festival com temática transgênero que acontece de 30 de maio a 2 de junho em Amsterdã, na Holanda.
O filme será exibido dia 30 de maio, dentro do programa Brasil em Foco. O ‘TranScreen” é um festival feito por e para pessoas transgênero e seus apoiadores. Ele apresenta em sua programação uma ampla gama de filmes de diversas cinematografias que debatem o gênero trans e outras questões que se cruzam com essa experiência, como identidade, raça, idade, nacionalidade ou tradição.
No Brasil, ‘Maria Luiza’ foi exibido na última edição do Festival É Tudo Verdade e deve estrear comercialmente no segundo semestre de 2019 pela Olhar Distribuição.
O filme retrata a história de Maria Luiza, cabo da FAB durante 22 anos e aposentada por invalidez, após assumir sua condição de transexual. O filme aborda os conflitos, as desilusões e as conquistas da cabo em seu processo de busca de identidade como transexual. Investiga os motivos pelos quais foi impedida de continuar a exercer sua atividade militar como mecânica de aviação e realizar seu sonho: vestir a farda feminina.
Movido por histórias de transformação pessoal e que de alguma forma questionam o status quo, o diretor conheceu a situação de Maria Luiza através de uma reportagem do jornal Correio Braziliense. “Há quase dez anos atrás, Maria Luiza me recebeu em seu apartamento no Cruzeiro, cidade-satélite de Brasília, de forma muito afetuosa. Ficamos horas conversando. Fiquei extremamente impactado pela história que ela me contou, desde sua vida pregressa em Ceres, interior de Goiás, seu sonho em trabalhar com aviação na FAB, até sua luta por continuar na Aeronáutica, como mulher trans, passando pelos bastidores da vida militar, o casamento, a filha e o processo de mudança de gênero”, ele explica.
Maria Luiza nasceu em Ceres (GO) como José Carlos, mas nunca se reconheceu como uma figura masculina. Curiosamente era o dia de Santos Dummont, patrono da aviação brasileira. Quando completou 18 anos prestou o serviço militar e entrou para a FAB, onde trabalhou durante 22 anos como cabo. Enquanto servia na área de mecânica de aeronaves na Base Aérea de Brasília, revelou seu desejo pela mudança de sexo. Após muitas passagens por médicos e psicólogos da Aeronáutica, em 1998 recebeu o diagnóstico de transexual e em 2000 o comando decidiu que ela deveria se aposentar com a metade do soldo que recebia na época.
Pediu ajuda ao Ministério Público e deu início a um longo processo pelo reconhecimento de sua identidade como mulher trans. Em 2005 ela fez a cirurgia de transgenitalização e em 2007 corrigiu gênero e nome nos documentos civis. Apenas um ano depois foi emitida sua nova identidade militar como Cabo Maria Luiza, fato sem precedentes no país.
As filmagens duraram ao todo 2 anos, em períodos espaçados. Foram inúmeros encontros com Maria Luiza, desde a fase de pesquisa até as filmagens. “Ela é uma pessoa com uma vivência e força tão impressionantes e de uma simplicidade e profundidade inspiradoras que sempre dá vontade de estar por perto. Tenho certeza de que qualquer pessoa que tiver a oportunidade de ver o filme poderá sentir-se tocada pela história e pelo que simboliza para o tema da identidade de uma maneira mais ampla”, conta Marcelo.
Além da habitual dificuldade para levantar financiamento para produzir o filme, outro grande desafio encontrado ao longo de todo o processo foi acessar o universo militar onde Maria Luiza ao longo desses 22 anos de serviço. “Um grande sonho de Maria Luiza era vestir a farda feminina e eu queria muito registrar isso de alguma forma. Mas a realidade às vezes é mais dura. Maria Luiza não pode voltar à ativa e usar a farda feminina”, complementa o diretor.
“Maria Luiza” estreia comercialmente em 2019, foi realizado com recursos do FAC (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal) e será distribuído no Brasil pela Olhar Distribuição.