Depois de fazer sua estreia mundial na última edição do Festival de Cannes, onde ganhou o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard, “CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS”, de João Salaviza e Renée Nader Messora, chegou ao circuito comercial francês no último final de semana, conquistando público e crítica.
O filme, que já ganhou doze prêmios e esteve em mais de 60 festivais internacionais, recebeu nota máxima da crítica especializada. O Le Monde, principal jornal do país, publicou uma matéria de página inteira sobre a produção, na qual escreve que “natureza e magia são tão intimamente ligadas que cada evento captado pela câmera ganha um brilho maravilhoso”.
De acordo com o Journal du Dimanche, o longa é “esplêndido e comovente”, o Les Inrockuptibles o colocou como “um filme que nos enfeitiça desde os primeiros planos”, e o Cahiers du Cinema escreveu que “CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS” é “um filme com uma vibração única, cheio de evocações mágicas e brilhos fugazes”.
O público francês também foi envolvido pela obra. Segundo a Ad Vitam, distribuidora local, mais de 11 mil expectadores já assistiram à produção e a expectativa é que ultrapasse os 15 mil na primeira semana.
Rodado ao longo de nove meses na aldeia Pedra Branca (Terra Indígena Krahô, no Tocantins), em negativo 16mm, “CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS” acompanha Ihjãc, um jovem Krahô, que após um encontro com o espírito do seu falecido pai, se vê obrigado a realizar sua festa de fim de luto. Rejeitando seu dever e com o objetivo de escapar do processo de se transformar em xamã, ele foge para a cidade, onde enfrentará a realidade de ser um indígena no Brasil contemporâneo.
As filmagens foram precedidas por uma longa relação de Renée com o povo Krahô, que se iniciou em 2009. Desde então, a diretora (também fotógrafa do filme) trabalha com a comunidade, participando na mobilização do coletivo de cinegrafistas indígenas Mentuwajê Guardiões da Cultura. O trabalho do grupo é focado na utilização do audiovisual como instrumento para a autodeterminação e o fortalecimento da identidade cultural. Em 2014, João Salaviza conheceu os Krahô e, juntos durante longas estadias na aldeia, começaram a imaginar o que viria a ser o filme.
“O filme é inspirado na história real de um desses jovens cineastas indígenas, que em uma das nossas viagens à aldeia, começou a se sentir fraco e assustado porque um pajé tinha jogado um feitiço nele. Se ficasse na aldeia, ele achava que iria morrer, então fugiu para a cidade. Este caso, que acompanhamos muito de perto, foi o disparador. Depois, com a nossa convivência na aldeia, participando da rotina da comunidade, o filme começou a ganhar novos contornos. Quando finalmente decidimos que Ihjãc seria o protagonista, ele também trouxe todo o seu núcleo familiar, suas questões cotidianas e sua maneira muito particular de se relacionar com o mundo. Então, o filme foi se moldando, ancorado numa forte presença de elementos reais, do dia a dia na aldeia, naquele núcleo familiar específico. Queríamos filmar a intimidade daquela família”, lembra a diretora. Todo esse tempo partilhado com os Krahô, levou os realizadores à convicção de que não seria possível fazer esse filme com um modelo de produção convencional.
“O que mais aprendemos nessa relação com os Krahô foi a respeitar o tempo das coisas. Você não pode controlar tudo. Na aldeia, nosso filme era tão importante quanto lavar roupa, ir colher mandioca ou fazer reunião no pátio. Não era especialmente importante para ninguém. Nós também passamos a encarar o filme com esta perspectiva. O importante era justamente estar ali, 100% presente, vivendo aqueles dias com aquelas pessoas e tentando contribuir de alguma forma. Para isso, precisávamos de tempo”, finaliza Nader.
“CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS” é produzido por Ricardo Alves Jr. e Thiago Macêdo Correia, da EntreFilmes (responsável pela produção do longa Elon não Acredita na Morte), em coprodução com a portuguesa Karõ Filmes e a Material Bruto, de São Paulo. O longa é distribuído no Brasil pela Embaúba Filmes.
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