Curta “Travessia” abrirá sessões de “Baronesa”

Com distribuição da Sessão Vitrine Petrobras, produção garimpa fotos de mulheres negras para destacar o ‘apagamento’ da população negra diante da sociedade

A ausência de fotografias da bisavó e da avó materna da diretora Safira Moreira foi o que a inspirou para fazer o curta “TRAVESSIA”, que abrirá as sessões do filme “BARONESA”, de Juliana Antunes. Com estreia no dia 14 de junho, o curta aborda a presença da ausência.

–  Travessia é o curta que realizei a partir da memória estilhaçada, fruto do apagamento histórico da população negra no Brasil. Por eu ser agora uma mulher negra com uma câmera na mão e muitos sonhos no peito, que o curta se fez. Foi no gesto de garimpar fotografias de mulheres negras nas feiras de antiguidade do Rio de Janeiro que encontrei a fotografia que abre o filme, todas as fotos que encontrei nesse espaço provinham de álbuns de famílias brancas, logo, elas refletiam esse apagamento – declara a diretora.

Segundo Safira, a oportunidade de exibir o curta em circuito comercial é um “ato revolucionário”. “É fazer tremer as estruturas, e dizer que o sonho de um cinema genuinamente brasileiro – que incorpore todas nossas possibilidades de existência – é possível.  É agradecer a existência das mulheres negras que vieram antes de mim, e que me possibilitaram ser, e o mais importante: sonhar. Travessia parte da dor e da ausência, mas encontra caminhos de cura”, diz.

Foto Caíque Mello

O curta será exibido antes das sessões do filme “BARONESA”, de Juliana Antunes, que mostra o dia a dia de duas vizinhas e amigas que moram na periferia de BH. De um lado, Andreia começa a construir sua casa para se mudar. Do outro, Leid e os filhos estão à espera do marido, que está preso. Em comum, a necessidade de se desviar dos perigos da guerra do tráfico e a estratégia para evitar as tragédias trazidas como consequência.

– Quando me mudei para Belo Horizonte, recebi a seguinte recomendação: eu poderia pegar quase todos os ônibus azuis, mas deveria ter cuidado com os vermelhos. Comecei a pesquisar mais sobre os bairros, a história deles e, por fim, entrar nos ônibus a fim de conhecer um por um. Os anos foram se passando e o interesse de tornar tal experiência em filme se consolidou na matéria de documentário na universidade. Voltei aos bairros procurando por mulheres que estivessem interessadas em participar de um filme usando um método de abordagem clássico: saí, junto com mais duas amigas (Marcela Santos e Giselle Ferreira) pregando cartazes nas ruas com os dizeres: procuram-se mulheres interessadas em fazer um filme – relata Juliana.

A abordagem inicial, no entanto, não funcionou, e a diretora precisou adotar uma nova tática: colar um cartaz estrategicamente ao lado de um salão de beleza. “Dois anos se passaram até encontramos um salão no bairro Juliana que era interessante e as donas estavam superabertas à ideia do filme. O ‘salão da Pâmela’ se tornou o meu ponto de partida para o roteiro que se baseava no cotidiano do salão e nos bairros vizinhos, Juliana e Jaqueline”, conta a diretora.

Andreia, uma das protagonistas do filme, no início se mostrou reticente com a ideia de participar do longa. Juliana, então, decidiu filmar o dia a dia de Pâmela e sua família e, para isso, mudou-se para casa da dona do salão junto com uma equipe de quatro mulheres. “Neste mês, Andreia resolveu nos dar uma cena na qual fazia as unhas da Pâmela. Depois disso, mostrei os brutos para ela, que topou fazer o filme com a seguinte condição: a de que eu me mudasse para a favela, pois ela não poderia me dar todo o seu tempo e nem saber com antecedência quando poderia gravar. Aluguei um barracão de 30m² para eu morar sozinha e lá fiquei por seis meses, com visitas semanais da equipe”. 

Segundo Juliana Antunes, que também assina o roteiro do filme híbrido, a história era escrita diariamente, muito em função dos acontecimentos imprevisíveis da vida na periferia. “No exato dia da minha mudança, por exemplo, uma guerra entre traficantes locais se anunciou (a guerra segue até hoje) e mudou completamente os rumos do projeto”, revela.

Mas, ainda assim, a diretora conta que as maiores dificuldades não estavam nas locações em si, e sim, na necessidade de “autorização masculina”. “Maridos, irmãos, namorados tinham que concordar com filme para que as mulheres pudessem gravar. Perdemos a oportunidade de gravar várias outras mulheres pela misoginia. Infelizmente, o material bruto é repleto de ‘takes únicos’ de mulheres brilhantes que tiveram o processo interrompido por eles”. A guerra entre facções rivais também foi uma adversidade, prologando a conclusão do projeto por seis anos, com seis meses de filmagens espaçadas.

Por fim, Juliana acredita que BARONESA endossa o coro de movimentos que dão vozes às mulheres e lutam contra as desigualdades de cunho racial, social, regional e salarial. “O filme surgiu da união de várias mulheres em todas as suas etapas, desde amigas, como Marcela Santos e Giselle Ferreira, que fizeram a pesquisa, assistência de direção e som até as sócias Marcella Jacques e Laura Godoy, que são duas mulheres incríveis e talentosas. E o filme só foi possível por isso: pela nossa união, por acreditar em um projeto para lá de ousado e que sim, se pode fazer um filme, um livro, uma cidade, um país e uma lógica de mundo diferente. Basta colocar as nossas energias nisso e nos fortalecer”. 

