A tradicional animação do elefante voador foi a quarta produção em longa da Disney e foi lançada em 1941. A história original vem do livro de Helen Aberson e Harold Pearl que dizem ser baseada em um pequeno livro caixa com slides chamado “rool-a-book”, que não se tem mais cópias. Quando a Casa do Mickey teve conhecimento do livro “Dumbo o elefante voador” comprou seus direitos e produziu a animação.
Tanto como o próprio elefante que voa, sua história foi desejada por grandes mestres do entretenimento. Essa curiosidade metalinguística acabou caindo no colo de Tim Burton, diretor do filme live action de “Dumbo” que estrou nas telas do cinema no final de março de 2019.
“Dumbo” entra para o seleto grupo de filmes live action (ou seja com atores reais), baseados em consagradas animações clássicas, produzidos pela Disney na última década. “A Bela e a Fera”, “O Rei Leão” e, mais recentemente, “Alladin” me fazem pensar se essa “modinha” veio para ficar. Até que ponto essas novas leituras trazem algo de novo para as histórias ou são meras tentativas de reproduzir emoções e lucros alcançados pelas grandes animações?
No caso de “Dumbo”, ainda não podemos refletir sobre seus lucros com clareza, é muito cedo (apesar de que temos uma pequena mostra deste sucesso aqui no Cosmonerd). Porém, assisti-lo no cinema ao lado de centenas de crianças e seus pais, como foi o meu caso, sinaliza que a reprodução das emoções que a animação causou ao longo de anos pôde ser revisitada e atualizada.
A direção de Tim Burton e um roteiro, com alguns clichês típicos da Disney, somam forças para causar os aplausos e gritos abertos de euforia quando o elefante começa a voar. Além disso, o elenco com grandes estrelas como Danny DeVito, Michael Keaton, Colin Farrel e a incrível Eva Green ajudam a dar força a história.
A estética de Tim Burton e sua experiência com animação também ajudam demais. As cores e a homenagem a arte circense que o filme consegue fazer é espetacular. A produção incluiu artistas circenses de diversas partes do mundo para o casting e, o que pode parecer apenas uma cereja no bolo, mostra a profundidade de recriar o mundo de Dumbo com toques de requinte. Em alguns momentos, o filme parece um pouco escuro em boa parte das cenas o que, ao meu ver, pode dificultar a retenção de atenção do público infantil, algo cada vez mais difícil na modernidade. Para contrapor essa força, o filme conta com o próprio “Dumbo” que é extremamente carismático sem dizer uma palavra. Nem todo animal precisa falar em filmes, Dumbo me dá essa certeza. E no live-action, Dumbo é um personagem animado, claro que sim, com alta tecnologia de computação gráfica o que prova que essa separação entre animação e live action é quase impossível.
Aliás o filme tem diversas referências a animação original de 1941, como a cena dos elefantes alucinantes cor de rosa, as cegonhas, o desfile do circo e o número de Dumbo com os palhaços, mas o filme vai além. Até porque, a animação original tem apenas 64 minutos e foi o menor orçamento da Disney. Isto por causa da guerra e dos recentes fracassos financeiros com “Pinóquio”, o longa anterior.
“Dumbo” emociona, é bonito esteticamente e seu roteiro, apesar dos clichês, inova ao não evidenciar nenhum par romântico na história, preservando o tom pueril e singelo que é o que as crianças mais precisam.