Não é apenas rumor, agora é oficial. A Disney comprou partes do gigantesco conglomerado midiático conhecido como Fox pela singela quantia de 52.4 bilhões de Trumps. Valores que impressionam quem vê de fora, mas que são normais em negócios dessa magnitude. Mas no meio de toda celebração e teorias de como Deadpool, X-Men e Quarteto Fantástico serão inseridos no MCU, existe um lado preocupante. A Disney, mais do que nunca, tem o poder de ditar as regras do jogo.
O comunicado disponível no site oficial da empresa revela que os canais de TV FX, Twentieth Century Fox Television e Fox21, além dos braços voltados para o cinema como Twentieth Century Fox Film, Fox Searchlight Pictures e Fox 2000 agora são do Mickey Mouse. Sem contar as ações que a Empresa da Raposa possuía no serviço de streaming Hulu. E até os canais Fox Sports entram no meio (vale lembrar que a Disney já é dona da ESPN). Não é segredo que o público anseia pela variedade de conteúdo, o que explica a ascensão de concorrentes da Netflix. E ter tudo no mesmo lugar parece a melhor opção. Mas o histórico recente da Empresa do Sr. Walt mostra que o buraco é bem mais embaixo.
Em 2015, a Disney tentou cobrar mais das redes de cinema para que exibissem Vingadores: Era de Ultron. A iniciativa acabou sendo sufocada. No entanto, o mesmo acontece agora com Star Wars: Os Últimos Jedi. Com o agravante de um período de exibição exclusivo de quatro semanas. São valores que não chegam a doer no bolso das grandes redes, mas que pesam muito para os cinemas menores. Pelo menos nos EUA, já que por aqui estamos acostumados com grandes lançamentos dominando os horários e salas. Se com “apenas” Marvel e Lucasfilm nas mãos, a Disney já arquitetou esse tipo de estratégia, não é difícil vislumbrar o que pode acontecer com essa injeção de conteúdo exclusivo. Afinal, existe um abismo de acordos entre as filmagens e o lançamento de um longa. O que vemos é apenas a ponta de tudo isso.
Embora exista a brincadeira de que a Disney compra as críticas positivas de veículos de comunicação sobre os filmes da Marvel, a empresa não possui uma boa relação com alguns deles. Depois que algumas reportagens do Los Angeles Times revelaram que a Casa do Pato Donald não pagava os devidos impostos de seus parques na cidade de Anaheim, o jornal foi cortado de futuras exibições de imprensa. O movimento foi criticado por outros veículos como The Guardian, The Washington Post e The New York Times, além de associações de críticos que ameaçaram não considerar os filmes da Disney (com Pixar e tudo mais no meio) para vindouras premiações. Claro que a empresa acabou recuando na decisão. Mas mostrou ao mundo que não sabe lidar com as críticas e tem dificuldade de assumir os erros.
No lado do streaming, a disputa é ainda mais animalesca. Netflix e Amazon lideram o mercado, mas dormem com um olho aberto para os concorrentes. O Hulu, que agora terá a Disney envolvida, já é uma realidade. A HBO finalmente acordou e liberou o HBO GO para todos que não possuem TV por assinatura. Cada uma dessas empresas compreende que o conteúdo exclusivo é o que realmente importa. Por isso existe a briga para adquirir o diferencial. Com seu próprio serviço de streaming anunciado, a Disney ganha mais poder no mercado com a inclusão de programas de peso como Os Simpsons. Sem contar que elimina consideravelmente o número de pessoas com quem tem que negociar direitos de exibição. Algo que ainda tira o sono da Netflix, por exemplo. Já a Fox parece entender como o mercado funciona.
Se você não tiver o poder para comprar tudo, precisa focar naquilo que se destaca. Por isso a empresa manterá seu patrimônio jornalístico, com muito mais tempo e dinheiro para investir. O que não necessariamente é uma boa notícia, mas o foco aqui não é esse. Ainda não é possível cravar se a Disney pretende adotar uma postura agressiva, expandido o catálogo para o mundo, mas no mercado dos EUA será difícil manter a competição. Para o público, será mais uma opção de entretenimento infinitamente mais barato que as TV’s por assinatura. Mas se onda de cortar os cabos continuar, toda essa demanda de clientes deve elevar os preços. E que tem mais a oferecer, certamente deve cobrar um valor equivalente.
Esse tipo de compra não é algo inédito nos EUA. Desde o ano passado a AT&T anunciou que ia adquirir o conglomerado da Time Warner (que entre seus atrativos estão Warner, HBO e outras mais). Um negócio de 85 bilhões de Trumps que ainda enfrenta alguns empecilhos judiciais. Algo que provavelmente deve acontecer com Disney e Fox. Curiosamente, a Fox tentou comprar a mesma Time Warner tempos atrás.
É impossível ficar indiferente diante de todas as possibilidades que podem surgir dessa aquisição. O futuro é promissor, mas ainda cercado por uma nuvem de incerteza. Não é que a Disney seja o mal do mundo reencarnado, mas como bem disse o tio do único super-herói que o Mickey ainda não comprou – pelo menos em partes – com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.