SINOPSE 

Andreia quer se mudar. Leid espera pelo marido preso. Vizinhas em um bairro na periferia de Belo Horizonte, elas tentam se desviar dos perigos de uma guerra do tráfico e evitar as tragédias trazidas junto com a chuva.

LISTA DE FESTIVAIS E PRÊMIOS :: TRAVESSIA

SEMANA FESTIVAL DE CINEMA:
JÚRI OFICIAL: Grande Prêmio do Júri
JÚRI DE ESTUDANTES AUDIOVISUAL: melhor curta-metragem
JÚRI DA CRÍTICA PELO COLETIVA ELVIRAS: prêmio especial do júri

JANELA INTERNACIONAL DE CINEMA DO RECIFE:
JÚRI OFICIAL: melhor montagem
JÚRI JANELA CRÍTICA: melhor curta-metragem
MENÇÃO HONROSA PELO JÚRI ABD-PE

PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA:
JÚRI JOVEM: melhor curta-metragem

FESTIVAL DE CINEMA LUSO-BRASILEIRO DE SANTA MARIA DA FEIRA:
JÚRI OFICIAL: Prêmio revelação 2018

FRONTEIRA FESTIVAL:
JÚRI OFICIAL: menção honrosa

LISTA DE FESTIVAIS E PRÊMIOS :: BARONESA

20a. MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES – MG (Jan. 2017) – Melhor Filme Mostra Aurora e Prêmio Helena Ignez Destaque Feminino (Direção de Fotografia – Fernanda de Sena)

IV FRONTEIRA – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental – GO (Mar. 2017)

6.º OLHAR DE CINEMA – Filme de Encerramento – PR (Jun. 2017)

40.º FESTIVAL GUARNICÊ DE CINEMA – MA (Jun. 2017)

MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO LUIS – MA (Jul. 2017) – Prêmios de Melhor Atriz (Andreia Pereira de Sousa) e Melhor Montagem

III PIRENÓPOLIS DOC – GO (Ago. 2017) – Melhor Filme pelos Júris da Crítica e Jovem

VIII CACHOEIRADOC – BA (Set. 2017)

50.º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO – DF (Set. 2017)

24.º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA – ES (Set. 2017) – Prêmios de Melhor ContribuiçãoArtísticaMelhor Roteiro e Melhor Filme (Júri Técnico).

XIII PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA – BA (Nov. 2017) – Prêmio IndieLisboa

X Janela Internacional de Cinema do Recife – PE (Nov.2017) – Menção Especial na MostraCompetitiva de Longas

9.ª SEMANA – Festival de Cinema (Nov. 2017) – Melhor Montagem

4.ª MOSTRA DE CINEMA DE GOSTOSO – RN (Nov. 20178)

FORUM.DOC.BH 2017 – 21.º Festival do Filme Etnográfico e Documentário – MG (Dez. 2017)

12.º  FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino (Dez. 2017) – Melhor Destaque Feminino na Competição InternacionalMelhor LongaMetragem pelo Juri Elviras ePrêmio Especial do Júri da Competição Nacional.

28.º   FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE MARSEILE – FID MARSEILLE – 3 prêmios de público: melhor Filme pelo Júri Popularo Prix Marseille Espérance e o Prix RenaudVictor – em júri composto pelos detentos do Centro Penitenciário de Baumettes(França, Jun. 2017)

24.º  FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE VALDÍVIA . FIC VALDÍVIA – Melhor Longa-Metragem pelo Júri da Crítica. (Chile, Out. 2017)

23º FESTIVAL DE CINEMA DE HAMBURGO (Alemanha, Out. 2017)

22.º   FESTIVAL INTERNACIONAL DE OURENSE – Melhor Ópera Prima e Melhor Filme pelos Cineclubistas (Espanha, Out. 2017)
VIENALLE – Vienna International Film Festival – (Áustria, Nov. 2017)

REENCONTRES INTERNATIONALES DU DOCUMENTAIRE DE MONTRÉAL – (Canadá, Nov. 2017)

32.º  FESTIVAL INTERNACIONAL DE  MAR DEL PLATA – Melhor Longa-Metragem pelo Júri daCrítica na Competição Latinoamericana. (Argentina, Nov. 2017)

7a MUESTRA DE CINE DE LANZAROTE (Ilhas Canárias – Nov. 2017)

39.º FESTIVAL INTERNACIONAL DEL NUEVO CINE LATINOAMERICANO – Melhor Documentário(Cuba, Dez. 2017)

8.º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE UNAM – FICUNAM (México, Fev. 2018)

AMBULANTE DOCUMENTARY FILM FESTIVAL (México, Mar. 2018)

GRABA MENDONZA – Festival Audiovisual Latinoamericano – (Argentina, Mar. 2018)

PUNTO DE VISTA INTERNATIONAL DOCUMENTARY FILM FESTIVAL – (Pamplona, ESP – Mar. 2018)

IBAFF – Festival Internacional de Cine de Murcia (Espanha, Mar. 2018)

8.º FEMCINE – Festival de Cine de Mujeres (Chile, Mar.2018)

ART OF THE REAL , Film Society – Lincoln Center (NYC, Abr. 2018)

19.º JEONJU INTERNATIONAL FILM FESTIVAL (Korea, Mai. 2018)

14.º INDIE LISBOA (Portugal, Mai. 2018)